Capítulo XI - Telefonema

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GABRIEL


Mais duas semanas. Mais quinze dias a pensar no Bernardo, e mais quinze noites sem dormir.

Mais quinze dias entregue aos meus pensamentos. Quinze dias de puro stress.

Não conseguia. Não conseguia esquecer o Bernardo. Queria, mas não conseguia.

Daria tudo para o voltar a ver, para o abraçar, para o beijar, ou simplesmente para falar com ele.

Enfim, queria-o ao meu lado. Mas, tão cedo, não ia conseguir.

Ele estava com o Roberto, e eles amavam-se um ao outro. Estava com inveja do Roberto.

Nem um homem de verdade ele era. Não era quem parecia ser. Pela primeira vez na minha vida, eu queria estar no lugar dele.

Abri a gaveta. Dezenas de cartas, postais e presentes do Bernardo. Reli todos, enquanto chorava e comia gelado de chocolate.

Telefonei-lhe por uma última vez. Para minha surpresa, ele atendeu.

- Estou? Gabriel?

- Volta para mim, Bernardo, por favor - disse eu com lágrimas nos olhos. - A vida sem ti é uma seca. Eu amo-te.

- Daqui é o Roberto - respondeu a voz.

- Mas descansa, Gabi, depois eu digo-lhe que tu ligaste. Tchau.

- Espera, não desligues. Posso falar contigo?

- O que queres?

- O Berna sabe que tu és uma rapariga?

- Sabe... Porquê?

- Como é que tu lhe contaste?

- Ele chegou a essa conclusão sozinho.

- Como?

- Ontem tive um pequeno acidente com o meu período.

- Ah... E... Ele não te deixou?

- Não. Porque é que ele me haveria de deixar?

- Não sei.

- Eu... Posso perguntar-te uma coisa... Tipo, dás-me uma opinião?

- Sim. O que é?

- Eu... Estava a pensar em... Voltar a ser uma rapariga... Tipo... Uma rapariga normal...

- Eu acho que sim. Tu ias ficar lindo... Ou melhor, linda.

- Eu não sei... Ainda vou falar com o Bernardo acerca disso. Não sei se estou pronto.

- A decisão é tua, Roberto. Tu é que sabes.

- Tu achas que... Tipo... O Berna vai voltar para ti?

- Acho que sim. Quer dizer, não sei... Eu tinha uma ideia em relação a isso...

- Qual?

- Nós podíamos formar um trisal. Mas eu acho que o Bernardo não está muito convencido em voltar. Ele tem razão. Querendo ou não, eu traí-o. Com a prima dele. Queria os dois e agora não tenho nenhum.

- Tenho de ir, agora. Depois falamos.

- Tchau, Robert.

- Tchau, Pinto.

Desliguei e voltei a olhar para as cartas e postais em cima da minha secretária. Ia ter de aprender a superar o Berna. Tinha de ser.

Eu, ele e os outrosOnde histórias criam vida. Descubra agora