02

312 34 2
                                    

Diana

— Quem em sã consciência ligaria as 5 horas da manhã.— reclamei baixo, agarrando o treco barulhento ao meu lado.— alô... Como assim passei?

Kate deu um pulo de sua cama improvisava e começou a me encarar, uma cena engraçada de se ver, seu rosto massado em contraste com o seu cabelo bagunçado quase me fizeram cair na gargalha no meio de uma ligação importante. A pessoa do outro lado da linha me instruiu a comparecer ao meu novo posto de trabalho, um lugar tranquilo aos olhos de pessoas comuns, que abrigava um prédio no mínimo suspeito.

— E aí?

— Parece que houve alguma coisa ontem, a delegacia precisa de mais pessoas em campo.

— Estranho. Geralmente eles não colocam pessoas inexperientes logo na rua.

— Mas eu não sou inexperiente.

— Modo de falar, minha jovem.— bocejou.

________________

Minhas suspeitas iniciais se mostraram corretas no fim das contas, observando o "local" ao qual teria que patrulhar com outro policial inexperiente, deduzi que ali provavelmente ocorreriam conflitos no futuro, e eu com certeza estarei envolvida na maior parte deles.

— Ainda dá tempo de desistir. — minha dupla argumentou. Estava tremendo feito uma criança medrosa.

Ele nem se quer queria estar ali e eu não o culpo por isso. Nossa nova profissão já estava cotada na margem vermelha, sendo uma das mais perigosas por conta dos insistentes com aqueles condenados loucos pela derrota. Até mesmo um deles tratou a delegacia como se fosse a própria casa, saindo a hora que quisesse e fazendo mais estragos por onde ia. Repugnante.

— Desista sozinho.— respondi com o meu olhar fixo no prédio localizado do outro lado da rua.

Grupo Hanayama, um lugar que jamais devo me envolver ou atrapalhar os negócios, mesmo que esses sejam frutos de ações ilícitos. Esse belo edifício é só uma fachada com o pretexto de apostas para encobrir o que realmente acontece aqui, meus sentidos nunca me enganaram.

Respirei fundo tentando absorver o máximo de informações sobre aquele lugar e seus frequentadores, talvez fosse preciso no futuro. Escorei-me na viatura, com os olhos fixos em direção à entrada.

— Diana, por favor. Vamos embora!— continuo a berrar em meus tímpanos.

Aquele cara já estava me deixando irritada. Tinha ciência de que não seria fácil assim que coloquei meus pés naquela delegacia, só de presenciar a euforia das pessoas por alguns motivos preocupantes. Tive o desprazer de conversar com meu parceiro de trabalho só após o anúncio dos locais de vigia, é, ele estava com aquela feição de medo que continua até agora. Como se não fosse o suficiente, acabei recebendo uma ordem disfarçada de forma sutil como um "conselho".

O que me deixou com uma curiosidade tremenda. O quê acontece ali que a própria polícia não pode interferir? Por que diabos todos os meus superiores agem de forma tão respeitosa com aqueles que claramente não merecem?

— Pare de encarar, já está começando a chamar atenção pra cá!

— Por que eu deveria? Só estou fazendo o meu trabalho.— creio que acabou soando meio rude. Quem se importa? Esse frago medroso certamente é que não.

Uma movimentação suspeita se deu início assim que um carro luxuoso parou em frente ao prédio. Meu parceiro não estava mais conseguindo se manter de pé, saiu correndo para dentro da viatura com o rabo entre as pernas. Sinceramente, às vezes sinto falta daqueles brucutus que trabalhavam comigo em meu país, aqueles sim honravam seus nomes, não tinham medo de nada, batiam de frente mesmo em desvantagem.

Provavelmente deve ser por esse motivo que não consigo me relacionar aqui, nenhum desses caras tem culhão o suficiente para se quer tomar a iniciativa. Das duas vezes em que me encontrei com alguns amigos de Kate, um simplesmente me deixou sozinha assim que colocou os olhos em mim, enquanto o outro, digamos que ele não tinha nada de interessante, a meu ver.

Quase me assustei ao ver o que, ou melhor, quem saia daquele carro. Era simplesmente o cara que ignorou Kate em uma das lutas no torneio clandestino. Ele parecia ser importante, já que todos que cruzaram seu caminho, estavam se curvando o quanto que podiam. Aprendi com Kate que quanto mais baixo a pessoa se curva, mais importante é.

— Estamos fodidos.— de novo o molenga do meu parceiro resmungou.

Em outra ocasião eu pediria para ele simplesmente calar a boca, ou eu mesma faria isso por ele com o meu punho. Mas agora a situação era diferente, já que a atenção do gigante, ao qual não me recordo o nome, estava voltada para minha direção. Seus olhos afiados analisava tudo, inclusive minha figura escorada no capô da viatura com os braços cruzados.

— Diana.

Senti um arrepio em minha espinha, aquele homem estava começando a me deixar mais intrigada e seus companheiros estavam começando a me observar, um por um. Talvez o motivo de sua curiosidade fosse só por ter uma estrangeira como policial, ou pode ser o drama patético do meu companheiro dentro da viatura.

— Estamos ferrados.— começou a repetir a mesma frase.— Kaoru Hanayama está me encarando. Estou fodido.

Foram simples segundos com algumas trocas de olhares, nada de mais, a meu ver, mas foi o suficiente para me deixar furiosa com o cara dentro do carro. Virei as costas para aquele homem, aquele que estava causando todo esse temor em todos os que o viam. Caminhei até ficar ao lado da janela do passageiro onde meu parceiro estava tendo seus surtos de medo, coloquei apenas o braço para dentro e o agarrei pelo colarinho do fardamento, forçando-o a me encarar.

— O que foi? — questionei, estava me segurando para não bater sua cabeça contra a porta.— está com medo?

— Não é isso. Por favor, Diana, ele está nos observando...

— E quem disse que eu ligo? Não é o nosso trabalho ficar e vigiar? — soou agressivo, mesmo estando com uma expressão tranquila em meu rosto.

Acho que foi o suficiente para quase parar o coração do homem. Como esperado, ele desmaiou e quando eu me virei para checar a situação, o grandão simplesmente sumiu. Droga.

Algumas horas após esse incidente com o meu parceiro, fomos chamados para ajudar em uma ocorrência, um roubo nas proximidades. Nada tão emocionante quanto ficar na frente do prédio da Yakuza observando cada possível suspeito, observando...

— Aconteceu alguma coisa de divertido no seu primeiro dia de trabalho? — Kate me questionou focada no trânsito.

Depois de algumas voltas na cidade, fui liberada para voltar para casa. Para a minha sorte, Kate tinha um compromisso próximo à delegacia, então peguei carona. Os prazeres da vida de se ter uma herdeira como amiga.

— Não. Nada de interessante.

Vermelho - Kaoru HanayamaOnde histórias criam vida. Descubra agora