Cap. 32 - Peça Ajuda (Parte II)

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Algumas pessoas entram no bar. Um homem na casa dos trinta anos avalia o lugar antes de se sentar no banco mais próximo a nós.

Tomo meu vinho. Tem um sabor horrível. A mulher entusiasmada no canto nem mesmo está fingindo tomar o dela. Ela e o Andy Mãozinha estão dando uns amassos mais ousados. É fascinante.

— Amantes. — diz Sarah, apontando para eles.

— Você acha?

— Sim. Este bar? Aquela mesa? Definitivamente tentando ficar fora do radar. — Ela aponta para o resto do lugar. — Por que você acha que estou aqui? Ninguém olhou pra mim tempo o bastante para me reconhecer. Nenhuma pessoa me pediu autógrafo ou implorou para tirar uma foto comigo. Sou uma ninguém aqui, como todo mundo. É o paraíso.

Eu a estudo por um segundo.

— É isso que você quer? Ser uma ninguém?

Ela dá de ombros e brinca com sua bebida.

— Às vezes. Na verdade, a maior parte do tempo. As coisas eram muito mais simples quando eu era uma ninguém. Agora, tudo que faço é posto sob um microscópio. Cada decisão. Cada pedaço de informação pessoal é colhido pelos abutres da mídia desesperados pra encontrar alguma coisa pra vender em suas malditas revistas e em seus sites, não importa o custo. — Ela pega um iPad em sua bolsa, ao lado da mesa e o põe na minha frente.

— Isso aconteceu hoje, o que é legal, considerando que é o aniversário de morte da minha irmã.

Pego o tablet. Um site popular de fofocas está estampado com a manchete: O inferno particular da destruidora de corações de Hollywood. Há uma imagem de Sarah sentada diante de um túmulo, chorando. A legenda diz: Estrela de filmes de ação Sarah Andrade desmorona diante do túmulo de sua irmã. Imagens exclusivas!

Ah, meu Deus.

Olho para Sarah. Seu queixo está rígido e seus olhos, pesados.

— Fui visitar o túmulo de Caroline há alguns dias e acho que algum merda me seguiu. Amanhã isso estará em todos os lugares.

Ao longo dos anos não houve muita informação sobre a morte de Caroline na imprensa. "Morta em acidente em construção" é tudo que já foi dito, mas não tenho dúvidas de que essas imagens vão despertar um interesse novo sobre a morte da irmã gêmea de Sarah.

— Sarah, eu sinto muito. — Há mais imagens dela mais abaixo e sinto uma pontada de raiva com a ideia de que alguém pensaria em lucrar com seu momento particular de dor.

— Vou ao túmulo dela todos os anos. — diz. — Algumas vezes, meus pais vêm comigo, mas quase sempre vou sozinha. Gosto de ter tempo pra falar com ela. Contar como minha vida está indo. — Ela olha para a mesa e eu seguro sua mão. O contato a deixa tensa e sua respiração fica ofegante, mas ela não olha para mim.

— Você não precisa falar sobre isso. — digo. — Mas se quiser desabafar, sou uma boa ouvinte.

Ela respira fundo, de forma trêmula, e fala devagar.

— Quanto você sabe?

— Só que foi em um projeto da Mantra. Cinco ou seis pessoas morreram.

Ela assente.

— Seis. Mantra era a empreiteira do meu pai. Caroline e eu integramos a equipe quando deixamos a escola. Um dia, o operador da grua se esqueceu de verificar novamente se os pontos de ancoragem estavam devidamente apoiados. Quando a grua começou a erguer lajes de duas toneladas, ela tombou e caiu no prédio do outro lado da rua. Caroline e eu vimos acontecer, então corremos até o outro edifício, pra ver como poderíamos ajudar. Estava um caos lá dentro. Escombros despencavam. Pessoas estavam gritando. Seguimos escada acima e ajudamos uma mulher e seus dois filhos a saírem dos destroços antes de chegarmos ao andar de cima, onde o dano foi pior. Foi uma coisa idiota de se fazer.

Impiedoso Coração (Sariette G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora