18. Corre

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Rafaella entrou na sala de Gizelly e, como das últimas vezes, estava com o coração acelerado e as mãos suando.

- Rafa, se sente, por favor. Preciso te passar umas novas orientações.

Rafaella se sentou e ficou com o olhar fixo em sua chefe, demorou alguns segundos perdidas nos olhos castanhos de Gizelly, engoliu seco e balançou a cabeça positivamente, permitindo que Gizelly continuasse a conversa.

- A primeira orientação é que, qualquer pessoa, principalmente Gabriela, precisa ser anunciada antes de entrar aqui na sala. Vou avisar isso a ela, nem se preocupe que ela vai entender esse novo procedimento. Eu achei melhor que fosse assim porque precisamos mostrar para a Sofia que temos regras, que somos profissionais. - Rafaella não conseguiu conter o seu sorriso. Achou que, de alguma forma, ver loira pedindo permissão para entrar na sala de Gizelly seria uma cena prazerosa de presenciar.

- Certo, Bicalho! Pode deixar que eu anuncio a loira aze... a Gabriela. - Gizelly percebeu o tom de desdém que a maior utilizou ao se referir à sua ficante. Aquilo lhe pareceu engraçado e interessante. - Será que Rafaella sente ciúme de mim? - Pensou.

Olhando para o sorriso de Rafaella e subindo mais para observar o mar verde dos seus olhos, Gizelly tensionou. Tentando disfarçar os seus sentimentos confusos, preferiu prosseguir com a conversa.

- Outra orientação é que, em todas às quartas-feiras, não seja agendado nada no horário entre quinze às dezessete horas. Eu tenho um compromisso com a sua filha, não quero que nada atrapalhe. Tem algum problema nisso?

Rafaella viu, naquele momento, a oportunidade de saciar a sua curiosidade e saber o que tanto Sofia conversa com Gizelly.

- Posso saber o que vocês combinaram de fazer às quartas? O que Sofia anda aprontando?

- Bom, vou matar a sua curiosidade, senhorita. - Gizelly tinha percebido que Rafaella queria saber das conversas e tudo mais que Sofia anda fazendo na Bicalhos. Sabia que repassar para ela as informações sobre a menor fazia parte do plano que envolvia a aproximação entre mãe e filha.

- Eu e Sofia marcamos dela me ensinar a jogar alguns dos jogos que tenho. A nossa conversa, na maioria das vezes, está resumida a carros, jogos e filmes. A Sofia é muito esperta e antenada em tudo. É inteligente e parece bem disposta a me ajudar nesse projeto divertido. - Gizelly sorriu e piscou o olho para Rafaella. - Eu confesso que temos potencial para sermos amigas, apesar da grande diferença de idade. Essa amizade te incomodaria de alguma forma?

Rafaella sentiu sinceridade no carinho de Gizelly por sua filha e aquilo lhe agradou. Estava pronta para responder ao questionamento de Gizelly quando escutou sirenes tocando alto.

- O que é isso? - Questionou Rafaella olhando assustada para Gizelly.

Gizelly se levantou da cadeira de maneira desastrada, derramou café em sua calça, mas isso não a impediu de rapidamente pegar na mão de Rafaella.

- Bora, corre! É alarme de incêndio.

Gizelly abriu a porta corta-fogo que dava acesso à escadaria e continuou puxando Rafaella, sempre estimulando para que ela corresse mais. Começou a guiar a mulher para que passasse, com rapidez, entre as pessoas que também corriam descendo as escadas.

Rafaella estava respirando com dificuldade por causa do cansaço, correr pelas escadas descendo seis andares foi, de longe, o exercício físico mais pesado dos últimos anos.

Ao chegar do lado de fora do prédio, Gizelly puxou Rafaella para seus braços, seus instintos diziam que precisava proteger a mulher. A maior, ainda respirando com dificuldade, olhou para toda a fachada do prédio e percebeu que não havia fumaça saindo de nenhum dos andares.

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