capítulo 8

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Marcão

Só fiquei no cantinho observando tudo desde o momento em que a tia Ana mandou os meus homens irem pro postinho buscar as paradas e até a tal Índia falar que tem o mesmo tipo sanguíneo do foguinho.

Que coincidência estranha, não é mesmo? Os dois têm os mesmos tipos sanguíneos, eles nem são da mesma família ou pode doar sem ser da mesma família? Fiquei perdido agora.

Mas não é hora de ficar pensando nisso, é hora de mandar boas vibrações para o meu irmão sair dessa logo.

Neguinho: como nós vamos tirar o sangue dessa mina aí? - perguntou ele ao meu lado, chegando sem que eu percebesse. Eu olhei para a garota que estava tremendo.

Jo: Amiga, tem certeza disso? Você mal conhece ele. - falou para a amiga.

Xxx: Claro que tenho, Jo. Ele, em poucos dias, já se tornou meu amigo, mesmo depois daquele dia em que ele me abraçou e eu tive um pequeno surto. - ela disse, olhando nos olhos da amiga.

Parei de presente atenção na conversa das duas quando dona Ana mas uma vez pareceu na porta

D°ana: cadê a Porra do sangue que eu pedi que até agora não veio- perguntou esbravejando

Zipe: tia Ana lá no postinho não tinha o sangue pra ele, mas a tal Índia dele tem,- falou apontando o dedo pra ela

D°ana: vai pro caralho hein, e Marcão, vamos querer fazer um estoque de sangue nesse postinho, já que o governo não faz, você tem que fazer o dobro - falou, me olhando de cara feia, e eu só concordei

D°ana: vamos lá may espero que você não tenho medo de tira sangue,- falou com um olhar adocicado

May: D°Ana, para quem teve um filho de parto normal, tira sangue e é o de menos.- falou e seguiu a d°Ana até o quarto.

Então quer dizer que ela já tem um filho, e nem parece.

Não sei quanto tempo estou aqui, mas sei que só saio daqui quando tiver notícias do meu irmão.

Zipe: Chefe, vou mandar os caras darem uma geral pelo morro, só saio depois que tiver notícia do Foguinho - ele falou e foi falar com uns caras que estavam do lado de fora da pensão.

Marcão: Aí, Jo, tem como pegar uma água para mim não? - perguntei para ela.

Jo: Claro que sim - respondeu e foi em direção à cozinha.

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Mayara

Quando entrei naquele quarto, arrepiei-me dos pés à cabeça ao vê-lo ali, praticamente sem vida, sem as gracinhas dele. Fiquei estática.

D°ana: May, eu preciso que você reaja. Se você desmaiar de novo, não vou conseguir salvar o foguinho. - falou, tirando-me do meu pequeno transe.

May: Tudo bem, estou bem e ele também vai ficar. - falei mais para mim do que para ela.

D°ana: Então vamos lá, querida. Senta aqui e estica o braço, por favor. - pediu.

Assim, eu fiz. Me sentei e estiquei o braço para que a dona Ana pudesse retirar o meu sangue para tentar ajudar o foguinho. Eu espero que ela consiga.

A situação está muito complicada e, pelo jeito, se não conseguir levá-lo para um hospital ou para o postinho, talvez ele não vai resistir.

D°ana: Meu pai, oxalá que o senhor não deixe nada de tão mais grave acontecer com esse menino. Ele não merece esse fim, e eu não posso aceitar esse fim. Se o senhor, que me deu esse dom de ajudar as pessoas, sei que não vai me desamparar nesse momento. - ouvi ela sussurrando o que parecia ser uma oração

Eu também fiz a minha, mesmo não tendo uma religião, mas eu acredito em tudo que for bom e em todos os planos espirituais. Juntei as minhas mãos e rezei o Pai Nosso

Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, vem a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não nos deixei cair em tentação mas livrai-nos do mal. Amém.

Depois que a d°Ana tirou o meu sangue, ainda fiquei para ajudá-la no que ela precisasse.

Ficamos horas e mais horas, até que ela retirasse as duas balas que estavam alojadas nele: uma no abdômen, que sangrava muito, e a outra atravessou das costas para a costela. A d°ana estava muito preocupada porque poderia ter atingido algum órgão dele.

Eu nunca fiquei de frente de uma situação dessas, eu acho desde quando eu cheguei nesse morro pra trabalhar estou tendo várias primeiras vezes, não é mesmo?

Desde quando tudo me aconteceu, os únicos homens que eu consegui falar sem gaguejar eram o Maria da minha mãe e um primo muito distante, e o meu pequeno Henri. Só com eles e muito mal, porque os outros dois, mesmo sendo "da família", eu não me senti bem e nem um pouco confortável em ficar na presença deles.

Mas com o foguinho foi muito diferente desde o primeiro dia que eu falei com ele lá na barreira, e ele me ajudou a conseguir o trabalho aqui na pensão, e até mesmo quando ele quase me atropelou e eu tive uma pequena crise de ansiedade, e o bichinho me pediu desculpa com os olhos esbugalhados kkk

Ele em pouco tempo se tornou um amigo, mesmo às vezes ele me faz passar vergonha quando me grita no meio da rua igual um louco.

Mas sei que ele é só um menino que tem um coração muito bom. Então eu peço a todos aqueles que me protejam, para proteger a ele também!

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