Cap. 43 - Rato Imundo

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Reta final, pessoal!!!

Estou inclinada sobre meu laptop, buscando os podres de Daniel Trovejani na internet pelo terceiro dia consecutivo, quando ouço a porta da frente bater. Cinco segundos depois, Rallyson entra no meu quarto e cai de bruços na minha cama.

— Como está indo?

— Maravilhoso. — As palavras dele estão abafadas pelo meu edredom. — A terceira prévia acabou e eu só ferrei com cinco deixas.

— Muito melhor que as nove da noite passada.

Ele se vira, deitando de costas.

— Acho que deveria ganhar um bônus ou algo assim. Para ser honesto, acho que minha escolha de não erguer o holofote de Sarah na primeira cena foi ousada e inesperada.

— Tenho certeza de que Marcos não esperava isso.

— Sim, ele gritou comigo. Muito. Viu, é por isso que gosto de ser o segundo a comandar. Quando estou nos bastidores, há menos pessoas me dando uma surra.

— Você já beijou a Bruna?

Ele olha para mim e ri, com amargura.

— Você realmente está me perguntando isso? A mulher que me ensinou, desde que éramos adolescentes, que não tenho permissão pra ficar com garotas das peças que dirigimos? Só porque você não teve força de vontade pra resistir a não pular na Andrade, não significa que preciso despencar ladeira abaixo.

— Ela ainda mete medo em você, não é?

Ele coloca o braço sobre os olhos.

— Ela é simplesmente perfeita. É intimidante.

— Pobrezinho.

Termino de passar os olhos pelo artigo que estou lendo e resmungo, frustrada.

— Droga! Qualquer um que seja tão podre quanto Trovejani, deve ter algum segredo escondido, mas não consigo achar nada.

— Então seu plano de vingança ainda é um fracasso?

— Até agora. Mas vou chegar lá, não se preocupe. É só uma questão de como e quando. Você tem algo pra mim?

— Ah, sim.

Rallyson tira o celular do bolso e me entrega. Já que Sarah e eu não podemos nos ver e não temos ideia se o seu celular está grampeado, ela tem gravado vídeos no celular de Rallyson.

Não é tão bom quanto uma chamada telefônica, mas ao menos posso ouvir sua voz e ver seu rosto.

Busco o último arquivo. Ela aparece na tela com o figurino. Deve ter filmado aquilo logo após sair do palco hoje. Uau, ela parece sexy naquele gibão de couro.

"Oi, Ju. Espero que você tenha uma ótima noite. Sinto muito sua falta. Muito. Os ensaios estão indo bem, mas não é a mesma coisa sem você. E se o Rallyson se esquecer de erguer meu holofote mais uma vez, vou matá-lo."

Rallyson resmunga e faz um gesto vago.

"Se você estiver ouvindo, Rallyson, não estou brincando."

Dou um sorriso, enquanto Rallyson mostra o dedo do meio a ela.

Sarah apoia os cotovelos nos joelhos e suspira.

"De qualquer modo, não acredito que ainda preciso fingir com Bruna quando saímos do teatro todas as noites. Ela mandou dizer oi, a propósito. Ela disse que sente sua falta e que está puta com a sua demissão. Também quer arrancar as unhas dos pés de Trovejani com alicates enferrujados. Manter a farsa não é mais divertido para nenhuma de nós e não parece haver um final à vista. Para piorar as coisas, Bruna não para de falar em Rallyson. É um saco.

Rallyson se senta, ereto e franze o cenho para o celular.

— Que mer...?

Rallyson está enlouquecido com essa informação, não é?

Tanto Rallyson quanto eu respondemos:

— Sim.

Rallyson dá uma risadinha.

Eu fico só imaginando. Agora que ele dirige a peça, está com um novo ar de autoridade e acho que Bruna o acha atraente.

Rallyson se infla como um pavão.

— Tenho um ar de autoridade? Muito bom.

Agora, Rallyson, preciso dizer algo a Ju a sós, então me faça um favor e caia fora daí, certo?

Rallyson dá um suspiro e fica de pé.

— Certo. Vou pegar meu ar de autoridade e sair. Imagino que posso ser bem atraente e autoritário em outro lugar.

Depois que Rallyson sai e fecha a porta, Sarah suspira e olha para a câmera.

"Espero que ele tenha saído mesmo ou isso vai ficar estranho. Eu sinto muito sua falta. Tudo em você. Sinto falta do seu rosto. Dos seus lábios. Do seu corpo. Meu Deus, Ju, estou louca pra ver você. Não quero nem transar. Só quero te abraçar. Não podemos nos encontrar em algum lugar por poucas horas?"

Sarah abaixa a cabeça.

"Sei que não podemos, mas eu realmente quero muito. Você ficou sabendo que Trovejani organizou uma entrevista no domingo com a irmã da Bruna, Tori? Um bate-papo ao vivo e exclusivo, pra que Bruna e eu possamos reafirmar nosso amor e garantir a todos que estamos mais unidas do que nunca.
Não acho que consiga fazer isso. De verdade. Estou tão cansada de fingir. Mal posso esperar pra que isso acabe e eu possa contar ao mundo que na realidade estou apaixonada por você."

Há um barulho atrás dela e Sarah olha por sobre o ombro.

"Ok... preciso ir. Tenho que me trocar e dar alguns autógrafos na saída do palco com Bruna. É exigência."

Ela olha de volta para mim e sorri.

"Falo com você em breve, certo? Te amo."

Sarah estica o braço para a frente e então a tela fica preta.

Deito de costas na cama e fecho os olhos.

Daniel é um cretino sem tamanho por obrigá-las a fazer aquela entrevista. É como esfregar sal em suas feridas. Minha urgência em derrotá-lo aumenta.

A não ser por alguns posts incriminadores sobre ele em um site chamado Agentes Que Se Comportam Mal, minha pesquisa na internet foi um fracasso; então, se eu quero colocar esse cara no lugar dele, preciso pensar de forma criativa.

Dou um suspiro profundo e me concentro. Para pegar um rato, preciso pensar como um rato.

Se Trovejani fosse eu, o que ele faria?

Passo por diferentes cenários até que uma ideia minúscula me ocorre.

Ah. Uau. Será que isso realmente funcionaria?
Penso nela um pouco mais e, quando acabo, sinto que estou sorrindo. É tão simples, tão genial.

Dizem que você precisa combater fogo com fogo.

Ótimo. É isso que vamos fazer.

Eu me sento e grito:

— Rallyson!

Em segundos, ele enfia a cabeça pela porta.

— Você chamou?

— Tenho uma ideia, mas é arriscada. E vai exigir o máximo de nós para executá-la.

Rallyson larga o corpo na minha cama com uma expressão excitada no rosto.

— Parece pervertida. Conte comigo!

Impiedoso Coração (Sariette G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora