Pov. Bianca
Eu tenho vários arrependimentos, mas o que mais me deixou sequelas foi eu ter agido com tanta maldade com Rafaella. Eu sempre a amei, queria chamar a sua atenção, tê-la perto de mim a qualquer custo. Eu só não entendia que esse amor era diferente do que eu imaginava naquela época.
Consegui ficar bastante tempo na Bicalhos. Nos primeiros meses eu fiz da vida da Rafaella um verdadeiro inferno, sempre inventando e espalhando alguma fofoca, distorcendo a realidade a meu favor (eu achava isso). Fazia de tudo para que o relacionamento entre Gizelly e ela acabasse e eu pudesse, com isso, ter a chance de viver o meu romance com a mulher que eu pensava ser o meu par perfeito.
Antônio costumava me procurar para saber das novidades. E, assim como eu, ele tinha fixação por Rafaella. Porém, mesmo eu sabendo disso, ele não me causava ciúmes, pois eu sabia que ele não teria chances com a mulher que eu desejava, eu não deixaria que essa aproximação fosse além do que eu queria. Ele era apenas uma peça no meu tabuleiro, mas eu que daria o xeque mate.
Eu me aproveitei de várias situações para me aproximar da Rafa, principalmente quando ela estava triste ou decepcionada com as fofocas que ela escutava.
Marcela, apesar de ser mais próxima de Gizelly, também gostava de ouvir as histórias inventadas por mim sobre a Rafaella. Acabava que também jogava um pouco de veneno do outro lado. Eu costumava dizer para a loira que Rafaella e Antônio eram muito íntimos, do tipo que chegava a ser "estranho". Eu tinha esperança da "amiga" passar as informações para a Gizelly, e muitas vezes isso realmente aconteceu.
Pude ouvir algumas das brigas que ocorriam na sala da presidência. A minha chefe gritava sobre estar sendo traída dentro da própria empresa. No começo, achava engraçado, mas, com o tempo, percebi que o choro de Rafaella não me causava bons sentimentos, estava me deixando para baixo também.
Eu não fui demitida da Bicalhos, fui transferida para o setor de RH da empresa e pude conhecer a pessoa que me tornou uma pessoa melhor. Eu me apaixonei de verdade por Mariana Gonzalez desde o nosso primeiro momento. A morena me cativou com o seu sorriso leve, ingênuo, puro, e que tanto contrastava com a minha essência, com o meu egoísmo. Mas a vida é assim, surpreende-nos e, quando se percebe, há novos caminhos, novas escolhas.
Antes eu não acreditava na mudança do ser humano, mas eu era a prova viva de que as pessoas podem mudar a depender das circunstâncias.
Eu vim de uma família muito pobre, faltava quase tudo dentro de casa, principalmente o amor. A minha mãe competia comigo. Na adolescência, se um homem me achasse bonita, ela dizia para ele que em mim não havia qualquer beleza, que eu tinha dentes tortos e uma bunda que precisava de exercícios físicos. Dizia que eu era burra e não seria nada nessa vida. Ela quase teve razão quanto a isso, quase virei um nada, aliás, menos do que o nada, eu estava me tornando uma pessoa repugnante, sem amigos, sem amor, apenas com o meu lindo filho que foi fruto de uma traição e, por pouco, não fui capaz de amá-lo.
Eu me sentia suja todas as vezes em que pensava nas merdas que eu fiz, mas não podia voltar ao passado e modificar as coisas.
Eu formulei um plano para tentar me redimir um pouco das coisas terríveis que fiz à Rafa, e para que ele desse certo, eu tive que pedir a minha demissão da Bicalhos e ir trabalhar na mesma empresa em que a Rafaella e o seu atual namorado, Allan Souza, trabalhavam.
Pov Gizelly
Eu sonhei com Rafaella mais uma vez. No sonho, eu segurava uma de suas mãos e caminhava pela praia. Nós estávamos vestidas de branco, com os pés descalços, fazendo pegadas na areia enquanto andávamos em direção a uma casa branca, que estava tão distante que ela mais parecia um ponto minúsculo no quase infinito, cercado de coqueiros altos e lindas fruteiras.
Quando eu acordei e vi que ao meu lado estava uma mulher diferente da que eu amava, eu me permiti chorar. Chorei tanto que foi inevitável soltar soluços, que mesmo baixos, poderiam ser ouvidos pela a minha acompanhante.
