capítulo 14

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Marcão

Foguinho: Ela passou por uma barra pesada, enfrentou uma gravidez indesejada causada por um abuso, o que gerou vários traumas. Um deles era a aversão em falar ou ser tocada por homens. No dia em que ela foi ao postinho me visitar, acabou me contando tudo isso e mais um pouco - falou, olhando para ela.

Foguinho: Ela disse que eu fui o único homem de quem ela não teve medo ou aversão, e que, comigo, ela se sentia bem em falar ou ser tocada - falou, e dessa vez me olhou.

Taubinha: Caralho, tô sem palavras. Quem olha pra mina assim, toda dona de si, sem abaixar a cabeça pra ninguém. Acho que se não tivesse acontecido isso com o filho dela, nós nem ía saber - falou com a voz baixa.

Marcão: Ninguém poderia imaginar essas coisas, irmão. Quem passa por isso prefere não falar - falei, tentando não imaginar essa porra.

Marcão: Agora, como que nós vai saber quem pegou o moleque? - perguntei.

Zepi: Na escola deve ter câmera de segurança. O foda vai ser conseguir as imagens - falou, olhando pra May, que estava acordando.

May: Isso não foi um pesadelo? - perguntou baixinho.

O Foguinho, assim que ouviu a voz dela, tratou de abraçá-la, que só fez afundar o rosto no pescoço dele e chorar.

Por um momento, eu queria estar no lugar dele. Podem me chamar de emocionado, mas não tô nem aí.

Foguinho: Calma, que vai dar tudo certo. Vamos na tua casa falar com a tua mãe - falou, fazendo carinho nas costas dela.

Taubinha: Eu vou chamar a tia Ana para ajudar - falou e saiu.

Foguinho, Zipe e eu ficamos nos encarando até que um de nós tomasse uma atitude para ir atrás do moleque.

Marcão: Bora levar ela para casa e depois ir à escola para pegar alguma informação e tentar pegar as imagens - falei, quebrando o silêncio.

May: Vamos, por favor - falou baixinho.

Saímos da minha sala e nos deparamos com a tia Ana e o Taubinha já dentro do meu carro. A tia Ana estava com uma expressão serena, como se nada estivesse acontecendo.

D°Ana: Minha filha, descansa, que logo menos os meninos irão trazer o seu menino - falou, abraçando-a de lado assim que ela entrou no carro.

A May só concordou com a cabeça e olhou para frente. Eu fui dirigindo até a saída do morro e parei na barreira, mandando dois dos meus homens virem atrás de mim de moto. Também pedi o endereço da casa dela, que me explicou.

E, porra, ela morava a duas horas daqui do morro, pelo menos de ônibus, que só fazia um percurso, mas nós ta ligado nas rota toda, então, em menos de uma hora, já estava na porta da casa dela.

Nós mal chegamos na rua da casa dela, e a coroa dela já estava no portão com a maior cara de choro, como se já soubesse o que tinha acontecido.

Xx: Minha filha, cadê meu neto? Diga que ele está bem - pediu em súplicas.

May: Mãe... - ela mal terminou a frase e correu para abraçar a mãe.

Dona Ana: Vamos entrar, gente. Lá dentro é melhor para vocês nos explicar o que aconteceu - falou como se a casa fosse dela.

Taubinha: Porrra, isso tá parecendo novela turca, irmão - falou, olhando as duas chorarem.

Depois de muito chorar, nós entramos na casa, e a May explicou para a mãe e para a tia Ana tudo o que aconteceu e tudo o que já tinha nos falado, até mesmo sobre o abuso. Isso fez com que a tia Ana e a mãe dela chorassem ainda mais.

Era uma coisa de louco: toda vez que ela falava sobre as coisas que passou, algo dentro de mim se revirava. E não era só em mim; era em todos nós. O Foguinho ouvia aquilo como se tivesse acontecido com ele.

Em pouco tempo, ele já tomou as dores dela para si. É uma parada de outro mundo.

Não demorou muito e meu celular vibrou com a chegada de uma notificação do Zipe.

Zipe: foi difícil, mas eu consegui as imagens das câmeras de segurança de duas empresas perto da escola.

Zipe: a escola falou que só vai disponibilizar as imagens com um mandado da polícia.

Marcão: O Zipe conseguiu algumas imagens de câmeras lá perto da escola e já vai levar para o morro. A escola só vai liberar as imagens se vocês forem à polícia. Agora vai depender de vocês irem lá ou ficarem entre nós - falei, olhando para todos que estavam na sala.

May: Eu já falei que não vou à polícia; eles não vão fazer nada - falou com o tom de voz meio alterado.

May: Se fosse uma criança branca, eles iam na hora, mas é uma criança negra que vem de uma família de classe média baixa - falou com a voz ainda alterada.

Taubinha: Então deixa com nós, que vamos dar um jeito. Sei que nós não somos amigos nem próximos. - Pausa dramática, que ele sabe fazer.

Taubinha: Mas como você tomou a tia Ana de mim, e ela te considera da família, então a partir de agora somos irmãos - falou, indo até ela e esticando a mão para ela, e o que nos surpreendeu foi ela o abraçando.

Oh Deus, quando vai ser a minha vez??

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