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O indivíduo na sala, ao qual não me recordo o nome, ficou parado observando. Imaginei que ele poderia estar nos interpretando mal. Poderia facilmente dizer para os nossos superiores que a nossa relação ia contra as regras no ambiente de trabalho, ou pior, a jugar pela sua índole, ele acabaria usando isso a seu favor para ter seu antigo cargo de volta e ainda nos chantagearia. Isso, eu jamais aceitaria. Então comecei a agir.

Usei todos os tipos de táticas para gesticular para Kai, até mesmo tentei soltar nossas mãos. Mas nada parecia funcionar, o que já era de se imaginar. Esse grande bebezão morre de medo de que eu fique zangada ou chateada com alguma coisa que ele faça e não importa o que eu diga, ele sempre vai reagir como se tivesse cometido o pior dos crimes possíveis. Kai é estranhamente apegado a mim, como se eu fosse uma irmã mais velha. Acho que ficou assim por ser filho único.

— Tudo bem, ao menos alguém se divertiu.— Ao ouvir isso, Kai soltou as minhas mãos e abriu um sorriso. Ele é estranhamente fofo, apesar desse porte físico monstruoso, devo admitir.— puniu bem o infrator? — gesticulei com as sobrancelhas.

— Com toda certeza. Não teremos que nos preocupar com ele por um bom tempo.— sorriu, esbanjando toda aquele sentimento de prazer que só nós dois sentimos quando lidamos com certos tipos de infratores.

— Dois psicopatas.— o frango soltou baixo, acreditando que passaria despercebido. Mas nós conseguimos ouvir e quando Kai virou o rosto em sua direção, ele deve ter imaginado que tivesse assinado sua própria sentença de morte.— não, não, eu não queira dizer isso.— começou a gaguejar, seu corpo estava tremendo enquanto o suor começava a ficar evidente.

— Quem é você? — Kai estava confuso, afinal, havia um estranho ocupando o lugar dele. Esse estranho tinha bagunçado toda a sua mesa, o que era inacreditável. Ninguém seria tão desagradável ao ponto de bagunçar e roubar a mesa do novato.

Que ser insensível, Kai deduziu enquanto dava um jeito em sua aparência.

Aparentemente o frango se deixou levar pela arrogância e esqueceu que quando ele gritou com o pessoal do RH, ele se autodemitiu por justa causa.

— Não se importe com ele. Vamos patrulhar hoje.— digo sorrindo feito uma criança, era a segunda vez em que recebíamos uma missão dessas.— os lugares onde fizemos as patrulhas reduziram significativamente o número de ocorrências.

Era uma vitória para mim, apesar de parecer bobo. Só de saber que as pessoas podem ter mais segurança ao andar pelas ruas, me traz o sentimento de satisfação e prazer pelo trabalho bem feito.

É por essas que eu preferia estar nas ruas, do que ficar com a cara enfiada numa tela de computador, digitando coisas o dia todo. Kai parecia ser como eu, ele se divertiu tanto quando nós demos aquela "lição" nos delinquentes locais. As conversas estranhas que a gente tinha dentro da viatura enquanto observamos o movimento da rua, até mesmo as reações das crianças quando viam Kai dar tudo de si para salvar um gato preso na árvore. Era tudo que sempre desejei.

— Legal.— Kai respondeu, mas não foi da forma que eu estava esperando, ele parecia estar chateado demais com a bagunça em sua mesa para comemorar que sairíamos daquele lugar para patrulhar.

— Senhor, poderia fazer o favor de arrumar esta mesa? Meu parceiro detesta desorganização.

Agarrei o braço de Kai, tentando mover aquele homem enorme para fora daquela sala. Mas ele não queria cooperar, não, seus olhos verdes estavam fixos na mesa bagunçada. Estava começando a ficar nervosa, já que o meu ex parceiro estava a ponto de ter um ataque cardíaco só de estar sentindo a presença de Kai. E o meu atual parceiro parecia estar preparado para acabar com a existência dele.

Me posicionei atrás de Kai, tentando chamar a atenção do frango para mim. Por sorte, ele sabia se comunicar por linguagem de sinais, o que foi um alívio para mim. Sinalizei três palavras: "mesa","arrumar" e "rápido". E ele entendeu, pois começou a se movimentar feito um flash.

— Me desculpe.— disse se curvando em direção a Kai, saindo pelos cantos, quase ficando colado na parede enquanto passava próximo ao corpo estável de Kai.

Depois dessa experiência, diria que ele não iria aparecer mais nessa delegacia por um bom tempo.

— Kai.

— O quê? Eu fiz de novo? — um bico singelo se formou em seus lábios.

— Fez.— Observei seu corpo encolher, era como se um filhote de golden estivesse sendo repreendido pelo seu dono.

— Droga. Sinto muito por assustar seu amigo.— abaixou sua cabeça, provavelmente envergonhado pela forma que agiu agora pouco.

— Fique tranquilo.— coloquei minha mão em seu ombro, atraindo sua atenção para mim.— ele mereceu. — sorri. Kai respirou aliviado. — agora vamos patrulhar, meu parceiro.— Voltei a puxar seu braço, dessa vez ele saiu do lugar.

— É a minha vez de dirigir.— comemorou brincando com as chaves da viatura entre os dedos.

— Não é. É a minha.

— Diana.— resmungou baixinho.— você quase atropelou três delinquentes da última vez.— fez aquela expressão dele de quem sabe que está correto na conversa.

— E você dirige feito uma senhora aposentada.

— Ei.— reclamou ofendido.— eu gostaria de viver para me aposentar.

— Você é sem graça.— reclamei.

— Eu sou realista. Não pense que só por que sou desse jeito.— apontou para si.— vou sair vivendo perigosamente.

Soltei seu braço e acelerei meus passos para chegar primeiro ao estacionamento. Assim que cheguei ao lado do veículo, fiquei esperando Kai aparecer, pude ouvi-lo contendo suas risadas.

— E eu é quem sou infantil.

Ouvi as portas do carro destravando, sem paciência, entrei no veículo e fiquei esperando meu parceiro entrar.
Após uma breve troca de olhares entre mim e ele, Kai finalmente entrou no carro e começou a dirigir até o nosso destino.

— Você me faz agir assim.— suspirei.

E realmente, esse estranho me fazia agir dessa forma. Mal nos conhecemos, mas já agíamos como se fossemos melhores amigos. Que Kate nunca descubra a existência dele, ou ela provavelmente vai ficar possessa de ciúmes.

— Então. Nossa rota de hoje pode te animar um pouco.

— Tanto faz.— falei enquanto observava o tempo nublado pelo vidro da janela.

— Birra não combina nada com você, senhorita Diana.

Senti um arrepio gostoso passar pelo meu corpo. Ele faz isso, provoca sem perceber o estrago que pode fazer em uma mulher. Até agora, pelo que conheço desse gigante sentado ao meu lado, ele é apenas um cara muito gostoso e muito inocente também. Fica difícil lidar com o clima dentro desse carro quando só eu fico excitada.

Não, preciso afastar esse tipo de pensamento. Diana, você precisa controlar melhor a sua líbido, não pode ver um cara grande que já fica parecendo um animal no cio. Se controle, para o seu bem.

De repente, memórias me vieram na mente.

— Algum problema? Eu falei alguma coisa que não deveria? — ouvi a voz trêmula de Kai, acabei me deparando com seu semblante preocupado.

— Não, você não fez nada.— toquei em seu ombro forçando um sorriso.— eu só estava pensando no passado. Só isso.

Vermelho - Kaoru HanayamaOnde histórias criam vida. Descubra agora