07

199 27 2
                                    

Cara, não era paranoia da minha cabeça. Há alguns dias vinha notando uma movimentação estranha na delegacia, até mesmo minhas patrulhas em frente ao prédio dos yakuzas foram interrompidas. Para melhorar a minha situação, o me parceiro se demitiu. Tive que passar algumas semanas cuidando dos arquivos, o que para mim, foi o cumulo da chatice. Justo quando os condenados a morte surgiram, me colocam para cuidar de documentos. 

E quando eu achei que não poderia piorar, simplesmente me deparo com o presidiário mais perigoso dos Estados Unidos, Biscuit Olivar, na minha sala, sentado ao meu lado enquanto tinha acesso liberado a todos os arquivos do sistema de segurança de Tóquio. Arquivos esses que nem mesmo eu tinha acesso.

— Sabe, mocinha, geralmente as pessoas são mais discretas ao me encarar.

Ele continuava olhando aquela tela desde que cheguei, o que me fez perceber o quão incrível eram as suas habilidades de percepção, apesar de todo esse tamanho, ainda conseguiu detectar meu olhar curioso. Estranhamente assustador.

— Não é todo dia que se vê um detento de uma cadeia de segurança máxima em uma delegacia de polícia.— digo o óbvio, mesmo com os protestos dos outros.

— Diana.— uma pessoa chamou minha atenção, como se eu estivesse cometendo um crime.

— Não, tudo bem. Você está correta. Também não é todo dia que se vê uma estrangeira numa delegacia de polícia em tokyo.— ele finalmente ficou cara a cara comigo, esbanjando simpatia.

Isso não vai funcionar comigo, meu caro. Sei distinguir uma besta disfarçada de um coelho indefeso.— Pensei.

— Está insinuando alguma coisa, senhor?— ergui minha sobrancelha esquerda. O clima naquele lugar havia mudado, o ar começou a ficar sufocante.

Devo admitir, está insinuação me incomodou, mas ele não precisa saber disso. Em outra situação, se houvesse outro indivíduo ditando esse mesmo conjunto de palavras, não iria me importar. Mas, por algum motivo não identificado, essa pilha de músculos bronzeada está conseguindo me tirar do sério, simplesmente por coexistir no mesmo ambiente que eu.

— Quem? Eu? Jamais. Só achei o fato interessante.— ignorou solenemente minha expressão de desgosto e voltou a mexer nos arquivos da polícia.

Isso foi uma tentativa patética de me irritar, e é vergonhoso demais ter que admitir que funcionou. Levei minhas mãos até a testa, numa tentativa patética de me concentrar no arquivo que estava na minha frente. Ainda estava no meu local de trabalho, de onde venho batalhando tanto pela validação dos meus superiores, não posso deixar esse presidiário me influenciar.

— Estou aqui para ajudar. Não seja tão arisca, mocinha.— Olivar soltou.

— Não tem como um presidiário estar aqui para ajudar. É ironicamente patético.— resmunguei.

Tenho certeza de que ele me ouviu e apenas decidiu ignorar. Afinal, não tenho nada de atrativo para esse homem. Não sou como boa parte dos lutadores que participaram do torneio clandestino, apesar de termos algumas semelhanças.
Sou apenas uma mulher de estatura mediana nos parâmetros sul-americanos.  Sou imensamente grata a minha querida mamãe por ter me feito assim.

Em algum momento do meu expediente, o chefe do departamento de polícia apareceu, nem mesmo eu estava esperando sua visita à nossa sede, dessa forma tão abrupta.

— Sonoda, não me disse que havia um lugar tão divertido nessa delegacia.— ouvi aquele presidiário falar com tanta intimidade, era como se estivesse zombando da autoridade do senhor Sonoda.

Infelizmente não conseguia analisar toda aquela situação, nada me faria acreditar que a polícia estava servindo e trabalhando com um preso para apreender outros da mesma laia dele

— Você é maluca? Por acaso não viu o tamanho do braço daquele cara? — uma voz conhecida me tirou dos meus devaneios.

