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Kai havia partido, alguém da sua família estava precisando de ajuda. Ele se foi, deixando apenas o desejo em Diana.

— O quê? — ela resmungou para o próximo reflexo na janela.— sou apenas uma pobre mulher com a líbido nas alturas.
Constatou. Estava pronta para dormir, havia colocado até mesmo aquele pijama curto que tanto evitou, por culpa do frio. O relógio ao lado da cama marcava exatamente "01:30" da madrugada.
Por vários motivos ela não conseguia dormir. Sentia falta de Kate ao seu lado, sem ela, aquela cama parecia ser enorme e fria. E para contribuir, seu cérebro ainda estava processando as novas informações, o que acabava revisitando os acontecimentos do dia.

O que Kate diria se descobrisse que beijei um homem, depois de tanto tempo?

Apertou o travesseiro forte, enrolado as pernas nele, numa tentativa patética de enganar seu cérebro.

Aproveite enquanto ainda temos tempo.— a voz de Kate ecoava em seu cérebro.

Antes acreditava que sua amiga estava sendo exagerada ao se mudar para o mesmo apartamento que ela, vivendo 24 horas com a mesma pessoa. Agora, olhando para todo o ambiente, não conseguia sentir mais tão bem como era antes. Faltava a energia caótica de Kate.

— Espero que esteja bem, minha amiga.— Diana sussurrou. Seus olhos se encheram de lágrimas, antes que pudesse pegar no sono.

Kate Tokugawa

— Porra. Se alimente devidamente mulher! Ou o meu chefe vai me matar e pendurar as minhas bolas no meu pescoço.

Aquele cara estava começando a me aborrecer novamente, fazendo todo esse escândalo só porque comi alguns docinhos.

— Escute aqui. Não acha que está sendo ousado demais ao falar comigo dessa forma? — atirei a primeira coisa que alcancei em sua direção.— estou grávida, seu imbecil.

— Todos nós sabemos disso. Acha que o nosso chefe não nos deixou ciente disso?

Outra vez estava se alterando. O que esperar de um Yakuza? Eles não têm o mínimo do que se é necessário para conquistar uma lady como eu. Deve ser por isso que vivem amargurados. Falta de uma boa surra.

A Diana, como você faz falta.

— Escute aqui. Vá procurar alguém para te ajudar com toda essa sua amargura e me deixe dormir.— reclamei, massageando suavemente minha testa. Aquele inseto insignificante estava zunindo no meu ouvido desde que coloquei aqueles malditos chocolates para dentro.
Que culpa eu tenho? Estou grávida e senti desejo. Simplesmente isso.

— Não está no horário de dormir.

— Te chamar de burro seria uma ofensa ao coitado do animal.— resmunguei.— vou ter que explicar o óbvio para você? — questionei, esperando que ele conseguisse entender sem a necessidade de acabar com todo o meu juízo no processo. O que não aconteceu.— meu caro ser, desprovido de inteligência.— custei ao máximo para controlar a minha língua.— O seu chefe me trouxe do Japão para a Espanha faz pouco tempo, o que significa que meu corpo continua acostumado aos meus antigos costumes de lá. Ou seja, eu estou com sono!

Alguma coisa pareceu ter acontecido naquela casca oca que ele chama de cabeça, pois em questão de segundos fui deixada sozinha e finalmente pude deixar meu corpo relaxar nesse colchão macio. Mesmo estando um dia lindo do lado de fora, ainda não consegui me acostumar com essa nova rotina. E o meu "marido" não era dos melhores no quesito companheirismo, mesmo que esteja carregando seu filho. Aquele homem só aparece para saber como o bebê está e some.

Aonde foi parar aquele homem romântico que tanto chamou minha atenção? Não sabia. Aliás, não sabia de nada sobre ele, a não ser seu sobrenome, pois recentemente havíamos nos casado e agora não precisava mais usar o sobrenome da minha família. Kate Tokugawa deixou de existir no momento em que coloquei meus pés em Madri.

— Kate Rivera.— arrumei melhor os lençóis.— Acho que posso me acostumar com isso.

Enquanto isso, no Japão...

— Vocês são uns filhos da puta. Sabem disso, não sabem? — o mais alto reclamou. Se encontrava em uma situação lastimável. Foi obrigado a caminhar até o esconderijo devido o horário tardio, em baixo uma chuva.

— Por que, querido Kaizinho? — o menor do trio disse em tom de ironia, claramente não tinha medo de falecer.

Ele era um rapaz magricela, que não passava dos 1,65 de altura. Seus cabelos e rosto aparentavam estar sujos com algum tipo de poeira grossa, suas roupas, também estavam sujas com uma abundância dessa mesma sujeira.

— Deixe-o em paz, seu pirralho. — o mais velho resmungou acendendo outro cigarro

Os dois observaram Kevin, enquanto o mesmo resmungava caminhando pelo cômodo.

— Agradeço, Leo.— recebeu um aceno como resposta. Ele era um homem de poucas palavras. — o que aconteceu para precisarem de mim?

Leo era apenas um apelido, para agilizar a pronúncia do seu real nome, Leonardo. Pode parecer bobo, mas em alguns lugares a pronúncia desse nome parece até uma piada. Ele era o mais velho, tinha cabelos penteados para trás, enquanto usava um traje social ridiculamente apertado. Aparentava ser um CEO. Na verdade, era apenas um corretor de imóveis.

— O nosso esquema acabou.

Uma grande interrogação se formou na cabeça de Kai.

— O que significa isso? Como assim o nosso "esquema" acabou? — estava confuso.

— Tá vendo. Se não estivesse tão ocupado brincando de policial, talvez soubesse das coisas! — novamente Kevin estava atrapalhando a conversa. Acontece que ele havia ficado com a pior parte das opções de trabalho, ele era mecânico em uma região da cidade aonde só havia homens.

— Por que ele está tão azedo desse jeito?

— Sabe como ele é, provavelmente levou outro fora e adicionou a frustração quando recebeu a notícia da nossa saída de Tóquio.

Estava correto, Kevin mal teve a oportunidade de sair como aqueles dois faziam, pois sempre estava ocupado com algum tipo de serviço.

— Por que estaríamos saindo de Tóquio? O nosso alvo não está aqui?

— Está. Mas os nossos superiores estão de olho em outra opção melhor.

— Posso saber quem seria essa opção melhor?

Leo analisou o rapaz sentado a sua frente, desconfiando de alguma coisa.

— Estou começando a concordar com Kevin. Você não é assim, até parece que está a fim de ficar?

— Eu? Por que iria querer ficar aqui?

— Também não sei. Aquela mulher deve estar te esperando de pernas abertas.— Leo comentou. Fazendo a ficha de Kai cair de vez. Ele não era um policial, pelo menos não um que servia o Japão. Seu nome era Kaiden, servia aos Estados Unidos e só estava ali para cumprir sua missão.

— Dispenso, ela é um verdadeiro pé no saco.

— Ótimo. Ouviu isso não é, Kevin?

— Em alto e bom som.— Kai poderia jurar que a sua cara fosse rasgar a qualquer momento pelo tanto que sua boca se alargou com um sorriso macabro.

Vermelho - Kaoru HanayamaOnde histórias criam vida. Descubra agora