34. Agora

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Pov. Rafaella

Bianca me contou uma história que poderia ser absurda para outra pessoa, mas nem tanto para mim, pois nada vindo das atitudes de Flávio me surpreenderia. No final, ela me pediu para que eu conversasse com Gizelly e a convencesse a não demiti-la. Eu estava confusa porque, mesmo diante daquela situação constrangedora com a ex-amante do meu ex-marido, Bianca pode ter sido também vítima de Flávio e, no meio disso tudo, tinha o filho dela que é o irmão de Sofia, eu não queria que o menino passasse por alguma necessidade por culpa dos pais.

- Bianca, eu não posso te prometer nada. Vou falar com a Gizelly, vou pedir para ela te dar um prazo para você arrumar outro emprego, mas não quero e nem vou conviver com você por muito tempo. - Bianca olhou para mim e baixou a cabeça.

- Eu agradeço por isso. Prometo que vou correr atrás de outro lugar para trabalhar. - Falou com os olhos baixos e a voz mansa.

- Agora eu preciso falar com a Gizelly. Pode se retirar da sala, por favor. - Falei já me levantando da cadeira e indo em direção à saída. Abri e segurei a porta para que a mulher se retirasse do local.

- Rafa, mais uma vez, obrigada! - Bianca falou ao parar do meu lado, antes de sair rapidamente da sala e me deixar com um misto de raiva e angústia. "Como ela ousa me chamar de Rafa? Eu não sei se aguento isso."

Poucos minutos depois, eu segui para o sexto andar, bati na porta da presidência. Assim que a minha namorada abriu a porta, pude ver que ela tinha derramado algumas lágrimas, pois a sua face estava levemente molhada.

- Gi, posso falar contigo? - Disse segurando a sua mão. Gizelly permaneceu imóvel na entrada da sala.

Percebendo que eu não entraria no local até ela me convidar, em um tom de impaciência, falou:

- Você tem noção do quanto foi injusta comigo, Rafaella? Faz anos que não derramo uma lágrima sequer por alguém e você...

Eu não permiti que ela continuasse, abracei o seu corpo com certa força e colei os meus lábios nos seus. Eu tinha urgência em tirar qualquer dor que eu tenha causado a ela. No início, Gizelly não movia os seus lábios, parecia estar ausente, mas insisti segurando a sua nuca, deslizando as minhas mãos para a sua face. Ela lutava para não corresponder aos meus beijos, mas passou a abrir os lábios aos poucos.

Fiquei agoniada pela atitude de Gizelly, pouco tinha me correspondido, parei e olhei em seus olhos, percebi que ela não estava bem, decidi ficar alguns segundos em silêncio. Eu não sabia o que fazer. Alguns tempo depois, não aguentando mais a inércia de nós duas, falei:

- Me perdoa, Gi. Quando eu vi aquela mulher ao seu lado, eu senti uma avalanche de sentimentos ruins, eu me vi novamente no local que o Flávio me deixou, humilhada, abandonada. Eu sei que você não é ele. - Beijei a sua bochecha, mas Gizelly permanecia com um semblante fechado e um olhar frio.

- Rafaella, eu não posso imaginar o que você passou e nem tô dizendo que faria diferente. Mas eu sempre fui sozinha, vivia em paz de certa forma, você está me bagunçando de um jeito que eu não me reconheço. Não sei se quero permitir que alguém me destrua, mesmo que essa pessoa, da boca para fora, diga gostar de mim. - Gizelly me olhava séria, com o olhar gélido. - Eu senti um desespero enorme quando você passou por aquela porta, Rafaella. - Ela apontou em direção à saída da sala e continuou. - Eu não queria te perder e, depois de conversar contigo e de me acalmar, percebi o quanto fui ridícula, porque eu não posso perder aquilo que eu não tenho.

Gizelly se libertou da minha mão, afastou-se de mim e pegou um copo ainda cheio de líquido amarelado, o qual supus ser uísque, e seguiu até a janela, ficando de costas para mim. Seguiu dizendo:

Mesmo Sem EntenderOnde histórias criam vida. Descubra agora