A convivência com a Julieta não é uma das melhores. Ela é amarga e tenta a todo custo fazer todos virarem as costas para mim. É para minha mãe, acho que sempre foi assim, até mesmo antes de eu vir para cá, mas parece que piorou.
Assim que ela me viu e fechou aquela cara feia, parou e ficou me olhando da cabeça aos pés.
Julieta: Onde já se viu deixar esse garoto com a Edna e você na rua até essa hora? Estava pensando o que? Abre teu olho para não perder ele, viu? - falou e saiu de casa. Eu respirei fundo para não dar uma boa resposta a ela.
Fui até a cozinha onde minha mãe estava com o Henri, olhando para ele com amor e carinho.
May: Mãe, eu já falei para a senhora não dar mais um tostão para essa mulher. A senhora vai tirar dinheiro de onde? Se já não tem. Eu cheguei agora porque consegui um trabalho, lá no Morro Azul. É um pouquinho longe, mas é onde eu consegui, e o salário é bom. - falei, dando um beijo em sua cabeça.
Edna: Oh, minha filha, deixa isso pra lá, isso é coisa minha e da sua tia. Mas eu estou feliz que você tenha conseguido um trabalho, mas lá não é perigoso? - falou.
May: Perigoso é em todos os lugares, mãe, e eu não vou deixar pra lá ou pra depois, essa coisa que Julieta vem aqui pegar dinheiro com a senhora. - falei firme e a olhando.
May: Agora deixa eu tomar um banho, comer um pouco e brincar com o meu menino que eu estava morrendo de saudade. - falei bagunçando os seus cachinhos.
Henri: Não, mamãe, não pode bagunçar o cachinho, aiai. - falou todo bravinho. Ele não gosta que fiquem mexendo no seu cabelo.
Acho que fiquei uns 45 minutos no chuveiro, já sei que a conta de água vai vir alta só por causa disso. Meu dia hoje foi bem cansativo, mas graças a Deus eu consegui um trabalho. Espero conseguir desapertar um pouco, porque só com o dinheiro da pensão que minha mãe recebe não tem ajudado muito.
Tenho tantas outras coisas para resolver que só de pensar já fico cansada. Só de pensar que eu tenho que ir na escola do Henri falar sobre o dia dos pais é massacrante, porque eu já tinha avisado sobre o fato de o Henri não ter pai e que não é para incluí-lo nas festinhas. É tão triste ver o meu menino triste com toda essa situação de ver os amiguinhos com os pais e ele não.
Assim que saí do banheiro, Henri estava sentado ao lado da porta me esperando, com um olhar triste que partiu meu coração. Já sei o motivo desse olhar.
May: Oi, meu amorzinho, por que está aí sozinho? - perguntei.
Henri: Mamãe, não quero ir mais para a escola, não quero - falou, ficando emburrado.
May: Filho, o que aconteceu para você não querer mais ir à escola? - perguntei.
Henri: Os amiguinhos ficam rindo porque o Henri não tem um papai - falou, olhando para baixo.
Esse era o motivo pelo qual eu tinha que ir à escola falar com a diretora.
May: Ei, não fica triste, porque você tem a mamãe e a vovó. Eu sei que você fica tristinho por causa disso, a mamãe sabe. Mas, infelizmente, a mamãe não pode fazer nada. Eu queria dar um papai pro Henri, mas a mamãe não pode - falei, me abaixando para fazer um carinho nele.
Meu menino é tão forte quanto eu. Eu queria muito dar um pai ao meu filho, eu queria que tudo tivesse sido diferente, que aquele dia nunca tivesse acontecido, mas "era pra ser"
May: Vamos fazer um Nescau bem quentinho, assistir um filme e depois dormir agarradinhos. - o chamei para tentar desestressá-lo um pouquinho.
Também já passava das 23:30 da noite e amanhã ele tem aula de tarde e eu vou trabalhar, graças a Deus...
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6:30 AMAqui estou, terminando de me arrumar para ir para o meu primeiro dia de trabalho de verdade. Estou bem nervosa, sabe? A dona Ana me explicou que de manhã eu vou ficar no caixa e, por volta das 12h, vou ajudar a servir as mesas. Para mim, está ótimo.
Cheguei na pensão por volta de 08:20, cheguei 20 minutos atrasada. Mas avisei a d. Ana que foi por causa do trânsito, e também que eu não sabia qual ônibus pegar direito. Ela super me entendeu.
O atendimento estava bem tranquilo de manhã, mas depois das 11h o povo começou a aparecer e foi uma correria daquelas.Estava atendendo uma mesa quando vi um grupo chegar e entre eles estava o Foguinho, que assim que me viu, gritou por mim.
Foguinho: Fala, minha Índia, vem cá!- gritou, me chamando. Olha que vergonha.
May: Para de gritar comigo, pelo amor de Deus, Foguinho.- falei, tentando me esconder com o caderninho de pedidos.
Foguinho veio me dar um abraço, mas parou e ficou me olhando como se pedisse permissão. Talvez tenha se lembrado de onde. Então, fui até ele e o abracei.
Foguinho: Índia, sem k.o, anota os nossos pedidos aí. - pediu com cara de cachorro vira-lata. Fui com ele até a mesa para anotar os pedidos.
May: Boa tarde, o que vocês vão querer? - perguntei, sendo educada. Mesmo tremendo toda por dentro, eu não consigo ficar por muito tempo onde tem vários homens, me dá um nervoso.
Xxx: Eu quero o teu número, se não for pedir muito. - falou, olhando-me de cima abaixo.
May: Bom, eu acho que o meu número não estava no cardápio, então, se não for pedir nada que está nele, por favor, não fala mais nada. - falei, querendo voar no pescoço dele.
Foguinho: Bem feito, otário, e menos confiança com a minha Índia, rapaz. - falou,me abraçandode lado.
Xxx2: Eu vou querer arroz, feijão, carne assada com purê de batata e uma Coca-Cola de 2 litros, por favor. - pediu, olhando o cardápio.
Foguinho: Eu quero strogonoff de carne, arroz com brócolis e uma jarra de suco de laranja com acerola. - pediu, me olhando e dando uma piscada.
O restante pediu o prato do dia, com uma porção extra de batata frita e uma Coca-Cola.
Assim, eu fiz o meu serviço o mais rápido possível. A dona, Ana, disse que um dos caras da mesa era o gerente daqui e ele gostava de tudo rápido porque ele tem mil e uma coisas para fazer e blá blá blá.
O foguinho não brinca em serviço quando a questão é comida; ele comeu duas vezes e ainda pediu sobremesa. Ele não brinca em serviço, kkk.
O restante do dia foi bem produtivo e rápido. Ajudei a arrumar as mesas, passei uma vassoura pelo salão e a outra menina passou pano. E pronto, já estava dando o meu horário quando o meu telefone tocou e era um número desconhecido.
Quem é?
Pensei que nunca mais ouviria a sua voz de novo, filhinha.
Ouvir aquela voz me fez ter ânsia de vômito.
O que você quer? E como conseguiu o meu número? Como você tem coragem de me ligar depois de cinco anos?