Eu, ele e os outros

Capítulo V - Sonho

GABRIEL

Eu e o Berna estávamos deitados numa manta de piquenique debaixo da cerejeira do quintal dele.

Ele olhou para mim, com o olhar meigo e brilhante do costume, e eu abracei-o.

Ele acolheu-me nos seu braços suaves e deixou-se levar pela paixão. Os nossos lábios encostaram-se e beijámo-nos profundamente.

O sol clareava o seu cabelo moreno e curto e a leve brisa primaveril refrescava-nos.

Era só eu, ele e o pôr do sol à nossa frente.

- Amo-te, Gabi.

- Também te amo. Desculpa o que aconteceu no outro dia...

Ele fechou a minha boca com carinho e disse-me:

- Eu não me lembro se tu não te lembrares. É passado, e já está esquecido.

- A sério?

- Não, tás doido? O meu quarto ainda cheira a bosta, tive de lavar a minha roupa toda, e como é que tu achas que eu consegui explicar à minha mãe o porquê do armário estar todo sujo? EU ODEIO-TE, GABRIEL! Desaparece da minha vida de uma vez por todas!

- Desculpa - balbuciei. - Eu... Eu pensei que estivesse tudo bem... Nunca pensei que... Que tu me odiasses assim tanto... Eu... Eu acho que escolhi mal a pessoa por quem me apaixonar...

- Mas quando é que vais entender? Ninguém, repito, ABSOLUTAMENTE NINGUÉM, gosta de ti! O melhor que tu fazias era desaparecer deste mundo para sempre!

- Eu sei... Mas eu... Eu amo-te.

- Eu também te amo, mas não te posso amar mais. Não quero mais gostar de ti, mas é difícil esquecer-te.

- Tu achas... Que eu sou inesquecível?

- Não, ninguém é inesquecível. Muito menos tu. Não és nada.

- Não é bem assim. Toda a gente tem algo que o torna especial.

- Tu não és toda a gente! Mas, já agora, o que é que achas que te torna especial?

Parei para refletir um pouco. Era uma boa questão. O que haveria em mim de especial? O Bernardo era a única pessoa que me fazia sentir especial. Ele era uma parte de mim.

- Tu... És tu a minha parte especial.

- Não, Gabriel, não sou. Tu deixaste-me para trás. Tu não quiseste saber. Não me mereces.

- O que queres dizer com isso? Eu estou aqui, ao teu lado.

- Não Gabriel, não estás. Nada disto é real.

Acordei e apercebi-me de que era tudo um sonho. Se calhar, tinha de ir à procura do Bernardo. Mas onde estaria ele? Será que ele me tinha trocado?