Era o cara com quem fiz aquela vigília em frente ao prédio Hanayama. Ele havia entrado com um pedido de transferência para outra unidade após o dia cheio de emoções que passou atuando ao meu lado. O apelidei carinhosamente de frango, já que ele passou aquele dia cacarejando como um em meus ouvidos. Imaginei que não fosse vê-lo mais, já que aqui no Japão, as coisas são rápidas de serem resolvidas.

— Provavelmente eu seja.— dei de ombros.— e você? O que faz aqui?

— Vim trabalhar.— respondeu de forma ríspida.

Meus instintos femininos estão detectando estímulos de desrespeito, vindas desse homem.

— Achei que fosse para o interior.— comentei, despretensiosamente. Suas respostas e até mesmo suas atitudes, já eram previsíveis para mim.— sabe, me recordo do: jamais trabalharei com uma pessoa como você. Devo imaginar que o seu pedido de transferência foi recusado.— ousei imitá-lo. O sorriso em meu rosto encobria todo o veneno que estava sendo emanado através das minhas palavras, não iria deixar passar a oportunidade de devolver todas aquelas palavras rudes dirigidas a mim por esse ser.

Silêncio, sinal que a sua confiança foi abalada. Ótimo, agora verei do que será capaz de fazer. Creio que irá me insultar, ao julgar pela expressão séria e essas pernas balançando, deve estar com a ansiedade lá nas alturas. Não deve demorar muito para disparar suas ofensas sobre mim.

— Eu não vou me humilhar. Quem precisa de mim é você, não é mesmo? — arrogante, acreditando que eu ainda dependeria dele, coitado. Eu estava cogitando em ser legal e avisar a ele sobre as boas novas, entretanto, vou deixá-lo ser virar sozinho após o pequeno ocorrido do dia anterior.

Minha confiança é inabalável.

Sorri feito uma criança esperando as consequências das ações desse indivíduo. Se ele realmente acredita que só vou poder pôr os pés para fora dessa delegacia com um "parceiro", no caso ele, esta muito enganado. De fato, não havia muitos candidatos dispostos a tarefa, alguns até mesmo fugiam quando ouviam falar sobre o que deveria ser feito. Mas as coisas mudaram com a aparição de um novo polícia, recém contatado pelo próprio chefe da nossa unidade. Kai, era o nome dele.

— Se eu fosse você, não seria tão arrogante.— disse, antes de terminar de organizar os arquivos.— cadete.

Mantive minha postura, mesmo estando pulando de felicidade por dentro.

— Diana, me desculpe pelo atraso.— Kai apareceu. Estava com o uniforme amarrotado e com um corte na bochecha.

Vi os olhos curiosos do meu ex parceiro analisarem a figura imponente de Kai. Provavelmente deve estar se questionando de onde estão saindo todos esses estrangeiros. Acontece que Kai é filho de um fisiculturista famoso dos Estados Unidos e uma médica renomada do Japão. Um sortudo, eu diria. Ele é o resultado da mistura de dois DNAs tão excepcionais, tendo uma boa forma física e uma linha de raciocínio inimaginável. Esse cara era o meu novo parceiro.

Seria um insulto da minha parte compará-lo a esse exemplar de frango, que se quer consegue encarar uma pessoa que tenha um centímetro a mais de altura do que ele. Kai é forte, musculoso de forma que até mesmo eu tenho inveja, ele é o famoso homem dos sonhos. Tantas qualidades, mas em compensação sua personalidade é como a de um Golden. Já perdi as contas de quantas vezes o peguei prestes a chorar ouvindo as histórias de vida da senhora que faz a limpeza do lugar, e não foram poucas.

— Está atrasado.

— Perdão.— agarrou minhas mãos.— uma senhora teve a bolsa furtada e eu tive que ajudá-la.— me olhou como se estivesse recebendo uma bronca.

Vermelho - Kaoru HanayamaOnde histórias criam vida. Descubra agora