Capítulo XX - Término

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BERNARDO


Mergulhei nos meus pensamentos enquanto caminhava até a casa da Gertrudes.

Sabia que não a queria magoar. Ela tinha o Tomás, o meu filho, e sabia que o que tinha para lhe dizer podia fazer com que perdesse totalmente o contacto que tinha com ele.

Engoli em seco antes de pressionar o botão da campainha. Foi ela quem veio abrir.

- Bernardo? Não esperava ver-te aqui - afirmou. - Entra.

Eu entrei no pequeno apartamento onde ela vivia com o nosso filho. Ela mandou-me sentar no pequeno sofá preto que se encontrava na sala minúscula.

- Tomás! - chamou ela. - Anda ver quem aqui está!

O Tomás veio a correr até à sala, e, assim que me viu, saltou a correr para os meus braços.

- Olha se não é o meu puto - brinquei, pegando-o ao colo e sentando-o numa das minhas pernas.

- Pai! - exclamou ele. - Queres vir ver o meu quarto?

- Talvez depois, Tomás. Agora tenho de falar com a tua mãe.

A Gertrudes fitou-me com um olhar sério e mandou o Tomás para o quarto.

- O que se passa, Bernardo?

- Eu não sei bem como explicar... E que...

- Passa-se alguma coisa entre nós? - perguntou ela.

- É esse o problema. Nós...

- Como assim, Berna? Não te estou a entender.

- Não pode existir um "nós", Ger. Cada um tem de seguir o seu rumo.

- Não, Bernardo - disse ela, a chorar. - Não existe um livro sem folhas, não existe uma fogueira sem fogo, não existe uma fonte sem água... Sem ti não existo eu, Bernardo. Eu amo-te!

- Mas eu não, Ger. Eu não te quero magoar, acredita, é aquilo que menos quero neste momento. Passei momentos maravilhosos ao pé de ti, e temos um filho lindo, mas o amor que eu sentia por ti terminou, entendes?

- Não, Tabernas, não entendo. Eu amo-te, tu amas-me. Sempre disseste que fomos feitos um para o outro.

- Estava errado, Gertrudes. Eu amo o Gabi. Ele foi o meu primeiro amor. O amor que sinto por ele é eterno, e não imagino a minha vida sem ele. Eu e ele temos um passado em comum, um futuro em comum. Afastar-me dele foi um erro.

- Estás a dizer que nós fomos um erro?

- Não, não fomos. Foi bom tudo o que vivi contigo. Mas compreende que eu o amo. Olha para o filho maravilhoso que temos. Não o amas?

- Não sabes o que eu passei quando estavas em coma - afirmou ela, marejada em lágrimas. - Achas que foi fácil? Eu tinha dezasseis anos, podia ter morrido!

- Eu não quero cortar laços contigo, Gertrudes. Eu gosto de ti, como pessoa.

- Claro que gostas de mim como pessoa! Não sou um animal!

- Não estás a entender. Eu quero que continuemos a ser amigos, Ger.

- Vai ser difícil, sem ti - anunciou. - Mas já vi que não tenho escolha.

- Eu vou indo, está bem?

- Sim

- Adeus, Ger. Fica bem.

- Vou tentar, Berna.

Eu, ele e os outrosOnde histórias criam vida. Descubra agora