Foguinho
Ela ficou ali sentada, me olhando, como se pudesse ver a minha alma. Era uma parada estranha; não sei explicar isso.
Foguinho: Para de olhar assim pra mim, parece até que quer me ver pelado, mona - falei brincando.
May: Sabe, Foguinho, a primeira vez que eu te vi lá na barreira, eu não tive medo de você nem da arma que você estava carregando, sendo que eu tenho medo - ela falou e deu uma pausa, respirando fundo.
May: Eu tenho um trauma muito grande, e esse trauma fez com que eu sentisse medo de abraços, toques e tudo mais que venha de um homem, igual naquele dia em que você me deu um susto e eu surtei com a sua aproximação. Mas, no dia da barreira, eu consegui falar com você sem ter medo ou aversão à presença. - Outra pausa
Acho que eu já sei aonde ela quer chegar, e estou com um tremendo medo de ouvir isso saindo da boca dela. Ela está olhando para a parede, mas nem parece que ela está aqui.
May: Sabe, eu nem sei o porquê de estar falando isso com você - soltou uma risada - só senti vontade de falar, então eu vou falar tudo antes que eu perca a pouca coragem que eu tenho.
May: Bom, eu tinha 17 anos quando tudo aconteceu. Eu tinha acabado de sair do trabalho; nesse dia, eu fiz hora extra. No final do expediente, o pessoal até me chamou para ir a um barzinho, mas eu não estava afim de ir, estava cansada, e no dia seguinte eu ia para a escola. Mas, no meio do caminho, um moço me pediu uma informação, mas eu nem dei muita atenção. Ele insistiu muito, sabe? Eu não queria, mas ele foi mais rápido. - Mais uma vez, ela deu uma pausa.
Foguinho: Chega, não precisa terminar. Eu já entendi tudo. É, porra, nem sei o que falar pra tu - falei nervoso. Caralho, a mina é forte, muito forte.
May: Fica tranquilo, porque não tem nada pra dizer mesmo. Toda essa atrocidade que aconteceu comigo me resultou em um filho lindo, amoroso e carinhoso. Ele é o amor da minha vida. Qualquer dia eu trago ele pra você conhecer - ela falou e tocou na minha mão. Esse ato me pegou totalmente de surpresa, mas eu gostei do toque dela.
Foguinho: É, eu vou dar vários rolês com ele pelo morrão. Vai ver só, ele vai amar o tio Foguinho aqui - terminei de falar e ela soltou uma risada.
Porra, mano, ela ainda teve o filho. Essa mina é mais foda do que eu pensava, mermo.
Eu não sei se devo me sentir lisonjeado por ela ter me contado toda essa merda que aconteceu com ela e por ela conseguir agora me tocar sem se sentir mal ou ter aversão ao me tocar.
May: Eu tô te contando tudo isso não é pra você sentir pena de mim nem nada do tipo. Eu só te contei porque senti confiança em você, me sinto bem em estar na sua presença e sei que você não me faria mal - falou e fez carinho na minha mão.
Foguinho: Eu não tô sentindo pena de você, e nem nada do tipo. Eu tô te achando foda pra caralho pela barra que tu passou e ainda mais tendo um filho que foi fruto de um abuso. Eu te acho forte - falei e invertei a posição das nossas mãos, e agora quem tá fazendo carinho sou eu.
May: No início, passou pela minha cabeça tirá-lo, porque eu não queria ter que olhar para meu próprio filho e lembrar de tudo o que aconteceu e começar a rejeitá-lo. Mas minha mãe me ajudou muito e me deu todo o apoio do mundo. - falou e pegou o telefone, começou a mexer e virou o telefone na minha direção.
Era uma foto de um menininho, moreninho claro, com o cabelo cacheado e um sorriso lindo.
Foguinho: Rapaz, ele é todo lindão, cara! Olha só, vai pegar várias novinhas. Vou ensinar a ele, você vai ver só - falei, vendo ela fazer careta.
~~~~~~~~~
MarcãoDepois que eu saí do postinho, junto com o Taubinha, nós fomos para a boca principal para resolver as paradas de carregamento das armas.
Taubinha: Qual foi dessa índia aí? - perguntou.
Marcão: Sei lá, ela veio para trabalhar lá na pensão da tia Ana, e o Foguinho ficou encantado com ela, mas parece ser só amizade mesmo entre os dois - falei sem dar muita importância.
Taubinha:Se ele quer só amizade, o problema é dele, porque eu quero - falou, dando um sorriso sacana.
Marcão: Duvido, essa eu pego primeiro! - falei, esfregando as mãos, uma bagunça.
Taubinha: Essa eu quero ver! Bora apostar quem pegar ela primeiro? - propôs.
Marcão: Mil pra quem pegar ela primeiro! - falei, estendendo a mão pra ele apertar.
Taubinha: Fechado então! - falou e sentou na cadeira, pegando o caderninho das dívidas.
Depois disso, começamos a trabalhar, porque dinheiro não cai do céu.
Resolvi ir para a pensão da tia Ana. Eu fui a pé mesmo, e, enquanto descia, alguns moradores me cumprimentavam e outros viravam o rosto. As putas estavam todas jogando na minha cara. Porra, uma hora dessas é foda.
Entrei na pensão e já dei de cara com a tia. Parece até que estava me esperando, kkk.
Dona Ana: Meu filho, que bom ver você!- falou, me dando um abraço.
Dona Ana:Sabe, meu filho, você vai se arrepender quando ver ela indo embora.- Ela simplesmente falou isso e saiu, me deixando aqui com cara de tacho.
Às vezes, a tia fala umas paradas sem noção. Cê tá doido!
Antes da Jo trazer o meu almoço, a Índia apareceu no meu campo de visão; ela estava linda.
Vestia uma calça jeans escura que marcava bem aquelas pernas e a bunda dela, e uma blusa azul bebê um pouco decotada, mas suficiente para a imaginação.
Ela passou e deixou o cheiro gostoso dela.
Eu vou ser o primeiro a levar ela para a cama, e se eu gostar, ela vai ser minha. E de brinde, vou levar os mil da aposta.