Meu coração está disparado em meu peito. Não é assim que vejo a minha primeira declaração de amor acabando. Pensei que certamente Sarah diria a mesma coisa e então faríamos um sexo enlouquecedor ou ao menos um beijo de se contorcer. Isso não é... Não é o que imaginei.
Sarah se inclina e gentilmente roça os lábios em meu rosto. Fecho os olhos e estremeço.
— Ligo pra você mais tarde. — sussurra ela.
Concordo e então ela me deixa e retorna para a fonte. Quando chega lá, o fotógrafo a chama e uma morena bonita aparece ao seu lado. Ah. Bruna Rotta.
Caramba, ela parece uma deusa!
Algo desagradável incendeia meu estômago. Fica mais forte quando ela e Sarah assumem suas posições e Bruna agarra seu braço possessivamente.
O fotógrafo tira as fotografias, dá instruções em voz alta e Sarah e Bruna se movem, em várias poses íntimas. Quando o fotógrafo vai até elas e conversa com as duas, as poses ficam muito mais sexy. A camisa de Sarah está desabotoada. As mãos de Bruna estão em seu colo e pescoço. Sarah olha para ela como se quisesse devorá-la.
— Você a conhece?
Eu me viro e vejo um homem com cabelo oleoso e cavanhaque parado ao meu lado. Ele está segurando uma das maiores câmeras que já vi.
Caramba, cara. Você está compensando o quê com esse tamanho todo?
— Desculpe, o quê?
— Sarah Andrade. Eu a vi conversando com você. Vocês são amigas? Família?
Eu me viro e vejo Sarah agarrando Bruna, puxando-a para perto de si.
— Amigas.
Por enquanto. Em breve, espero que sejamos bem mais que isso.
O homem levanta sua câmera enorme e tira algumas fotos.
— Há algo que você possa me contar sobre ela e sua parceira? Quando começaram a namorar? Eles já se conheciam antes de conseguirem o filme?
Olho para ele bruscamente.
— Repórter?
Ele dá de ombros.
— Um tipo de repórter, sim.
— Então você está mal informado. Elas não estão namorando.
Ele ri. Não é um som agradável.
— Você não vê sua amiga há um tempo, não é? Elas estão namorando, sim. Bem, "trepando" seria uma palavra melhor pra isso. Desculpe o linguajar.
Meu estômago se contrai.
— Por que você pensa isso? Elas trabalham juntas. É só isso.
Ele sorri, mostrando os dentes manchados de nicotina, então olha em volta, como se conferisse que ninguém nos observa.
— Não deveria lhe mostrar isso, mas que se dane. Vai sair amanhã e todos vão saber de qualquer modo. Já vendi esses bebês para quatro revistas de circulação nacional e para três sites. Não há nada como artistas sexys trepando até cansar pra aumentar a audiência.
Ele mexe nos controles da câmera.
— Um amigo me deu a dica de que Andrade seria a próxima queridinha de Hollywood, então comecei a segui-la há algumas semanas. Parece que ela e a companheira têm estado bem ocupadas conhecendo uma à outra.
Ele vira a câmera para que eu veja a tela, então passa as fotos. Meu rosto arde de calor. Eu me sinto mal. Há dúzias de fotos de Sarah e Bruna juntas. Olhando uma para a outra, amorosamente. Beijando-se por sobre uma mesa de almoço. Na porta do apartamento dela, depois de terem, obviamente, passado a noite juntas.
Minha cabeça lateja enquanto a náusea me atravessa. Olho para o outro lado. O homem dá uma risadinha e me entrega seu cartão.
— Então, sim. A história sobre essas duas está prestes a sair, com barulho. Se você tiver algum podre dela e quiser vender, faço valer a pena. Ela nunca saberá que veio de você.
Quando ele põe o cartão na minha mão, a humilhação toma conta de meus ossos. Ela disse que me amava. Que sentia minha falta. Que alguns atores e atrizes poderiam se apaixonar por seus colegas de cena, mas ela nunca o faria.
E eu acreditei nela.
Caí em cada uma das cantadas dela e implorei por mais. Realmente sou de uma safra especial de idiotas. Parte de mim está estarrecida, mas a outra não está nem um pouco surpresa por ter acontecido novamente. Claro que aconteceu.
