Mayara
Um mês se passou, e aqui em casa as coisas só pioraram. Julieta fez um inferno na vida da minha mãe, organizou uma reunião com toda a família para desmerecer a minha mãe e a mim também.
Da família, só a mãe sabe o que eu passei. Bom, era só ela que sabia, até a desgraçada da Julieta colocar o nome do meu filho no meio, falando que eu nem sabia quem era o pai dele e tudo mais. Isso fez com que o Henri caísse em um choro profundo e ficasse dias sem dormir direito. Então, tive que falar toda a verdade para eles, de tudo que me aconteceu, para dar um ponto final nessa palhaçada.
Flashback on
Julieta: A Edna é muito burra por aceitar essa garota e esse pirralho aí dentro da casa dela, porque tem que ser muito idiota - falou, olhando para mim. É para Henri, essa garota nem sabe quem é o pai desse pestinha, aí sobrou para a besta da minha irmã bancar esses dois - falou, olhando para nós com nojo.
Edna: Leva a sua boca para falar da minha filha e do meu neto, ouviu bem - mamãe nos defendeu.
May: Já chega disso, estou de saco cheio de você, Julieta. Você só vai atrás da minha mãe quando quer dinheiro e, se ela não te dá, você vive ameaçando falar alguma coisa dela - dei uma pausa e vi que o Henri já não estava na sala.
May: Você vive infernizando a vida dos outros, vem aqui junto da família para difamar a minha mãe e a mim. Mas você já se olhou no espelho? Já se viu? Você não é ninguém, não trabalha e muito menos terminou os estudos. Já eu terminei, e minha mãe também. Mas uma vez tive que dar uma pausa por conta da falta de ar.
May: Você falou do meu filho, e isso eu nunca vou aceitar. Você não sabe o que eu passei para estar aqui hoje - falei chorando só de lembrar.- ui abusada, eu, Mayara, fui estuprada, e esse estupro resultou em uma gravidez não planejada. Por várias vezes passou pela minha cabeça fazer um aborto, até esse anjo aqui - falei, segurando a mão da minha mãe.
May: Ela me ajudou desde o início até agora. Ela foi um dos motivos para eu não desistir de mim e nem do meu filho. Essa mulher passou por muitas coisas que vocês nem fazem ideia, mas vivem apontando o dedo para ela - falei e puxei minha mão para longe deles, e fomos buscar o Henri.
Flashback off
Depois desse dia, ninguém falou mais com ninguém. A Julieta ainda ficou falando umas merdas lá, mas nada que me abalasse mais.
Eu estou em casa até a dona Ana reabrir a pensão. Ela avisou que iria cuidar do foguinho por alguns dias, até ele ter uma melhora e conseguir se virar, kkk.
Falando nele, eu sinto falta desse maluco me gritando no meio da pensão.
Ele, de pouquinho em pouquinho, está virando um amigo, sabe? Mas bem pouquinho ainda. Eu gosto do jeito maluquinho dele; ele tem um jeito só dele de alegrar o dia de qualquer pessoa ao seu redor. Eu peço muito a Deus que ele melhore logo.
No dia do tiroteio, eu cheguei tarde e um pouco menos assustada, e muito cansada. Minha mãe viu o meu estado e logo perguntou o que tinha acontecido, e eu falei tudo bem explicadinho para ela.
Falei que o foguinho era uma espécie de amigo para mim. No início, ela ficou bem assustada porque sabia muito bem que eu não sabia lidar com homens perto de mim.
Mas ela ficou feliz por saber que eu tinha dado a chance de conhecer alguém, mesmo que fosse só na amizade.
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Foguinho
Acordei em um quarto com as paredes beges, iguais às do postinho. Devo estar nele mesmo, porque aqui tem uma parte que só recebe os caras do movimento.
Virei o pescoço e vi que era no postinho mesmo, e mais à frente estava ela, a mulher mais amada por todos nós.
Foguinho:psiu, novinha- mexi, chamando a sua atenção. Assim que ela se virou e nem olhou, começou a chorar e falar alguma coisa bem baixinho.
D°ana:Ah, meu filho, eu vou matar você, eu juro por tudo que é mais sagrado - falou, vindo na minha direção e me abraçando um pouco sem jeito.
Foguinho: Você não teria coragem de fazer isso com o seu filho do coração, né, mermo? - falei, olhando para a cara dela, que me olhou fazendo cara feia.
D°ana: Olha, nem vou falar nada, viu, moleque? Eu quase morri do coração quando o Marcão chegou lá na pensão com você quase morto. - falou e saiu de perto de mim. É, foi pra porta.
Caralho, mané, nessa vida do crime, nós estamos sujeitos a tudo, tá ligado? E é foda ter que deixar a dona Ana assim, mas infelizmente faz parte da nossa vida.
E eu não posso morrer, não agora que tá tudo dando certo pra mim.
Até conheci a Índia, mina muito bonita e posturada. Ela é a primeira mina que eu quero ser só amigo mermo, sem maldade, tá ligado? Ela tem o jeitinho dela de não querer ser tocada e tal, mas tá tudo bem, pô.
Tava quase dormindo quando o médico veio aqui pra ver se tava tudo bem comigo e falou que eu iria fazer alguns exames porque eu fiquei em uma espécie de coma. Pelo que ele disse, eu fiquei um mês "dormindo" e várias outras coisas lá, e foi embora. Ele saiu e eu fui dormir mais um pouquinho.
Tava dormindo gostosinho quando senti alguém me chacoalhando, igual a um boneco.
Marcão:Acorda, filho da puta,- falou, ainda me chacoalhando.
Foguinho:Porra, o cara pode nem dormir em paz nessa porra, - falei, com os olhos fechados.
Taubinha: Olha, o cara dorme por um mês e ainda tá com sono. Esse daí é de cair o cu da bunda mesmo.- Caralho, nem acreditei quando ouvi a voz desse safado.
Taubinha: Nem fala, era pra tu estar morto, né? E outra, eu bem conheci um tal de Índia; ela é bonitona, viu? Porra, quando ele falou da minha Índia, meu sangue ferveu.
Foguinho: O filho da puta, mas respeito, viu? E o nome dela é Mayara; aqui só posso chamar ela de Índia. - falei de cara fechada.
Marcão: Ela é tão tua Índia que nem veio ver o cuzão - falou todo emburrado.
Foguinho: Oh, meu gostoso, fica com ciúmes? Não que aqui tenha foguinho para todos; ela só não veio porque tem um filho para cuidar. - Falei, e nem deu dois segundos, a porta foi aberta e, por ela, passou a minha Índia. É que assim que viu que os caras estavam aqui, abaixou a cabeça com vergonha.
May: Desculpa atrapalhar, eu volto depois para ver o foguinho - falou e saiu cheia de vergonha.
Depois que ela saiu, os caras começaram a falar várias coisas que eu nem estava prestando atenção direito porque era sobre a viagem que o Taubinha tinha feito e demorou um tempão para voltar.
E eles só foram embora quando a enfermeira trouxe o meu almoço, mas eu nem toquei na comida.
May: Vai comer essa comida logo antes que a dona Ana venha e te bata, viu? - falou, me olhando da porta com um sorriso de canto.
Foguinho: Ah, você voltou mermo - falei, me sentando.
May: Eu disse pra você que voltaria, né? Então agora trate de comer tudo pra sair daqui logo - falou, se sentando perto da cama.
