17. Inexplicável

183 27 9
                                    

Rafaella tinha acabado de se levantar da cadeira e seguiu para o banheiro às pressas. Ela se perdeu no tempo estudando para uma prova. Quando se deu conta, viu que estava quase na hora de pegar o metrô.

Sofia, naquele dia, saiu às dezessete horas em ponto. A menina estava apressada para chegar em casa e fazer um trabalho do colégio que precisava entregar no outro dia, pela manhã.

Havia se passado pouco mais de uma semana desde o início do trabalho de Sofia na Bicalhos. Ela estava adorando a nova rotina, sem falar na sua chefe, por quem começou a ter um carinho especial. Nesse período, Sofia conseguiu encontrar com Gizelly apenas três vezes, mas já estava certo que, na semana seguinte, começariam as aulas sobre um assunto importante para ambas - os jogos. Ao lembrar desse acordo, Sofia sempre soltava risos bobos, gostava da ideia de se divertir no trabalho.

Já Rafaella, apesar de admirar a aproximação de Sofia e Gizelly, estranhou a afinidade repentina entre as duas. Decidiu que iria conversar com a sua chefe para saber o que tanto conversam, isso também poderia ajudar a saber o que fazer em relação à sua filha, queria entender melhor a garota.

Saindo do banheiro pronta para pegar o elevador e correr para não perder o horário do metrô, ainda de cabeça baixa organizando a sua bolsa, Rafaella trombou forte com um corpo que não viu à sua frente. Ao levantar o rosto, percebeu que Gizelly colocava a mão no abdome, como se tivesse sido atingida no local.

- Gi-Gizelly, me desculpe. Juro que não te vi. Você está bem? tá doendo? - A maior se aproximou de sua chefe e tocou o abdome dela, estava sinceramente preocupada.

Gizelly levantou um pouco a blusa para olhar se tinha alguma parte machucada e foi inevitável para Rafaella não olhar o corpo da menor. - Nossa! Ela tem uma barriga chapada, com leves tanquinhos. Que horas essa mulher malha? - Pensou Rafaella.

Rafaella estava tão inerte em seus pensamentos que só se deu conta que ainda estava com mão na barriga da outra quando Gizelly começou a falar.

- Não foi nada, Rafa. - Ofereceu um sorriso de lado, e a maior retirou, com certa timidez, a mão do corpo de Gizelly - O seu cotovelo é bem forte, heim? A sorte que não pegou nenhum órgão vital, talvez tenha que extrair o baço, mas sobreviverei. - Gizelly tentou amenizar a situação e, só no fim da última frase, percebeu que havia chamado a sua secretária pelo apelido.

- Quer dizer, me perdoe por te chamar de Rafa, é que... veja, errr...

Gizelly não sabia mais o que falar, parecia que era um dom que Rafaella tinha, conseguia lhe tirar o fôlego e as palavras.

- Não precisa pedir desculpas. Para ser bem sincera, eu prefiro que me chamem de Rafa. Quando me chamam de Rafaella, parece que estão brigando comigo. - Sorriu para a outra.

- Mas é claro que estamos em um ambiente de trabalho e, se você achar melhor, pode continuar me chamando de Rafaella. E sobre o esbarrão... Me desculpe mesmo! Eu estou atrasada, tava correndo porque o metrô saí de 17:20 e...

Rafaella olhou para o relógio e viu que era 17:17. Levantou um lado dos lábios, em um meio sorriso, gostava quando via números iguais, achava que era um sinal do universo sobre algo bom que viria. Continuou - Acho que vou perder de toda forma. Faltam só três minutos para o metrô sair. - Falou e, sem perceber, fez um leve beicinho.

Gizelly ficou desnorteada com o jeito carinhoso com que Rafaella tinha tocado o seu abdome, o que lhe causou um pequeno arrepio e, também, com o jeito manhoso da maior dizer que perdeu a sua condução para a faculdade. Nem pensou duas vezes e perguntou:

- Quer que eu te leve? Eu não tenho nenhum compromisso por agora. Também não é justo você ter perdido o metrô porque eu me meti na sua frente e te atrapalhei toda. - Gizelly deu uma piscada e lançou um sorriso conquistador, tudo na tentativa de convencer a outra a aceitar a carona que ofereceu.

Mesmo Sem EntenderOnde histórias criam vida. Descubra agora