Capítulo 06

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—— Levanta essa bunda ou vai se atrasar! —— Yumna tampou os ouvidos quando o seu pai entrou cantarolando no seu quarto. Ela sabia que era hora de aprontar para o primeiro dia de aula, mas acordar cedo numa manhã de segunda-feira era o pior pesadelo da albina.


—— Para que a gritaria? —— Resmungou sentando na cama ao ver o seu pai todo alegre e preparado para um novo dia.

—— Foi demais? Desculpa, filha. Vamos, se anime, hoje é o seu primeiro dia de aula —— Disse beijando a testa da menina que revirou os seus olhos.


—— Eu sei. —— Disse fugindo do toque do seu pai, ele ficou triste com a atitude de Yumna mas fez o máximo para não transparecer. —— Quer ajuda? —— Questionou ao ver as tranças desgovernadas na cabeça da filha.



—— Quero —— Kito quase pulou de alegria quando a filha sentou-se obedientemente esperando o pai organizar o seu cabelo. —— Yumna? —— A menina soltou o ar pelo nariz quando o seu pai a chamou.




—— Eu queria me desculpar por ter gritado com você —— Disse juntando as tranças para fazer um totó. —— Sou eu quem tem que se desculpar, pai! —— Respondeu Yumna.




—— Eu deveria ter respeitado o facto de não queres outro relacionamento mas… Queria poder me lembrar dele e talvez matar esse sentimento de culpa sempre que te vejo pensando nele —— Disse sincera surpreendendo o professor que virou a menina para ficar de frente a ela.


—— Há quanto tempo você se sente assim, filha? —— Questionou segurando o rosto da menina que tinha os olhos marejados. Ele sempre esperou que ela sentisse falta do seu pai mas sempre falava e mostrava fotos do seu falecido marido para que fosse presente na vida dela.

—— Sempre que vejo os meus colegas sendo acompanhados pelos pais, eu me pergunto como seria se o pai Joel estivesse connosco. Desculpa por tentar te cobrar —— Disse à Kito. A Yumna esfregou o rosto tentando espantar as lágrimas que insistiam em cair, os olhos claros reflectiam com clareza a dor que ela vem guardando ao longo dos anos e Kito sentiu-se mal por não ter percebido.


—— Não precisa se desculpar, filha, está tudo bem. Eu não posso trazer o seu pai de volta, mas eu quero que você saiba que ele era o melhor homem do mundo e ele quereria ver-te feliz. —— Yumna fungou deixando o coração do seu pai apertado.



—— Eu te amo e sempre estarei aqui para você, Yumna —— Assentiu estendendo os braços para abraçar o seu pai. Ela deixou-se acalmar pelo aroma doce que o seu pai exalava e desde criança sempre gostou de senti-lo, a albina não sabia explicar mas aquilo trazia uma tranquilidade enorme para ela.





—— Senhor Kito, o patrão Patrick mandou avisar que está esperando no carro —— Yumna afastou do pai e o sorriso travesso dela deixou o homem envergonhado.


—— Não vai tendo ideias! —— A albina deu de ombros antes de ir se aprontar para o seu primeiro. —— Eu não disse nada. Pode ir na frente, eu encontro você no carro —— Gritou da casa de banho.



Patrick olhava para o seu relógio impaciente com a demora do professor, ele tinha que ir treinar para o jogo que iria acontecer no fim de semana e não podia perder nem um segundo do seu treino.





—— Quando vai contar para ele? —— Sara questiona entediada como sempre, cruzou os braços esperando a resposta do seu irmão. —— Cedo ou tarde ele vai descobrir e nem serei eu a contar —— Respondeu rude.



—— Não acha que seria melhor você contar? Pelo menos eu acho que seria mui… E você precisa beber agora? —— Resmungou a morena quando o tatuado tirou uma garrafa de cerveja mas logo deixou no lugar quando viu Kito vindo em direção a eles.


Kit trajava uma saia social preta apertada que terminava nos seus joelhos e uma camisa social branca por dentro junto de um blazer vermelho e saltos pretos. As suas tranças amarradas num rabo de cavalo alto que realçava o seu lindo rosto.

—— Os seus olhos, Pat —— Sara disse batendo no ombro dele. O homem tatuado chacoalhou a sua cabeça tentando se controlar, ele não queria parecer um lobo no cio na frente dele.

—— Se importam em esperar um pouco, a Yumna está vindo mas não demora —— Patrick virou o rosto irritado e não fez questão de esconder. —— Pai! —— Gritou a menina correndo em direção a eles e Patrick sentiu-se aliviado por causa do treino.




—— Nova escola, aqui vamos nós! —— Disse Yumna entrando no carro de filho mais velhos dos Ironhrust. Yumna e Logo admiravam juntos a bela vista que aquele cidade tinha. Dava para ver animais selvagens passando, a grama verde e árvores próximas a cidade criava um ambiente tão reconfortante.


—— Vocês precisam conhecer as fadas que vivem na floresta —— Disse Sara e Lito caiu na gargalhada assim que ouviu a fala dela mas calou-se ao notar a seriedade no rosto dela. —— Estás falando sério? Fadas? E depois, vai me dizer que você é um lobisomem? —— Brincou porém o silêncio o deixou com um certo medo.



—— O meu pai não contou nada para você? —— Questionou Sara mesmo sabendo que ele não fazia ideia sobre as criaturas que ali viviam e faziam questão de se esconder quando novos humanos chegavam a cidade.


—— Com… Chegamos! —— Patrick falou parando o carro e Yumna suspirou aliviada, ela sabia que Sara não estava brincando mas não sabia como o seu pai reagiria ao saber que viviam entre criaturas sobrenaturais.


—— Depois conversamos, professor. —— Disse Sara saindo do carro. Kito encarou o enorme prédio onde iria passar lecionar nos últimos anos e preparou-se mentalmente antes de sair do carro ao contrário de Yumna que foi as pressas para dentro do recinto escolar.




—— Eu posso te acompanho a sala do director, professor —— Patrick pediu surpreendendo o mais velho. —— Tu és mesmo difícil de entender, sabias? —— Indagou ao ver o maior levando a sua bolsa e a outra pasta onde tinha o material para o trabalho.

—— Sou? —— Retrucou com uma sobrancelha erguida. —— Num momento pareces me odiar e no outro és o maior cavaleiro. Por acaso incómodo você? —— Os olhos castanhos de Kito firmaram nos azuis de Patrick ansiosos por uma resposta.



—— Esse é o meu jeito, não tem nada a ver com você. Podemos ir? —— Deu espaço para o menor ir na frente e fazia questão de fuzilar qualquer um que olhasse para Kito durante muito tempo. —— É aqui. Vejo você na aula —— Despediu-se entregando os pertences do seu professor.


—— Entra! —— Ressoou a voz grave do outro lado da porta e o humano entrou no escritório. Ao entrar se deparou com um homem que tinha a pele escura com a sua, olhos negros penetrantes que o fizeram sentir uma formiga na frente dele, o homem apoiou as mãos no queixo esperando que Kito continuassem.



—— Sente-se, senhor Mendes —— Obedeceu indo acomodar-se na cadeira à sua frente. —— Sou o Jaxon Silverblood, director desta instituição e responsável por todos que aqui trabalham. —— Apresentou-se sério.

—— Não tenho muito tempo para conversa. Tem um aluno esperando para guia-lo até a sua primeira turma, qualquer coisa me procure, Mendes. Você pode ir! —— Falou sem deixar brechas para Kito ao menos se apresentar e mesmo assim respirou fundo antes de sair do escritório do chefe ansioso por conhecer os seus novos alunos.

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