Olho de novo para Sarah e Bruna, ainda se agarrando em frente à câmera. Os olhos de Sarah piscam para mim e eu vejo aquilo, o exato momento em que ela percebe que eu sei.
Seu rosto se desfaz e fica nublado com a culpa e então um olhar de tristeza indescritível se acomoda em seus traços. O fotógrafo grita alguma coisa e Sarah olha de relance para ele, antes de se voltar para mim.
Enquanto a encaro, meus olhos brilham com lágrimas quentes, mas me recuso a deixá-las cair. Estou com tanta raiva que estremeço. Mais do que tudo, estou brava comigo mesma. Sabia os riscos de me apaixonar por ela e ainda assim deixei acontecer. Eu mereço isso. É tanto minha culpa quanto dela.
Quando não suporto mais olhar para ela, me viro e vou embora. Ouço Sarah gritando meu nome, mas não paro. Para quê?
Tudo dói enquanto caminho e eu amaldiçoo a mim mesma por querer voltar correndo e lhe implorar que mude de ideia. O que há de errado comigo? Será que sou tão pouco digna de ser amada assim? As lágrimas brotam novamente e eu tensiono cada músculo para impedir que a emoção me assole.
Talvez eu só devesse passar o resto de meus dias com Rallyson e fazer sexo casual com outros caras. Talvez não exista uma pessoa lá fora que me ame o bastante para querer meu corpo e meu coração.
Quero negar que amo Sarah, para que não doa tanto, mas não consigo. Não acho que amava os outros caras que me deram o fora, mas ela... Com todas as minhas reclamações sobre o destino, parecia que ela tinha sido feita para mim. Por que a única que eu realmente quis não poderia me querer de volta?
Enxugo os olhos, frustrada. Meu rosto está quente com a humilhação e a vergonha e estou tão farta que tudo o que desejo fazer é me enrolar como uma bola e fechar os olhos.
Estou quase na estação de metrô quando meu celular dá um alerta de mensagem. Eu paro quando vejo que é de Sarah. Fico encarando-a por um longo tempo.
Esperava que ela mandasse a merda usual: "Não é você, sou eu". Ou: "Queremos coisas diferentes". Ou a minha favorita: "Acho que é melhor sermos amigas".
A mensagem que encaro não tem nada dessas coisas. Só diz, simplesmente:
"Sinto muito".
Sem negação. Sem desculpas.
Não sei por que essas duas palavras quebram meu autocontrole, mas elas conseguem. Desabo no meio da calçada e choro de um jeito que nunca chorei antes. É feio e cada soluço despedaça meu peito. E mesmo sabendo que as pessoas estão me encarando, não consigo parar.
Anos atrás, vi um artigo de revista que dizia que todo mundo deveria ter o coração partido ao menos uma vez para se transformar em uma pessoa melhor. Dizia que a dor de perder alguém que se ama faz você aprender sobre si mesma. Desenvolve força e resiliência.
Quem quer que tenha escrito esse artigo pode ir se foder.
A dor de um coração partido não te ensina a ser forte. Ela te ensina a proteger sua fragilidade. Ensina você a temer o amor. E desenha um grande círculo vermelho em todas as ocasiões em que você falhou como ser humano, e ri, enquanto você chora.
Não sei por quanto tempo fico lá parada, chorando, mas depois de longas horas, todas as minhas lágrimas se vão e eu desabo em um banco próximo, enquanto tento me controlar. Há uma dor profunda e furiosa em meu peito, e eu imagino por quanto tempo terei de conviver com ela.
Quando as sombras começam a se alongar e as luzes da rua se acendem, fico de pé e vagarosamente me dirijo para casa.
Pelo menos ter o coração partido por Sarah Andrade, me ensinou uma coisa: aprendi que nunca mais quero me sentir assim por nenhuma outra pessoa.
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Impiedoso Coração (Sariette G!P)
FanficJuliette Freire - Não namora atores. Sarah Andrade - A atriz Quando tudo o que aconteceu entre elas (e o que poderia ter acontecido) vem à tona... Sarah G!P - Se não gosta, não leia! •ADAPTAÇÃO•