16. Desvio de rota

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O clima estava tão agradável que a preguiça estava presente nos três tripulantes do Rainbow Fox. Claro, depois de dois tufões, uma nevasca repentina e o ataque de três reis dos mares, até Benn Beckaman estava cansado e sem vontade de fazer coisa alguma. Shanks estava deitado ao seu lado no chão do convés, arfando como um desesperado depois de sentir na pele o clima maluco daqueles mares.

Mia, anotando em sua prancheta como se nada tivesse acontecido, sorri para os dois enquanto enxugava o suor da testa.

- Nenhuma avaria grave, talvez trocar as cordas e algumas roldanas. O modo submarino está intacto, tenho certeza que a viagem seria muito mais tranquila no mar profundo, mas até que gosto desse clima do Novo Mundo. 

Benn coloca o cigarro molhado na boca sem acende-lo, virando-se de lado para encarar a inventora.

- Esse navio é bem impressionante mesmo. - O pirata ajeitou os cabelos grisalhos para trás e deu algumas batucadas no chão de madeira escura. - Saímos ilesos depois de tudo aquilo. Seu pessoal sabe o que faz.

Antes que os adultos pudessem prosseguir com a conversa, um ronco bem alto foi ouvido e Shanks ficou imediatamente morrendo de vergonha.

- Acho... que podemos comer alguma coisa, não é? - O garoto forçou um sorriso, apalpando a barriga que reclamava pela negligência. 

Os três seguem para a cozinha, que estava um pouco bagunçada, mas ainda estava boa o suficiente para fazer uma refeição leve. Benn esquentava um pouco de água e Mia separava alguns pratos e talheres na mesa. Shanks, observando os dois adultos trabalharem, pensava bem nas palavras que iria dizer. Teria que convence-los com isso ou teria que usar sua arma secreta.

- Nossa, que cheiro bom! - O ruivinho disse disfarçando seu leve nervosismo, sentindo o aroma delicioso da carne ao molho madeira, das batatas assadas que Benn sabia fazer muito bem e até a salada colorida que Mia se atreveu a preparar parecia deliciosa. Por alguns momentos, sua mente distraída esqueceu o que iria falar e sua boca encheu-se de água. Já com os pratos cheios e os três sentados à mesa, depois de duas garfadas, Shanks resolve falar. - Sabe, a gente bem que podia pegar mais uma estrela antes de ir para a nossa ilha.

- Por que? - Mia levantou uma das sobrancelhas enquanto enfiava uma garfada de folhas verdes na boca. - Aposto que com a ajuda do bando todo teremos praticamente todas as estrelas. Talvez chegue até a ficar adulto.

Shanks frisou as sobrancelhas. Esta era a questão, não queria voltar a ser adulto. Querer, queria, mas seu desejo era aproveitar um pouco mais essa vida tão divertida. Mesmo sendo criança, tinha noção de como ser adulto era complicado e perderia todas essas brincadeiras divertidas que fazia com Benn e Mia. Claro, ele tinha essa urgência de querer ficar forte para poder protege-los por isso treinava todos os dias e já sentia a diferença. Precisava ser firme em suas palavras, mostrar que sabia o suficiente das coisas e que não era mais uma criancinha chorona.

- Ehh... eu... - Droga! As primeiras palavras estavam difíceis de sair e Shanks havia treinado tanto antes! - Acho que a gente podia garantir e pegar mais uma estrela, sabe. Assim com certeza eu volto a ser adulto bem antes! - Olhou de Benn para Mia e não sentiu tanta segurança de que eles iriam aceitar desviar o caminho.

- Mas estamos tão perto da ilha, capitão. Com você crescendo mais um pouco fico até mais tranquilo em deixa-lo junto do restante do bando. - Aquilo foi um choque para Shanks. Ficar longe de Benn e Mia? Jamais! Não teve opção, usou a arma secreta. Benn arregalou os olhos quando percebeu as orbes lacrimosas do garoto. - O que? Eu disse algo errado?

Apenas mencionar o fato de que poderiam seguir viagem sem ele deixou Shanks desamparado. Tinha noção de que era um fardo por ser pequeno e fraco, mas poxa, estava treinando tanto! Para alguma coisa serviria. Quando percebeu, as gordas lágrimas escorriam pelas suas bochechas. "Droga, não era pra ser assim! Não sou uma criancinha chorona!", pensou o garoto. Piorou quando sentiu o afago na sua cabeça e o carinho nas suas costas.

- Vamos lá, capitão, o que houve? Por que está chorando? - Benn, ao contrário de Mia, perguntou ao garoto pois sabia que ele já estava na idade de saber dizer o que estava sentindo.

- Mordeu a língua? Bateu o joelho? Ou foi o cotovelo? Não gostou da minha salada? - Já Mia lançava uma saraivada de perguntas, algumas até sem sentido. - Foi a história que eu contei? Ou algum pesadelo que você lembrou? - E agora a inventora se tremia toda até Benn lhe dar um peteleco na testa.

- Que raios, Mia, você vai acabar deixando ele mais nervoso!

- Que?! Shanks, você está bravo comigo? O que eu fiz? Ai, ai, sai, para, Benn, seu besta! - Mas Benn já estava sem paciência, por isso beliscava a bochecha mais próxima de Mia.

Isso foi o suficiente para fazer Shanks se acalmar e perceber a real razão por querer continuar a aventura com esses dois. Enxugou o rosto com as costas das mãos e gargalhou, deixando Benn e Mia atônitos.

- Eu só... quero passar mais tempo com vocês. - Shanks abriu um belo sorriso e já não mais chorava. - Vamos pegar mais uma estrela e depois prometo que podemos ir para o nosso quartel general. O que acham?

Benn entendia esse sentimento, de não querer acabar logo com uma experiência tão legal e agradável que nunca mais teriam. Sentou-se na cadeira e mordeu a carne macia e suculenta.

- Bom, se esse é o desejo do capitão, não posso me opor. - Enquanto mastigava, olhou para Mia, que abriu a boca em protesto, mas desistiu. 

- Por mim, tudo bem. - Mia suspirou e sentou-se também. - Que tal você colocar em prática o que te ensinei, Shanks?

As orbes negras brilharam e Shanks não conseguia exprimir em palavras seu entusiasmo. Devorou todo o conteúdo do seu prato e disparou, puxando Mia para a sala de navegação.

Benn chegou alguns minutos depois, após fazer a limpeza do almoço. Sorriu admirado com a concentração do pequeno, que usava aquelas lapiseiras e réguas estranhas com tamanha destreza.

- E então, qual é a ilha que se encontra a estrela que localizamos?

Shanks segura o queixo como um verdadeiro pensador e como sua professora era muito boa, apontou, com convicção, para uma ilha no mapa.

- Ilha Kuraigana, se meus cálculos estiverem corretos. O que acha, Mia?

Com rapidez, Mia fez toda a medição novamente e realmente, o próximo destino deles seria a tal ilha. Shanks estranhou a feição aterrorizada da mulher, que virava lentamente para Benn.

- Não é onde aquele cara mora?

Benn massageou a nuca, não conseguindo esconder a preocupação.

- Pois é, acho que é mesmo. Não lembro dele ter se mudado.

Shanks olhava de um para o outro, sem entender o que estava acontecendo.

- Sabe, ele estava com sangue nos olhos quando nos encontramos na guerra. Certeza que ele queria me... - Mia faz um gesto com a mão passando rápido pela garganta e deixando a língua pra fora. Os dois olham para o garoto e sua confiança era tão grande que não tiverem coragem de voltar ao plano original.

Benn se agacha, olhando diretamente para Shanks.

- Me prometa, capitão, que ficará perto de mim, haja o que houver. E vamos ser rápidos, pegamos a estrela e damos o fora, ok? - Lançou um olhar para Mia, que concordou no mesmo instante. 

- Certo! Eu prometo, Benn!

E assim o navio raposa fez um desvio, seguindo sua nova rota para a escura ilha Kuraigana, torcendo para que um certo alguém não esteja em casa.

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N/A: um capítulo curtinho para uma nova aventura. Já sabem quem é que mora na ilha Kuraigana? Estão torcendo para ele estar em casa?

Muuuuuito obrigada por acompanharem essa aventura! Adoro também ler o comentário do que vocês estão achando, por isso fiquem a vontade.

Cuidem-se e bebam água!



Akagami no Baby?! (One Piece x OC)Onde histórias criam vida. Descubra agora