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— Então. Estava me dizendo que o gato do Yakuza... Digo, senhor Kisaki.— precisou se conter para não acabar dando início a outra discussão.— estava em sua posse por que sua amiga Kate. A sobrinha do velho que patrocina aquelas lutas, havia prometido que cuidaria do bichano.— Kai continuava desconfiando das informações, mesmo vindas da própria Diana.

— Isso.— concordou com um sorriso sem graça.

— Então não há problema. Só peça para que ele consiga outra pessoa para cuidar do gato.

A Kai, se soubesse o tamanho do problema.
Provavelmente estaria surtando.

A mente fértil deu início a alguns devaneios. Diana precisou se controlar para não acabar rindo. Em alguns dos seus pensamentos, se via lutando para carregar suas compras do mês em um braço, enquanto lidava com um gato enorme, de pelagem negra, com todas as características de Hanayama, inclusas. Até com o mesmo formato icônico dos olhos e a maneira como eles conseguiam afetá-la.

— Não precisa se preocupar. Eu sei lidar com ele.— respondeu, tomando outro gole daquele café quentinho. Mal sabia ele que Diana estava se referindo ao "gato" também.

— Sei disso. É uma das qualidades que admiro em você.

— Sério?

Diana havia questionado enquanto arrumava sua postura. Deixou a forma desleixada para assumir uma forma provocativa, mas sútil de se sentar. Kai engoliu aquele café com força, enquanto admirava aquela mulher. Ele sentiu sua garganta arder. Diana conseguia influenciá-lo daquela forma provocativa, apenas por existir. Ele podia sentir as batidas aceleradas do próprio coração quando Diana brincava com aquele copo.

Era a visão de um anjo. Kai constatou. Se sentia o homem mais feliz do mundo apenas por estar tendo um momento descontraído, fora das dependências do trabalho. Aquela mulher, cuja beleza ia totalmente contra os padrões, iria acabar se tornando sua perdição. Antes, o seu eu antigo, jamais se imaginaria sendo rendido por uma mulher. Ele provavelmente seria estúpido o suficiente para olhar para aquela deusa e dizer “não é lá essas coisas”.

Julgaria, só enchergaria possíveis defeitos. E foi assim no seu começo, pois só havia visto quando ela já estava longe e com seu uniforme grande, aparentava ser mais tomboy, do que uma woman. Kai não queria estar ao lado de Diana, ser visto por Leo, muito menos por Kevin, com uma parceria totalmente diferente do que estavam acostumados a ver ao seu lado. Até mesmo chegou a fazer dupla com uma outra pessoa. Mas nada e nem ninguém, naquela delegacia se comprava a Diana.

Kai continuava com as palavras dela em sua cabeça. Aquelas palavras que foram direcionadas ao seu antigo parceiro em uma situação de calamidade.

“eu não seria uma policial se deixasse aquelas pessoas no meio do fogo cruzado. Seu imbecil, estou pouco me importando em saber quem é o seu tio!”

— “Foda-se, está senhora precisa de cuidados especiais, não daremos preferência a uma pessoa que está visivelmente bem.”

Aquela postura, enquanto comandava uma situação de disputas entre bandidos armados. Ela preferiu agir em prol dos civis comuns. Mesmo sendo ferida, jamais abandonou aquela senhora, em meio a todos aqueles tiros. Mesmo sendo ameaça quando optou por colocar a senhora na ambulância, aí invés de um homem que também esteve em meio ao confronto. E mesmo quando foi humilhada por ser uma estrangeira, que, nas palavras do homem agressivo, estava apenas brincando de policial.

Se manteve firme.

— Sim.— disse, quase ficou sem voz de tanto que estava sendo influenciado por sua timidez.

Que tipo de poderes aquela mulher tinha? De certo ela não era uma pessoa comum. Jamais, em toda a sua vida, Kai foi desestabilizado dessa forma, nem em seus anos na época da escola, quando se apaixonou por uma delinquente do 3 ano.

Estava tão à mercê dela, que até mesmo cogitava deixar as forças especiais para continuar servindo naquela delegacia medíocre. Por Diana, estava disposto a arriscar.

— Kai. Está pensando em alguma coisa?

