14. Passado

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Depois que Gizelly enfatizou que Loreto não deveria mais comparecer ao sexto andar da Bicalhos sem ser convocado, a mulher seguiu para a sua sala com mil e um pensamentos pairando em sua mente.

Do lado de fora da sala da presidência, encontrava-se uma Rafaella extremamente chateada com a sua chefe. Ela estava ciente de que a situação entre as duas precisava ser esclarecida e estava tomando coragem para ir falar com Gizelly. Então, respirou profundamente e tentou ensaiar o que falaria.

- Quem você pensa que é para falar daquele jeito comigo? Está achando que eu sou o quê? Pensa que eu sou alguma das mulheres com quem você se relaciona? - Rafaella parou o ensaio e corrigiu a sua fala, pensou que extrapolou os limites da conversa, não precisaria falar das outras mulheres para defender a sua própria honra.

- Gizelly, eu não gostei da forma como você me tratou. Tem alguma razão para isso? Me explique, por favor, porque estou achando toda situação estranha e injusta. - Rafaella deu um breve sorriso com a sua fala decorada e concluiu que iria começar a conversa daquele jeito que tinha acabado de ensaiar.

Rafaella arrumou o seu cabelo, colocou um pouco de perfume em seus pulsos e pescoço, levantou-se da cadeira e iniciou os primeiros passos em direção ao seu objetivo. Porém, antes mesmo que pudesse bater na porta, ouviu o seu telefone tocar. Olhou em direção ao equipamento e foi se aproximando para ver o nome que aparecia na tela. Teve um leve susto quando percebeu que era do colégio de Sofia. - O que aconteceu com a minha filha? - Pensou.

Imediatamente se apressou para atender a ligação. Era a diretora da escola que estava no outro lado da linha.

- Senhora Rafaella, aconteceu um incidente com a sua filha e já adianto que ela está bem, porém ela precisou levar três pontos na mão. Preciso que venha aqui, o mais rápido possível, para termos uma conversa sobre o comportamento da Sofia.

Rafaella confirmou para a diretora que chegaria no colégio em pouco mais de uma hora. Após, não pensou duas vezes, arrumou a sua bolsa, saiu da Bicalhos e seguiu para o local marcado. Chegando lá, a diretora Júlia estava sentada em uma cadeira, já Sofia se encontrava no sofá ao lado da mesa, com a cabeça baixa. Rafaella, pediu licença, entrou na sala e se sentou em frente à Julia, que deu boa tarde à Rafaella e iniciou a conversa.

- Primeiramente, preciso informar que Sofia é uma excelente aluna. Ela tira notas boas e tinha um comportamento exemplar... isso até hoje. -  Rafaella fechou os olhos em desapontamento com essa informação. A diretora continuou - Sofia estava no laboratório de química, os alunos do 1º ano estavam fazendo análises de amostras de células ... estava tudo normal até que Sofia, em um acesso de raiva, por uma situação que não me explicou ainda, bateu no tampo de vidro de uma mesa e cortou a mão.

Rafaella olhou com tristeza para Sofia que mantinha os olhos direcionados ao chão.

- Bom, ela vai ficar três dias sem vir para o colégio. A suspensão foi autorizada pelo conselho escolar, mas eu preciso que, no retorno dela, você venha junto para esclarecer se ela melhorou o comportamento e se existiu alguma razão plausível para o que ela fez.

A mãe da garota só assentiu, levantou-se, pegou no braço de Sofia de uma forma ainda delicada e a chamou para ir embora.

Rafaella não foi para a faculdade naquele dia. Queria conversar com a sua filha. Porém, Sofia foi o caminho todo calada, só se ouvia o barulho das pessoas no metrô e a voz de Rafaella insistindo, em vão, para que a sua filha explicasse o porquê dela ter batido em uma mesa de vidro e se cortado.

Já em sua casa, Rafaella não conseguiu obter nenhuma resposta de Sofia. Seu peito apertou, estava cansada de se sentir impotente.

...

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