Eu não queria conversar sobre a dor que eu estava sentindo naquela manhã, então eu decidi me levantar e tomar um banho, queria que a água que descia do chuveiro se misturasse com as minhas lágrimas e ela levasse de mim a angústia que insistia em ficar em meu peito. Foram meses de crises de ciúme. Depois, veio a solidão e a culpa de ter deixado Rafaella ir embora, de não ter lutado.
Percebi que sempre fui forte quando se tratava de minhas decisões, sem envolver outra pessoa. Quando tive que me proteger do Talles, eu não pensei em ninguém além de mim. Eu me formei nas faculdades que precisava para administrar a empresa e, seguindo todos os meus instintos de sobrevivência, eu me blindei de sentimentos profundos... eu só não esperava encontrar alguém como Rafaella, que me forçasse a pensar além de mim.
Foram meses de afastamento, eu mal recebia notícias da Rafa, só fiquei sabendo que ela estava namorando com um rapaz chamado Allan porque a Marcela me disse. Por falar nela, preciso dizer que ficamos amigas e que, embora eu ache que ela nutria algo além de amizade por mim, eu frisei para ela que jamais ficaria com alguém comprometido. Não faria esse mal para ninguém, ainda mais sabendo que a Luiza sofreria e, essa sim, ficou minha amiga-irmã em pouco tempo de convivência. Eu conheci melhor a Luiza na festa de aniversário de Luana. Foi lá também que reencontrei a Sofia e retomamos o contato, que ficou quase que diário.
Eu me segurava, sempre, para não perguntar à Sofia como Rafaella estava e, embora não entrássemos diretamente no assunto, a garota dava um jeito de soltar algumas informações sobre a vida de sua mãe. Apesar de serem migalhas, para mim, aquelas informações valiam mais que qualquer tesouro. Eu precisava saber de qualquer coisa da Rafaella.
Voltando para aquela manhã melancólica, lembro que saí do banheiro diretamente para o closet para me vestir formalmente, coloquei calça preta social, uma blusa de tecido leve e sandália de salto médio, tudo preto para combinar com o meu humor enlutado. Eu iria ter uma reunião de trabalho, mas eu estava completamente sem vontade de ver gente, pedindo aos deuses que encontrasse algum sentido para continuar trabalhando, apenas somando dinheiro.
A mulher que ainda estava na minha cama era Ivy. Não foi surpresa para ninguém quando a mídia soltou que eu estava noiva e até casada com a morena, já tínhamos aparecido algumas vezes juntas. O que talvez a maioria não saiba é que eu não pedi ninguém em noivado ou casei com a Ivy, apenas tenho amizade e, casualmente, noites de puro sexo com a morena de olhos verdes.
...
Cheguei no hotel em que ocorreria a reunião e me sentei em uma das cadeiras dispostas ao redor da longa mesa de madeira que estava na sala. Eu nunca fui de fazer rezas ou orações, porém, como eu disse antes, eu acordei melancólica, enlutada, tanto que pareceu fazer sentido quando eu comecei a rezar um "Pai Nosso" em voz baixa. Ao final da oração, pedi que Deus, o Universo ou qualquer Ser superior de energia bondosa me mostrasse o caminho que me levasse de volta a algum tipo de felicidade. Eu estava por um fio de sair daquela sala sufocante quando eu escuto a risada mais gostosa de todas, era ela e eu não poderia acreditar naquilo.
Como um sinal que precisava, Rafaella entrou na sala como nos meus sonhos, linda, com os cabelos soltos, um vestido angelical e... - Grávida?!
Balancei a cabeça e só assim pude ver que tinha cochilado enquanto esperava as pessoas chegarem para a reunião.
Não compreendi o sonho de imediato, mas me surgiu uma vontade pungente de ligar para Rafaella e saber como ela estava. Eu daria um jeito de fazer isso, de qualquer forma! Se o sinal era outro, não soube decidir naquele momento, mas tinha entendido que nada fazia sentido em minha vida sem ter a mulher que amo ao meu lado.
...
- Alô, Rafaella?!
(continua)
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* Demorei porque ocorreram vários problemas de saúde na minha família + essa história não vai ficar sem um final!
* Essa att é em homenagem a #GirandinoDay. Amo fazer parte dessa loucura que é GIRAFA.
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Mesmo Sem Entender
FanfictionQuando os traumas fazem perder a noção do que é real ou não, o amor prevalece?! Avisos: *O começo da história é um tanto tenso, mas recomendo a continuar lendo. Pode melhorar ;-) * Tem sexo e violência, mas não só isso. * É ficção.