Se pegou pensando demais, tanto que o motivo dos seus devaneios percebeu seu silêncio repentino.

— Estou. Em bobagens. O que vai fazer nesse final de semana?

— É o nosso dia de folga? — questionou, recebendo um aceno de cabeça como resposta.— provavelmente vou passar o dia inteiro empacotando as minhas coisas.— suspirou.

Aconteceu o que ela mais temia. Alex estava com as coisas de Kate, inclusive com a escritura do prédio onde ficava o seu apartamento. Ele havia entrado em contato com ela, com algumas tentativas sem graça de tentar ameaçar Diana. Ousou até mesmo a dizer que ninguém aceitaria uma pessoa como ela, para ser sua inquilina.
Infelizmente Diana não pôde ver a cara de Alex, quando respondeu que não precisava de sua caridade. Ele havia ligado para o número que ela reservava para emergências, já que era um telefone fixo que ficava entre a sua mesa e a saída.

— Empacotando? Vai se mudar?

A preocupação surgiu. Diana poderia estar se mudando para longe e não poderia se locomover até a delegacia. O que significaria uma transferência. Isso não poderia acontecer. Kai começou a arquitetar um plano. Talvez conseguisse convence-la a ir morar nos Estados Unidos se dissesse que havia uma boa oportunidade de emprego na polícia regional.

— Relaxe. Devo conseguir um apartamento daqueles baratinhos que ficam próximos ao nosso trabalho.

Ao ouvir aquilo, Kai respirou aliviado. Diana estava se divertindo muito com todo aquele drama. Por enquanto, não havia necessidade de contar que não tinha um lugar para ficar. Preferia não envolvê-lo mais em sua vida, pois temia que seu relacionamento acabasse da mesma forma que acabou com Kate.

Ela se apegaria ao ponto de ficar dependente e ele simplesmente ir.

Enquanto a dupla conversava, outra pessoa estava ali próximo, sendo informado sobre tudo o que aqueles dois estavam conversando. Era Kisaki, que estava ali a mando de Hanayama. Ele sabia que tinha alguma coisa errada acontecendo com aquele lugar. Nas vezes em que apareceu na casa de Diana, quase não havia pessoas naquele prédio. A não ser pelo porteiro. O que era estranho, considerando a localização do lugar, deveria estar lotado de moradores. E então ele mesmo se deparou com Alex, o irmão de Kate.

Com as novas informações, conseguiria entender. O fedelho Tokugawa herdou as poses da irmã depois que ela se casou, e a julgar pela situação, onde Diana estava fugindo desesperada ao ponto de se enfiar numa sala cheia de Yakuzas, logo ela, uma policial. Eles não tinham nenhum tipo de vínculo, a não se o ódio que ela aparentava ter sobre Alex.

— é isso. Ela está sem um lugar para ficar.— Kisaki disse. Havia ligado para Hanayama e estava louco para deixar escapar o motivo pelo qual ela estava saindo de sua própria casa.

Estranhamente, Kisaki estava se afeiçoando a aquela policial encrenqueira. O que não poderia acontecer, em hipótese nenhuma, pois ele é um Yakuza. Seria muito perigoso, até mesmo para uma policial, manter-se próximo a ele.

— entendi.— Kisaki ouviu seu chefe suspirar do outro lado da chamada.— fique de olhos abertos. Esse tal de Kai, me parece suspeito.

— entendido.— respondeu, antes de desligar a chamada e guardar o celular.

Seu chefe tinha suspeitas sobre aquele homem que estava sentado ao lado da policial. Por partes Kisaki concordava com as dúvidas do seu chefe, ele não iria pedir para ficar de tocaia se não houvesse um bom motivo.

— Kai. Por que se esconderia sobre um nome? — o Yakuza se questionava. A vida daquele grandalhão de moletom azul claro, era um mistério.— você não me desce. Pode enganar esses imbecis da polícia, mas a minha intuição, não!

Diana estava sorrindo, o que surpreendia Kisaki. Geralmente ela o recebia com uma expressão de ódio. Ele não poderia julgá-la. Estavam sendo jogados em sua vida, como uma obra do destino.

Vermelho - Kaoru HanayamaOnde histórias criam vida. Descubra agora