Capítulo II - Saudade

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BERNARDO


O cheiro da bosta dele ainda estava no meu quarto, embora que muito suave. Deitei-me abraçado à t-shirt que ele cá tinha deixado.

Já tinham passado duas semanas desde o ocorrido no armário.

Estava deprimido. Tinha muitas saudades dele, e passava as noites em branco, a chorar.

Apesar do ocorrido, eu não estava pronto para o deixar. Mas onde andaria ele?

Eram mais ou menos três horas da madrugada quando lhe resolvi ligar.
Estranhamente, ele não me atendeu.

Eu não o tinha visto nos últimos dias, na escola, e fiquei super preocupado.

Perguntei a toda a gente se sabia onde ele estava. Fui falar com um amigo dele, a perguntar-lhe.

- Bom... Olá Roberto - disse eu, a gaguejar. - Eu queria saber...

- Chega dessas cantadas! Todos os dias a mesma coisa! Não, não quero namorar contigo.

- Mas, não e isso... Eu queria saber onde está o Gabriel.

- Também não sei. Se quiseres, podemos ir à procura dele. Já sei que não vou passar de ano, não preciso de vir a mais aulas.

- Já somos dois... Está bem. Vamos matar aulas e ir à procura do Gabriel.
E lá fomos os dois. Não importava quanto tempo demorasse, íamos achá-lo. Eu tinha fé.

Percorremos todas as ruas da cidade, e nada. Aonde estaria, nesta hora, o meu amor? Eu estava disposto a encontrá-lo, nem que fosse a última coisa que eu fizesse. Eu e o Roberto éramos determinados.

Ficámos à procura dele por muito tempo. Quando demos por isso, já tinha passado uma semana, e já estávamos muito longe de casa. Não podíamos desistir agora.

- Tenho saudades de casa - revelei ao Roberto, num serão, enquanto montávamos a nossa tenda. - Tu não?

- Só da minha irmã - disse ele. - Os meus pais batem-nos. É difícil.

- Sinto muito. Eu também nunca soube como é ter pai. O meu pai abandonou a minha mãe quando ela descobriu que estava grávida. Gostava  de o conhecer.

- Pode ser que, um dia, o encontres, como talvez eu também encontre alguém que se importe comigo. Às vezes, sinto que sou indiferente.

- Não penses assim. Há muitas pessoas  que se preocupam contigo.

- Não é verdade.

- Há pelo menos uma pessoa que se preocupa.

- Quem?

- Eu. Anda, algo me diz que ainda temos um longo caminho pela frente.

Seguimos caminho, por entre a noite fria e em busca do nosso objetivo: encontrar o Gabriel.

Eu, ele e os outrosOnde histórias criam vida. Descubra agora