Cap. 35 - Amor e Lagostas (Parte I)

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Renovada depois de um banho quente e vestindo meu roupão favorito, me afundo no sofá e ligo o celular. Imediatamente uma enxurrada de notificações de mensagens o faz apitar. Não reconheço a maioria dos números, então deduzo serem de repórteres e os ignoro.

Quando vejo que Sarah tentou me ligar quinze vezes, aperto o celular com tanta força que quase quebro a tela. Jogo o celular no sofá e me dirijo à cozinha. Só há metade de uma garrafa de vinho tinto sobrando, mas meu nome parece estar escrito no rótulo. Nem me incomodo em pegar um copo.

Depois de tomar um gole gigantesco, volto ao sofá e ligo a tv. É claro que a primeira coisa que aparece é um programa de entretenimento sobre o escândalo com Sabru.

— Caramba, universo. — murmuro para a tela. — Eu normalmente gosto de um pouco de preliminares antes de ser fodida assim. Você poderia pelo menos me pagar o jantar.

Fico sentada lá como um zumbi e assisto ao circo da mídia cobrindo o escândalo. É o Sabrupocalipse, arrematado com entrevistas chorosas de fãs, profissionais de Hollywood especulando sobre o futuro do casal de ouro e até mesmo um gráfico predizendo o quanto as vendas de Rageheart sofrerão ou aumentarão se elas se separarem. Vão aumentar, a propósito.

Nem mesmo sei o motivo de eu estar vendo isso. Estupidez? Curiosidade doentia? Masoquismo puro? Depois de ter acreditado novamente em Sarah, acho que mereço essa punição.

Na tela, Bruna e Sarah saem do nosso local de ensaios e enfrentam a barreira de repórteres escandalosos e flashes. Estão de mãos dadas. Sarah parece incrível e contrita. Bruna parece incrível e devastada. Sarah diz tudo. Daniel a mandou fazer isso.

Ela está à beira das lágrimas o tempo todo, o que me faz acreditar que ou ela, genuinamente, lamenta muito por seus atos ou precisa ganhar a merda de um Oscar em um futuro próximo.

Odeio como fico emocionada quando ele diz:

— Em toda minha vida, só amei uma mulher. E me sinto péssima porque meus atos impensados e egoístas a magoaram. Posso apenas esperar que um dia ela entenda que só quero estar com ela e encontre uma maneira de me perdoar.

Ela olha diretamente para a câmera quando diz isso e seu desempenho é tão sincero e tocante que, ao final, até eu estou torcendo para que ela e Bruna consigam passar por essa confusão.

Meu Deus, eu preciso de mais vinho.
Tomo dois grandes goles e então troco o canal para uma reprise de Friends. Phoebe está explicando como Rachel e Ross são almas gêmeas.

— Ela é sua lagosta. — diz ela a Ross. — É um fato conhecido que as lagostas se apaixonam e ficam juntas a vida toda. Na verdade, você pode ver casais de lagostas velhas passeando pelos tanques, de garras dadas.

Imagino o que Phoebe diria se eu lhe contasse que minha lagosta não me escolheu. Ela decidiu ficar com a maravilhosa lagosta morena, cujas pernas são mais longas que meu corpo inteiro. Então, agora posso escolher outra lagosta, ou é isso? Eu vou passar pela vida sendo uma sem-lagosta?

Inesperadamente as lágrimas assomam e se espalham pelo meu rosto. Eu as limpo, impaciente.

— Que se danem você e as lagostas do mundo, Phoebe. Que se danem...

Não sei por quanto tempo chafurdo na dor e fixo o olhar na televisão. Tempo suficiente para terminar o vinho, de qualquer forma. Estou considerando sair para comprar mais quando ouço uma batida na porta. Droga. Rallyson esquece as chaves com mais frequência do que se lembra delas. Acho que Bruna não precisou dele para consolá-la, no final das contas.

Impiedoso Coração (Sariette G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora