Capítulo III - Um novo amor

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GABRIEL

Aos poucos, fui esquecendo o Bernardo.

Dizem que o tempo cura. Não, não cura. O que cura são as festas. Invadi algumas enquanto não tinha casa. Fui expulso, obviamente, mas isto ajudou-me a encontrar uma nova família.

Na verdade, não sei se posso chamar aquilo de família. Mas, no meu ponto de vista daquela altura, era, de facto, uma família.

A minha "mãe" era uma gaja de dezoito anos e o meu "pai" era um senhor de sessenta e cinco.

A minha dita mãe tinha, na verdade, um amante, mas chantageava-me para não dizer ao meu pai.

O meu "pai" passava o dia quase todo a trabalhar, o que tornava mais fácil o contacto com o amante.

Num desses dias, saí à rua e vi uma rapariga. Ela era lindíssima.
Entre os cabelos morenos muito longos, destacavam-se os olhos escuros e expressivos e os lábios volumosos. Decidi mandar-lhe uma cantada.

- Ei gatinha, o teu pai é padeiro?

- Não, porquê? - perguntou ela, enrolando uma madeixa de cabelo no dedo.

- Porque tu és um sonho. Como é que tu te chamas?

- Miriam. E tu?

- Gabriel. Mas podes tratar-me por Pinto ou por Gabi.

- Prefiro pinto. És muito bonito.

- Obrigado, tu também. Tu... tens número de telemóvel?

Nesse dia, trocamos de números.

Miriam... Eu tinha a sensação de que já tinha conhecido alguma Miriam...

Dei por mim com a cabeça nas nuvens, e, só depois dela me chamar algumas vezes é que eu ouvi.

- Pinto? Está tudo bem?

- Oh, sim está. Contigo ao meu lado é impossível estar mal.

- Eu tenho a impressão de que já nos conhecemos.

- Eu também... Talvez já nós tenhamos cruzado em outras vidas...

- És o primeiro rapaz que eu conheço a acreditar nisso. Tu és especial. Gostei de ti. Adoraria ficar, mas tenho de ir.

Despediu-se de mim com um beijo na bochecha. Eu fiquei ali, a imaginar como seria acordar todos os dias com ela a meu lado.

De repente, lembrei-me do Bernardo. O meu Bernardo... O que seria dele? Seria correto ficar com a Miriam? Será que ele se tinha arrependido? Será que eu ainda era gay?

Realmente eu não fazia ideia. Não mesmo...

Eu, ele e os outrosOnde histórias criam vida. Descubra agora