16. Amizade

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Sofia não era uma garota tola. Ela sabia que a história que Bianca, a sua madrasta, insistia em contar sobre a separação de seus pais tinha muitos furos. Era nítido, para a garota, que a mulher se fazia de vítima, colocando a Rafaella como uma mãe egoísta, mas nada daquilo fazia sentido.

A situação sobre as conversas, às escondidas, com a outra parte de sua família estava angustiando a adolescente. Ela queria manter contato com seu irmão, que parecia ser uma criança engraçada e inteligente, porém sentia, não sabia a razão, que a convivência com seu pai não iria trazer coisas boas para a sua vida...

Sofia estava irritada por ter que acordar cedo mais uma vez. A sua rotina estava lhe cansando, não queria mais ter que sair para estudar pela manhã e ficar no colégio também à tarde para fazer aulas de futebol e, depois, reforço escolar.  Estava entendiada de fazer as mesmas coisas e ver as mesmas pessoas todos os dias. 

Naquela manhã, Sofia estranhou quando a sua mãe lhe chamou para conversar, isso antes mesmo de tomar o primeiro gole de café. Rafaella estava com um olhar triste e esse fato não passou despercebido pela filha. 

Tentando ter coragem para sugerir que Sofia começasse a trabalhar na Bicalhos, Rafaella colocou uma de suas mãos em cima do braço da menor e iniciou a conversa.

- Filha, eu tenho uma proposta para te fazer, e gostaria que você me escutasse com atenção...

Rafaella explicou do que se tratava o trabalho na empresa e quais seriam as suas atividades. Informou que elas tinham finalidades educativas e técnicas, preparando a adolescente para ter maturidade ao escolher o curso e também a profissão que pretende exercer, fora que lhe daria uma certa autonomia financeira, uma vez que receberia um salário mínimo por isso.

Sofia escutou toda a proposta da sua mãe, não queria demonstrar, mas tinha ficado super empolgada. Viu naquilo a oportunidade de mudar a sua rotina entediante.

Sofia, fingindo aborrecimento, falou: - Mãe, eu não tenho escolha, né? Parece que você já planejou tudo para mim, não tenho nem como negar. - Por dentro a garota vibrou com as novas informações, mas não daria o braço a torcer, estava com sentimentos muito confusos diante de tudo que acontecia em sua vida.

Rafaella explicou que ela não precisaria aceitar o trabalho como menor aprendiz caso não fosse a sua vontade, mas Sofia finalizou dizendo "Eu vou trabalhar, não se preocupe, só me diga o dia que vou começar". 

Com a proposta aceita, a mãe calmamente explicou que ela poderia começar em quinze dias, que esse tempo seria necessário para ajustar os horários a essa nova dinâmica. E, assim, no final da conversa das duas, parecia que tudo estava se encaminhando para que Sofia pudesse iniciar essa nova jornada. A garota tinha esperança de que, talvez, essa mudança aquietasse mais o seu coração.

...

Sofia estava ansiosa para o seu primeiro dia na Bicalhos. Conforme orientado por sua mãe, assim que chegou na empresa, ela foi ao Recursos Humanos para preencher formulários e entregar a documentação necessária. O gestor já estava ciente que Sofia era um caso especial, o contrato foi ajustado a pedido da chefe maior, a Presidente Gizelly Bicalhos. A garota não faria as seis horas diárias, porém teria que fazer todos os cursos que eram realizados de forma virtual, projetados duas vezes na semana na sala de reuniões do oitavo andar, onde todos os menores se juntavam para assistir às aulas de cunho técnico-profissional.

Depois de pouco mais de uma hora de instruções e entrega de apostilas e manuais, Sofia seguiu, acompanhada do gestor, até o sexto andar.

Assim que o elevador panorâmico abriu a porta, Sofia admirou o luxo e a modernidade do local. Todo o prédio era elegante, mas aquele andar em específico era extraordinário. O designer das janelas, paredes e salas tornavam o ambiente extremamente luxuoso.

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