Cap. 10 - Chegando Mais Perto (Parte II)

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Apanho a papelada na copiadora e logo estou sorrindo.

Críticas. Várias delas. Todas gloriosas. Nossa peça é oficialmente um sucesso e ainda que o elenco todo seja sensacional, Sarah e meu irmão, Otto — que está interpretando Mercúcio — são o centro das atenções.

Isso não me surpreende. Atores gostosos que também são talentosos pra caramba? Sobre esse alicerce a Broadway foi construída.

Vou até os bastidores e distribuo as cópias das críticas pelos camarins. Atores adoram críticas elogiosas sobre si mesmos. Vou erguer a moral de todo o elenco para a apresentação desta noite.

Quando volto para o meu canto, na lateral do palco, faço movimentos com o pescoço até que ele estale. Acho que não me sentei sequer uma vez o dia todo e o ruído surdo da pulsação de uma possível dor de cabeça permanece atrás de meus globos oculares.

Tenho um sobressalto ao sentir mãos agarrarem meus ombros.

— Relaxa. — A voz rouca de Sarah ressoa bem atrás de mim. — Você está tão tensa que vai distender alguma coisa. Obrigado pelas cópias das críticas, tenho certeza de que meus pais vão cobrir as paredes da sala lá de casa com elas. Sou muito grata que você tenha encontrado tempo para enviá-las a eles, então estou aqui para fazer alguma coisa legal por você.

Dedos fortes massageiam os músculos do meu pescoço, e eu reprimo um gemido.

— Ah, meu Deus.

— Ah, por favor. Já ultrapassamos essas formalidades. Você pode me chamar simplesmente de Sarah.

Fecho os olhos enquanto ela diminui a tensão de meu pescoço e ombros. Aquilo é tão bom que é quase sexual.

— Sarah... Olha... Ei. Você deveria parar.

— Deveria? Por quê? Você parece estar adorando e eu, bem, eu certamente estou adorando.

— A atriz principal da peça não pode ser vista massageando a diretora de palco. É errado e não é natural.

— E quem pode massagear você, então?

— Ninguém. Estou fora dos limites da massagem.

— Isso não parece nada justo. Você tem um dos trabalhos mais estressantes por aqui, mas não pode receber uma ajudinha para relaxar? Que merda!

Ela massageia meu pescoço com mais vigor ainda, e eu reviro os olhos.

— Ahhhh... Não, não mesmo. Diretores de palco são criaturas estranhas. Nós nos alimentamos de estresse, cafeína e falta de sono. Você não pode alterar esse equilíbrio. Nos deixe relaxados demais e desabamos.

Sinto sua respiração morna e seus lábios macios, que mal tocam minha orelha, quando ela sussurra:

— Não vejo a hora de você desabar qualquer dia desses, Ju. Vinte e um dias contados, pra falar a verdade. A noite de encerramento da peça está circulada no meu calendário.

Ela desce os dedos, massageando a minha espinha até o cós de meu jeans. Quando engasgo com um gemido, ela ri.

— Tem certeza de que deseja que eu pare?

— Não, mas você deveria.

Sarah suspira.

— Tudo bem. Levante-se e venha aqui. Suas costas estão em péssimas condições.

Eu me levanto e a encaro. Ela dobra os joelhos e me envolve em seus braços.

— Isso vai aliviar a pressão em suas vértebras.

Impiedoso Coração (Sariette G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora