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— errou o caminho do hortifruti.— Ouvi a voz de Kisaki, em um tom brincalhão.

— se eu não estivesse com o corpo todo ardendo, faria questão de te fazer engolir essas suas palavras.

Tinha me esquecido do protetor solar, por um descuido e o protetor que Kate costumava usar causava irritação em minha pele. Estava procurando uma maneira confortável para deitar, o que não estava sendo fácil. Graças ao biquíni que Kate teve a compaixão de emprestar, boa parte do meu corpo estava vermelho e haviam áreas que eu nem conseguia alcançar para passar um hidratante.

— sei disso. Vim trazer um lanche.

— está envenenado? — brinquei, observando sua figura adentrar no local.

Graças a Kate, tinha uma área específica para o meu descanso, uma espécie de refúgio em meio a todo esse luxo. Me encontrava num local próximo o suficiente para conseguir ver o mar, sentada em uma cadeira de praia.

— assim me ofende! — sorriu minimamente. O vi colocar uma porção generosa da minha comida japonesa favorita, o que deu uma virada brusca no meu humor.

— vou considerar isso como uma trégua.

Não esperei sua permissão para começar os trabalhos. Agradeci mentalmente por ter tido a ousadia de revirar o meu passado, em alguma coisa aquela investigação dele teria que me servir.

— fiquei sabendo que esteve cara a cara com o seu pai.

— é, o tinhoso apareceu nas minhas costas.— resmunguei entre as mordidas.

Não queria mais evitar aquele assunto, Kisaki já estava a par de tudo, mesmo. Pouco me importava se soubesse.

— e Kate? Acha que ele contou alguma coisa para ela?

— não consegui descobrir nada e você sabe que Kate não é de me esconder as coisas.

— sim, então o que aconteceu exatamente?

— ele apareceu, não é óbvio?

— não me refiro a isso, tem a ver. Mas o que quero saber é, como está se sentindo por dentro.

Kisaki preocupado comigo, era novidade. Seus olhos estavam fixos no meu rosto queimado pelo sol, provavelmente procurando qualquer coisa que denunciasse meu desconforto e era estranho que eu esteja cogitando ter esse tipo de conversa com um homem, que até pouco tempo atrás era meu inimigo mais fervoroso.

As coisas mudaram.

— não foi tão ruim quanto imaginei que seria. Ele ainda é o mesmo homem, só mudou aquela carcaça judiada.— apertei o garfo com força.— o subestimei, aquele velho tem planos e eu odeio ter que concordar com você.

— disso não tenho dúvidas. O chefe já deve ter percebido suas intenções ardilosas.

— provavelmente sim, mas ainda temo que tudo volte a se repetir e dessa vez quem vai sofrer será Kate e o...— minha voz falhou.— o meu irmão, Kisaki, aquele bebê no ventre de Kate é meu irmão!

Droga. Estive esse tempo todo ao seu lado e meu cérebro não havia assimilado uma informação dessas? Sentindo meu sangue ferver, me virei com brutalidade na direção de Kisaki. O velho Thales estava repetindo as mesmas coisas que havia feito com sua antiga família e isso eu não iria tolerar.

— o que está pensando em fazer?

— preciso proteger a minha família.

— acalme-se, Diana. Sei que Kate é uma pessoa importante para você, mas não deve agir de forma desleixada. Principalmente quando está sob os cuidados do chefe.

Vermelho - Kaoru HanayamaOnde histórias criam vida. Descubra agora