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Mulheres, perante a sociedade, precisam ser perfeitas, precisam usar roupas desconfortáveis, agir das formas mais mansas e pacatas possíveis, elas necessitam de uma figura masculina ao lado para tomar as rédeas do rumo de sua vida. Se quiserem sobreviver precisam ser feitos alguns sacrifícios.

— Sinceramente.— resmungou baixinho, fechando o livro com um pouco mais de força. Ela havia acabado de sair de seu trabalho exausta e ainda precisava dar atenção a todos os "benefícios" que o seu professor estava lhe oferecendo, os quais não passavam de meras mensagens distorcidas em um livro em formato impresso com uma capa colorida.

Ler nunca foi um hobby, pelo contrário, as palavras em várias ocasiões pareciam ser uma espécie de quebra-cabeça, o qual nem sequer cogitava em resolver, tão pouco aquele livro que foi lhes oferecido por seu superior.

— Com licença senhora, está tudo bem? — uma estudante que havia sentado em frente ao acento dela no trem perguntou.

Sem muitos gestos, a senhora, ou melhor, a mulher de 22 anos, olhou fixamente a garota do outro lado do vagão até ela sorrir e começar a evitá-la envergonhada. Típica mulher amargurada com a própria vida.

Chegar em casa e finalmente dormir era o seu plano inicial, só de imaginar estar no conforto de sua casa alguma dentro daquele corpo cansado vibrava em euforia, mas não seria simples assim, pois Kate surgiu.

— Chegou tarde de novo.— resmungou, ela estava deitada no sofá assistindo alguma coisa na tv.

— Invadir a casa dos outros é crime, sabia? — tomou o controle das mãos da loira, irritada.

— Sei, acontece que a minha melhor amiga é da polícia, você deve conhecer ela... — começou a se gabar como se fosse outra pessoa com quem ela estivesse conversando.

— Eu não passei Kate.

Essa simples frase fez com que a loira quase desmaiasse.

— O quê? Como assim? Você era a número do seu time...— Kate bombardeou a amiga com várias perguntas, quase deixando a outra tonta no meio do próprio raciocínio.

— Era e ainda sou — colocou a bolsa e o livro que carregava sob a mesinha de centro, respirando fundo para não se deixar ser influenciada por suas emoções novamente.— eu só não passei Kate.— sentou-se ao lado dela e deixou a mais velha acolher seu corpo cansado em seus braços quentes.

— O que aconteceu dessa vez?

— Eu exagerei de novo, mas a culpa foi totalmente do meu adversário, ele quem ficou me infernizando com palavras deprimentes.— apertou a barra do cassaco com força.

— Quebrou quantos ossos dele? — Kate perguntou com frieza, mas o seu interior estava vibrando ansiosamente por cada detalhe sanguinário.

— Acho que quase deixei ele ser andar.

Kate ficou satisfeita com a resposta, ela estava ao lado de Diana a tanto tempo que nem se lembrava mais da data em que seu caminho se cruzou com o da estrangeira esquentada.

Ela sempre foi totalmente contra o uso de violência por parte de sua amiga, o que chegava a ser irônico pelo simples fato de Kate pertencer à família Tokugawa. Tendo ciência das condições, ela queria que a vida de Diana fosse o mais normal possível, por isso sugeriu que se matriculasse em alguma academia ou algo assim. Só assim ela poderia viver tranquilamente, sem riscos de acabar se metendo em alguma situação desconfortável.

— Você sabe que não estava errada, mas infelizmente não poderia ter agido da forma que agiu.

— Eu sei, Kate, mas, eu não sou como você, eu sou uma aberração.— alguns flashes de memórias antigas surgiram em sua mente, memórias dolorosas, o que só agravou ainda mais o seu estado deprimido. 

Vermelho - Kaoru HanayamaOnde histórias criam vida. Descubra agora