9. É o Inferno

167 24 2
                                    

POV Rafaella

Assim que consegui instalar o aplicativo que Gizelly disse para eu baixar no meu celular e computador, comecei a olhar a agenda de minha chefe.

Ela tinha compromissos quase todos os dias, tinha encontros com outros empresários e inúmeras visitas a obras de engenharia da Bicalhos. Inclusive, logo cedo a minha chefe tinha ido realizar uma dessas visitas. 

Sem nada mais o que fazer, busquei o meu livro com assuntos da faculdade e me perdi nas horas de tanto estudar.

Quando deu quatro horas da tarde, ainda de cabeça baixa por estar lendo o livro que estava sobre a mesa, escuto umas pisadas de salto alto que me lembravam o andar de uma pessoa conhecida. - Mas não poderia ser! - Pensei.

Levanto a cabeça e me questiono. - O que essa criatura quer por aqui?

Gabriela veio até perto da minha mesa, com seus trajes curtos de sempre, um olhar que muito se assemelha a soberba (mas posso estar enganada), com o seu peculiar sorriso dissimulado no rosto, e me diz: - Avisa a sua chefe que quero falar com ela, querida. Ela está me esperando e é urgente.

- Não me disse nem boa tarde. É uma vaca mesmo! - apenas pensei. Os meus modos não me permitem externar o que penso sobre Gabriela.

Naquele momento, eu fiquei confusa sobre o que fazer com o pedido daquela mulher, uma vez que Gizelly me pediu para não passar nenhuma ligação e nem me comunicar, de imediato, com ela. Eu tenho que esperar a mulher maluca me chamar.

Gizelly, horas antes, enfatizou que eu só deveria entrar em contato com ela apenas quando ela mesma me convocasse e eu sou obediente no trabalho. Eu preciso dele para sustentar a mim e a meu anjo em forma de filha.

Mas e aí? Como eu falaria com Gizelly e avisaria que a criatura loira estava ali, esperando para entrar em sua sala? - Fiquei me questionando.

Depois de poucos minutos pensando e vendo que Gabriela já estava um tanto impaciente em minha frente, num gesto ainda receioso, eu puxo o telefone do gancho e disco o ramal da minha chefe. - Senhora Bicalho, Gabriela Martins está aqui fora, ela disse que a senhora a espera e é urgente. O que eu digo a ela?

Escutei uma respiração profunda vindo do outro lado da linha e depois, com uma voz baixa e rouca, Gizelly me pediu para autorizar a entrada da loira.

Assim que informei que a sua entrada foi autorizada, a criatura loira, rebolativa, entrou na sala da presidência.

Alguns minutos depois...

Estava concentrada nos meus estudos quando começo a escutar barulhos quase esquecidos e não reconhecidos pela minha mente.

Depois que ouvi um grito um pouco mais alto e agudo, que se assemelhava com grunhidos de uma gata no cio, conclui: - Oh não! Elas estão fazendo sexo.

Curiosa para confirmar se era de fato isso que estava ocorrendo, eu me aproximei mais da porta e tentando escutar melhor alguma coisa, coloco o meu ouvido naquele pedaço de madeira e foi aí que escutei. - Gabriela, você tem que gemer mais baixo. Não devemos chamar tanta atenção. Já basta o escândalo de sexta-feira. - Em seguida eu escuto. - Tá certo, mas me fode forte, vai, estou quase gozando.

 As palavras de Gabriela saíram de uma forma tão melosa e gemida que os meus pelos do corpo se arrepiaram. - Eu estava sentindo nojo? Eu acho que poderia ser isso. - Conclui meu pensamento.

Mesmo sentindo algo estranho, eu me permiti a continuar a ouvir a "conversa" daquelas duas.

- Você é gostosa demais, vou te foder como você gosta. Vire-se de costas que eu vou buscar o lubrificante. - Escutei a voz rouca de Gizelly e senti algo no pé da minha barriga. Era uma agonia que não consigo descrever, mas que fez as minhas pernas se fecharem e quase se cruzarem em uma pequena convulsão.

Eu fechei os olhos e imaginei a cena que ouvi. Um líquido começava a molhar a minha calcinha. Mas, de repente, não era mais a Gizelly que estava fodendo a Gabriela por trás. Era Flávio. A minha mente agitada começou a regredir para o dia em que fui traída por Flávio e, agora, não era mais Bianca que estava com ele naquele banheiro. Era Gabriela! A loira exuberante e traiçoeira estava quase engolindo a boca de Flávio...

Eu tampei os meus ouvidos. Não queria mais escutar nada do que vinha daquela sala. Eu começava a sentir ânsia de vômito. Precisava ir a algum banheiro.

Apressei os meus passos e desci até o quinto andar. Ali era o local onde eu tive um pouco de paz na vida. Eu fui ao banheiro daquele andar, me olhei no espelho e depois de alguns minutos tentando esvaziar a minha mente, saí em direção a sala de Fagundes. Não sabia ainda o que diria a ele, mas queria que Fagundes pudesse me tirar daquele inferno que era o sexto andar.

Bati na porta insistentemente. Depois de alguns minutos ainda batendo na porta e esperando Fagundes me atender, contrariando a minha razão que dizia que ele não estava mesmo lá, desisti e segui o caminho de volta para o meu local de trabalho.

Sentei na cadeira e novamente escutei um miado, desta vez mais baixo. Foi inevitável a minha conclusão.

- Puta que pariu. Elas não param! Isso é o inferno!

Conectei os fones de ouvido no computador. Posicionei as espumas do equipamento em meus ouvidos de uma forma que tampassem todo o barulho externo. Busquei "músicas para relaxar" no Youtube, achei uma sequência de músicas instrumentais que se misturavam com sons de cachoeiras, e abri o livro.

- Eu já vivi coisas piores. A Gizelly não é o Flávio e a Gabriela não é a Bianca. E nenhum deles me importam. Vou estudar, me formar e, em pouco tempo, tudo isso será uma história engraçacada da qual eu e Manu iremos rir bastante. - concluí o meu pensamento e me forcei a ler a página do livro de número 17.

Às exatas 17:00, desliguei o computador. Gabriela já havia saído e não posso dizer em que condições ela se foi porque eu nem ousei olhar para cima quando simplesmente ela passou.

Gizelly não me chamou mais para conversar e, por isso, até agradeci ao universo. Não sabia qual seria a minha reação se tivesse que falar com ela naquele momento.

Estava saindo do prédio da Bicalhos quando olhei no relógio e era exatamente 17:17. Talvez dezessete seja um bom número , talvez seja algum sinal - Eu pensei

Continua...

-----------------------------------------------

O que será que vem por aí?

Mesmo Sem EntenderOnde histórias criam vida. Descubra agora