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Depois de quase meia hora tentando me livrar das perguntas de Kai, finalmente pude respirar e sair sozinha. Mesmo estando sob a mira de um Yakuza, algo dentro do meu peito ardia de tal forma que só uma caminhada pelo parque local conseguiu acalmar.

O lugar estava calmo, com pouco movimento e alguns casais ocupando os bancos. Decidi andar por ali, até que meu corpo decida se cansar para que eu possa me jogar na cama e dormir feito uma pedra.

Estava cansada mentalmente, abalada. Nunca imaginei que a partida de uma pessoa da minha vida, fosse me desestabilizar tanto. A ficha ainda não havia caído, por teimosa do meu cérebro, ainda acreditava que ela pudesse voltar, era inevitável não pensar em Kate.

— Diana.— Suspirei. Era a voz daquele Yakuza novamente.

Virei meu corpo na direção que sua voz ecoou. Lá estava ele, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça e o seu semblante sério. Esse cara, estava começando a me dar nos nervos. Não só ele, mas a gangue dele. Estão em todos os lugares, me observando a cada passo que dou, até tentam ser discretos, mas não conseguem passar despercebidos pelos meus olhos.

— Kaoru Hanayama.

— Interessante, temos algum tipo de progresso acontecendo.— começou a caminhar, vindo em minha direção.— geralmente sou só o Yakuza.

— E continua sendo. — resmunguei.— se veio me atormentar novamente, sinto muito, mas não vai conseguir nada.

— Sei disso.— parou, ficando frente a frente comigo. Creio que deve estar julgando até a minha unha do pé com todas essas encaradas.

— Então, o que está fazendo? Ou melhor, o que está esperando?

— Sabe muito bem o porquê de eu estar aqui.

— Devo imaginar que você está aqui para me matar e desmembrar o meu corpo? — um sorriso mínimo se formou em meus lábios, que não demorou muito para sumir.

— Que tipo de pessoa acha que eu sou?

Tentei analisar seu rosto, antes de formular algum tipo de resposta, mas seus olhos tomavam toda a minha atenção. Eram intrigantes. Passavam uma impressão de olhos femininos, o que não combinava nenhum pouco com o restante daquele corpo parrudo.

— Do tipo que só liga para os próprios interesses, presumo.

— Tem uma imagem equivocada de mim.

— Que pena, eu não ligo. — respondi com um certo tom de arrogância.

Talvez eu esteja pedindo para morrer ao desafiar esse cara, sei disso e aceito as consequências. Meu único desejo é que tudo isso não passe de um pesadelo. E que acabe logo.

Estava começando a ficar com dor no pescoço de tanto tempo que passei tentando olhar naqueles olhos, ele é enorme, apesar de termos pouca diferença de altura.
Meu coração estava acelerado, a adrenalina fluindo em meu corpo foi o que me deu coragem o suficiente para resolver reagir. Estava enojada só de estar dividindo o mesmo lugar que ele.

— Por que estão tão arisca? Por acaso não falou com Kate ainda?

Além de insuportável, agora esses Yakuza também são insensíveis. Devo estar sendo castigada por não pular aquelas sete ondas no réveillon. Só poderia ser castigo divino.

— Isso é um assunto meu, não lhe diz respeito. — me virei, pronta para começar a caminhar para bem longe.

— Não mesmo? — ouvi seu tom de voz mudar.— o marido de Kate é um dos meus sócios e ele vai comparecer a um dos nossos jantares comerciais.

Espere, então Kate se casou com um da mesma laia desse cara? Pobrezinha da minha amiga.

— E aonde quer chegar me contando isso?

Por que está entregando essas informações de bandeja para uma policial? Só pode estar ficando louco!

— Serei direito. Preciso de uma acompanhante, uma mulher.

— Contrate uma garota de programa! — falei alto. — Ou melhor, convide uma das socialites de Tokyo, elas não são as favoritas? Fúteis e facilmente manipuláveis. Acredito que vai se sair melhor com uma das duas opções que citei.

— Não é uma ocasião onde se possa levar qualquer uma.

O que significa que está querendo me levar para o abatedouro. Só consigo imaginar nessa possibilidade, caso contrário, não há explicação lógica para ser eu. A não ser... Não. Ele não chegaria tão longe assim.
Ok, devo admitir que fiquei com uma pulga atrás da orelha, mas não iria seder a qualquer coisa que diga. Não sou burra.

— Eu não vou. Sou tão desconhecida quanto as outras.

— Kisaki irá ajudá-la no que for necessário. Inclusive lhe instruirá corretamente.

Como de costume, disse o que queria e virou as costas, como se eu não tivesse permissão de dizer não. Poderia jurar que estava saindo fogo pelo meu nariz.

Sinta-se um cara de sorte, Kaoru Hanayama, minhas mãos não conseguiriam apertar esse pescoço grosso.

Fui para casa mais acabada do que quando sai. E quando cheguei, para minha surpresa, haviam mensagens de um contato desconhecido no meu celular. Também havia um arquivo enviado recentemente por um e-mail que também era desconhecido no computador que Kate havia me dado. Qualquer pessoa com um pouco de inteligência saberia que não se deve abrir esse tipo de arquivo, e foi o que fiz. Ignorei e fui tomar banho.

Enquanto penteava meus cabelos, o aparelho continuou a tocar. Irritada, atendi, entretanto, meu celular, que era de um modelo antigo, começou a travar e não saia mais áudio. Ainda assim consegui ouvir um pouco da voz da outra pessoa, antes do aparelho morrer de vez. E era Kisaki, reconheceria essa voz em qualquer um dos meus pesadelos.

Ainda receosa, voltei para o computador, procurando aquele arquivo. Encontrei o dito cujo, e no seu nome estavam as iniciais HK, logo suspeitei. Imaginei que estivessem a fim de raquear e roubar todas as minhas informações.

O grupo Hanayama estava fazendo da minha vida um verdadeiro inferno e toda essa situação lastimável poderia ser resolvida, se o chefe deles apenas me ignorasse. Mas, infelizmente, ele vem demonstrando esse interesse na minha vida.

— É, fugir não é uma opção.— conclui enquanto pensava.— entretanto, levar uma policial, a qual ele tem ciência de que pode acabar com todo o esquema deles, é muito arriscado.

Fiquei um tempo martelando essas informações na minha cabeça. Um Yakuza comum deveria fazer o possível para se manter discreto, ou a polícia poderia aparecer e estragar todos os seus negócios. É simples.

Essas informações parecem não se aplicar ao Yakuza em questão. Kaoru Hanayama não teme a polícia de Tokyo, muito menos o departamento de todo o Japão. Ele sozinho sustenta uma fama de delinquente mais forte de todo o Japão, também temos seus feitos comentários pelos meus companheiros de trabalho. Em resumo, esse homem é um ser quase intocável.

Tok, Tok... Duas batidas na porta principal atrapalharam meus devaneios.
Sem paciência, agarrei a arma que escondia em casa e caminhei vagarosamente em direção a ela.

— Diana, eu sei que está em casa. Precisamos conversar.

Kisaki estava do outro lado daquela porta e não me daria um segundo de paz se ela não fosse aberta.

🙏🏻 comenta aí minha gente, ajudem essa pobre autora com os seus maravilhosos feedbacks ❤️

Vermelho - Kaoru HanayamaOnde histórias criam vida. Descubra agora