Cap. 23 - Um Plano Muito Ruim (Parte III)

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Ela se dirige para o sofá e me convida para sentar ao seu lado. Deixo minha bolsa no chão e afundo no couro macio.

Ah, meu Deus. Eu nunca vou levantar. Isso é incrível. É como ser abraçada por uma jaqueta de couro. Eu me recosto e fecho os olhos. É possível soltar um gemido.

Quando sinto um calor no meu rosto, vejo que Sarah está me encarando com os olhos semicerrados e misteriosos.

— Está confortável?

— Muito. — Eu não deveria gostar do olhar dela em mim o tanto que gosto. É errado. E estúpido.

— Bom. Quero que você se sinta em casa.

Fico tentada a dizer que me sinto em casa em qualquer lugar que ela esteja, mas, mesmo para mim, isso soa muito cafona. Ainda assim, não deixa de ser verdade.

— Foi estranho? — pergunto. — Se acostumar a tudo isso?

Ela olha ao redor.

— Este apartamento?

— Esta vida. O dinheiro. A fama.

Ela olha para a cerveja.

— O que te faz pensar que me acostumei a qualquer coisa dessas? Cada paparazzi na Costa Oeste pode te dizer o quanto eu não estou conseguindo lidar com isso. Caramba, você viu isso em primeira mão naquela noite.
Acho que nunca me acostumarei a ser tratada como uma mercadoria e não como uma pessoa.

— Acho que, para Hollywood, faz sentido tratar você como uma mercadoria. Quero dizer, pense nisso assim: se Hollywood é um restaurante italiano, então você é um Parmigiano Reggiano e Bruna, uma trufa negra.

— Espere, por que Bruna é a mais cara das comidas e eu, um queijo fedorento?

Eu bato em seu braço.

— Quem você está chamando de fedorento, garota? Estou falando de um dos mais deliciosos e exclusivos queijos do mundo.

Sarah pensa por um momento.

— Você está certa. Eu peço desculpas. Sabendo o quanto você ama queijo, deveria ter percebido que esse é o maior elogio que você poderia me fazer. Meu ego está satisfeito, continue.

Sorrio, feliz de ver que a arrogância adorável dela ainda está intacta.

— Certo, então, o chef sabe que se usar o queijo e as trufas, todo mundo amará o prato, antes mesmo de terem provado. É infalível. Coloque vocês duas juntas em um filme e, mesmo que o resto dos ingredientes forem uma porcaria, vocês farão dele um sucesso.

Ela toma um gole da cerveja.

— Ok, entendo o seu ponto, mas ainda acho injusto assediar trufas e parmesão até que eles tenham uma vida nula. É ruim o bastante eles não poderem ir a lugar algum, mas pior ainda é ninguém parecer querer um sem o outro. Quero dizer, se o queijo quer ser um prato por si mesmo? Você está me dizendo que o prato seria cinquenta por cento menos gostoso sem a trufa.

— De jeito nenhum. Mas faça as contas. O parmesão tem fãs apaixonados. A trufa também. Coloque-os juntos e duas vezes mais pessoas pedirão o prato.

Ela franze a testa.

— Acho que você está falando sobre bilheteria agora, mas essa metáfora está me deixando faminta, estou com problemas pra me concentrar. Quer comer alguma coisa?

— Hum... — Antes que eu pudesse recusar, ela já estava indo para a cozinha.

— Não tenho trufas, mas tenho certeza de que posso fazer alguma massa decente. — Ela abre o refrigerador e começa a colocar os ingredientes na bancada. — Ei, olhe isso. — Sarah segura uma fatia de queijo. — Parmigiano Reggiano.

Impiedoso Coração (Sariette G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora