Mayara
Cinco anos se passaram e muitas coisas aconteceram. A moça que estava na cama ao lado da minha me ajudou a sair do hospital. Foi difícil porque ela não era minha responsável legalmente, mas, com um jeitinho, ela conseguiu.
Ela me trouxe para a capital do Rio de Janeiro. Eu morava no interior do Rio. Duas semanas depois, eu descobri que estava grávida. Eu surtei e queria até abortar, mas ela não deixou e falou que iria me ajudar com tudo. Ela é a dona do meu amor, a segunda pessoa que me salvou da escuridão eterna.
Dona Edna, a mulher mais importante da minha vida, hoje com seus 50 anos de muita sabedoria, me acolheu como sua filha, mesmo que isso tenha trazido algumas desavenças com seus familiares.
Mas isso não fez com que ela mudasse de ideia em me ajudar e me acolher. Hoje, ela é a avó mais babona deste mundo, kkk. Meu Henri é apaixonado por essa vovó.
Meu menino tem cinco aninhos; ele é esperto, muito atencioso e bastante carinhoso. Graças a Deus, ele puxou a mim em tudo: na cor dos olhos, na cor dos cabelos, e até mesmo os cachinhos são iguais aos meus quando eu era pequena.
Ele é a minha vida toda; me tirou do fundo do poço. Ao pensar que, em um momento de fragilidade e medo, eu cogitei abortar o meu menino, graças a Deus e à dona Edna, o meu Henri está aqui, lindo e forte.
.....
Nesse exato momento, estou de frente para o Morro Azul. Vim atrás de um emprego. Ah, Mayara, por que você não vai atrás de emprego pelo asfalto? Eu tentei, e me viraram as costas. Tenho os estudos completos, cursei administração e nada. Aqui será o último lugar de hoje, pois já rodei todo esse Rio só hoje.
Aqui estou eu, com a cara e a coragem, indo falar com um cara que está com uma arma maior do que ele. Eu não tive medo de falar com ele, muito menos da arma dele.
Xxx: Está perdida, Índia? - perguntou assim que parei na sua frente.
May: Mais ou menos. Vim aqui atrás de um trabalho. Aqui vai ser o último lugar de hoje, porque já rodei o Rio todo e estou morta de cansaço.
Xxx: Pô, tem uma pensão que está precisando de alguém lá para ajudar. Se você quiser, eu te levo lá, - ele falou, enquanto mexia no celular.
May: Só se for agora, você não tem noção do quanto eu estou precisando de um trabalho. Obrigada de verdade, viu? - falei, agradecendo.
Xxx: De nada, Índia. Pô, me chamo Foguinho. Quando precisar, é só chamar - falou, estendendo a mão.
May: Obrigada, Foguinho. Me chamo Mayara, mas pode me chamar de May. - falei enquanto nós andávamos até a tal pensão.
Foguinho: Prefiro te chamar de Índia mesmo, combina mais com você. - falou e parou em frente a uma pensão bem grande e linda, por sinal.
O lugar estava bem movimentado. Passei os olhos por todo o local e era bem bonito. Parece um restaurante/bar, tinha música tocando e era um lugar bem aconchegante.
Saí dos meus pensamentos com o Foguinho me cutucando.
Foguinho: Então, dona Ana, a senhora ainda está precisando de alguém para ajudar? - perguntou e levou um tapa na cabeça.
Dona Ana: Senhora é a desgraça da tua mãe, seu corno. - repreendeu e me olhou com um sorriso lindo.
Dona Ana: Eu estou precisando para ontem, minha filha. Se quiser começar agora, já pode, viu? - falou com suavidade e gentileza.
May: Que maravilha, eu também estou precisando de um trabalho para ontem. Só preciso almoçar, porque estou desde cedo na rua atrás de um trabalho - falei com um certo cansaço na voz.
D°Ana: Minha filha, até essa hora você não comeu nada. Sacovazio não para em pé. Senta aqui com o foguinho que eu vou trazer uma comida para você - falou e fez um carinho em minha mão.
Mas eu não posso aceitar, porque não tenho dinheiro suficiente para pagar. Só estou com vinte reais no bolso.
May: Não, D°Ana, eu compro um salgado, mesmo porque só tenho o dinheiro da minha passagem para casa - falei meio envergonhada, até porque estou varada de fome.
D°Ana: Que isso, minha filha, pode deixar que hoje é por conta da casa, viu? - falou com um sorriso lindo.
Fui me sentar junto do foguinho, que ficou fazendo gracinha, porque segundo ele a D°Ana não dava comida de graça pra ninguém, kkk.
D°Ana: Como é que é, seu corno do caralho? Eu sempre te dou comida todos os dias que você vem aqui. - falou colocando os pratos em cima da nossa mesa e deu um pescoçotapa nele.
Depois que ela saiu, eu fui comer. Não sou nem doida de esperar a comida esfriar...
Graças a Deus, eu consegui o emprego. No primeiro dia, me saí bem. A d°Ana é um amor de pessoa e muito atenciosa. Acabou que nem consegui ligar para casa para avisar a mãe que finalmente consegui o emprego.
O foguinho ficou por um tempão aqui também, mas foi embora quando o chefe passou um rádio chamando ele de volta.
Já era o fim do meu expediente, eu peguei o horário da tarde, era de 12h às 20h só hoje, a partir de amanhã eu vou pegar das 08h até as 15h. Eu achei um horário bom pra mim, às vezes vai ter hora extra, mas tá tudo bem, o salário é bom.
Tava quase chegando na entrada do Morro quando uma moto veio para cima de mim, quase me jogando para cima. Tava pronta para xingar a pessoa quando vi que era o Foguinho. Coloquei a mão no peito por conta do susto que eu levei. Depois daquele dia, eu passei a ter um certo medo de pessoas, ainda mais me dando susto.
Foguinho: Tá devendo, Índia, se assusta não. - falou tentando fazer graça, mas eu não tava para brincadeira.
Foguinho: Caralho, Índia, tu tá pálida. Porra, calma aí. - ele falou descendo da moto e vindo me tocar, mas por impulso, eu me afastei.
May: Não... não encosta, por favor. - falei tentando regularizar a minha respiração.
May: Nunca mais faça isso, por favor. Eu tenho certo receio de toques e não gosto de sustos. - falei mais calma.
Foguinho: Foi mal aí, não sabia. Mas tu tá melhor? Quer carona pra ir pra casa? - me perguntou.
May: Não, muito obrigada. E por favor, não faça mais isso - pedi um pouco mais calma.
Ele ficou me olhando de um jeito meio estranho, sei lá, mas como se pudesse ler a minha alma. Isso me fez arrepiar.
Foguinho: Porra Índia, me desculpa mermo. Eu não queria te assustar ou te fazer mal, já é - falou fazendo um gesto de joia com o polegar.
May: Tudo bem, eu vou indo porque não avisei ninguém que consegui um trabalho. Minha mãe deve estar preocupada - falei, não olhando para o seu rosto.
~~~~
Cheguei em casa por volta das 22:30 do Morro Azul até minha casa e mais ou menos duas horas. Assim que pisei na sala, dava para ouvir uma pequena discussão entre minha mãe e a irmã dela, Julieta.
Julieta é uma mulher amargurada e inútil, nunca fez nada para ajudar alguém, não é à toa que nunca teve um marido ou filhos.
Julieta:Você tem que dar um jeito de me ajudar. Você não pode me virar as costas logo agora. Ou você me dá esse dinheiro, ou eu faço da sua vida um inferno.- falou e saiu da cozinha, dando de cara comigo. Assim que me viu, fechou a cara, que já não é bonita.