Duas semanas depois
Teatro Twelfth Night
Nova YorkA escada oscila quando eu me estico na ponta dos pés para agarrar o cabo de energia que pende da barra de iluminação. Quando enfio o plugue na tomada, dou um suspiro de alívio e me agarro ao topo da escada com as duas mãos.
Ser baixinha e ter que cuidar da instalação de canhões de luz não é a coisa mais fácil do mundo, mas a experiência me ensinou que os diretores de palco em peças de baixo orçamento precisam ser pau pra toda obra. A primeira semana de ensaios pode estar quase no fim, mas o trabalho duro para mim e minha equipe está apenas começando.
Paro quando ouço um ruído nos bastidores. Escuto com atenção por alguns segundos e tento ignorar meu coração que, de repente, resolve disparar.
— Olá?
Só um silêncio me responde.
Ótimo. Adoro ficar presa, sozinha em um teatro escuro, cercada de sons assustadores.
Não estou assustada de forma alguma.Estou no meio da escada quando grandes mãos se fecham em torno de meus quadris e me fazem gritar.
— Ahhh! Fique longe de mim, seu tarado! Eu sei lutar caratê!
Começo a me debater no mesmo instante, e chuto a escada durante o processo. Sou erguida por braços fortes que me amparam enquanto a escada tomba sobre o palco, fazendo estardalhaço.
— Ei! Calma aí, Daniel San. Sou eu.
Os braços se apertam em torno de mim e um cheiro familiar de tudo que envolve Sarah e seu mundo invade cada um dos meus sentidos. Agarro as suas mãos e solto o ar enquanto ela me põe no chão.
— Você quase me matou de susto! Que droga você pensa que está fazendo?
Quando me afasto e a encaro, Sarah parece estar se divertindo demais para o meu gosto.
— Sinto muito — diz ela, sem parecer sentir coisa alguma. — Não quis assustá-la. Pensei que tivesse percebido que eu estava atrás de você.
— Bem, não percebi, não. E se você se esgueirar atrás de mim novamente, vou obrigá-la a usar um sino no pescoço, como as vacas. — Afasto o cabelo do meu rosto e tento acalmar meu coração, que bate enlouquecidamente. — Afinal de contas, por que você está aqui? Todo mundo foi embora há horas.
Sarah se inclina sobre a escada e a coloca de pé.
— Acho que deixei minhas chaves no camarim. Pelo menos espero ter deixado lá. Caso contrário, vou dormir na sarjeta esta noite. E você, faz o quê aqui? Instalar a barra de iluminação não é tarefa do Sean?
— A mulher dele entrou em trabalho de parto e nós precisamos da barra de iluminação pronta para o ensaio de amanhã. Resolvi deixar tudo pronto antes de ir embora.
Ela para bem na minha frente, um pouco mais perto do que seria recomendável. Na penumbra, as sombras definem as linhas bem marcadas de seu maxilar, assim como a curva suave de seus lábios. Ela é tão infernalmente atraente, é frustrante.
O que ela disse é a mais pura verdade: passar dias e dias juntas, tentando ignorar a nossa avassaladora atração, está levando ambas ao limite.
— Então, você está aqui sozinha? — pergunta ela, baixinho. — Sem Rallyson?
Balanço a cabeça.
— Hoje é o aniversário de oitenta anos da avó dele. Todos os membros da família Chaves dessa região do país estão celebrando juntos em um jantar no Four Seasons.
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Impiedoso Coração (Sariette G!P)
Hayran KurguJuliette Freire - Não namora atores. Sarah Andrade - A atriz Quando tudo o que aconteceu entre elas (e o que poderia ter acontecido) vem à tona... Sarah G!P - Se não gosta, não leia! •ADAPTAÇÃO•