GABRIEL
Era muito cedo, muito cedo mesmo. Não me lembro que horas eram, mas deviam ser mais ou menos umas quatro ou cinco da manhã.Eu estava a fazer o que normalmente fazia a essa hora: navegar no Tinder. Queria arranjar um namorado ou namorada, para fazer ciúmes ao Bernardo. E que ideia estúpida.
Recebi um telefonema do Roberto, ou melhor, da Gertrudes. A voz dela estava trémula, e reparei que ela estava a chorar. Ela parecia-me em estado de choque, completamente traumatizada.
- Desculpa, Gabi - disse ela, quando eu atendi o telemóvel. - Tu tens de ir ver o Bernardo. A Miriam é mesmo uma psicopata. Vem assim que puderes, por favor. Ele ainda não acordou.
- Gertrudes, estás bem? Eu não te estou a entender. O que é que se passa com o Bernardo?
- Ele está aqui. Preciso de ti, por favor. Eu não consigo aguentar isto.
- Por favor, respira fundo. O que é que se passa com o Bernardo? E o que é que tem a Miriam?
- Vem para aqui, por favor! Vem, Gabriel. O Bernardo. Ele não está bem!
- Está aí alguém contigo?
- Sim, está.
Ela passou a uma outra pessoa, e eu percebi que se tratava de um médico.
- Estou? - disse ele. - A sua amiga não está em condições para explicar o ocorrido. O seu amigo levou um tiro, e está, atualmente, em coma.
- O quê?! - perguntei eu, incrédulo, com lágrimas nos olhos. - Não, não devemos estar a falar da mesma pessoa.
- Infelizmente, é verdade. Lamento.
Eu desliguei o telemóvel e atirei-o para longe. O Bernardo, o amor da minha vida, tinha levado um tiro? Naquele momento eu era capaz de matar quem tinha feito aquilo. Mas porquê ele? Ele nunca tinha feito mal a ninguém, ou pelo menos nada muito grave. Ele não merecia aquilo.
A minha mãe acordou com o barulho do telemóvel a bater contra o espelho, e com este a partir-se.
- Partiste o espelho Gabriel? Não sabes que isso dá nove anos de azar?
- Eu já tenho azar, não pode piorar - disse-lhe eu a chorar.
- Vamos parar de ser infantis? O que é que se passa?
- O Berna...
- Outra vez com esse Bernardo? Não era esse o teu namoradinho? Interessante como nunca mais o trouxeste aqui a casa. Tens falado com ele.
- Ele não é meu namorado - solucei eu. - Somos apenas amigos, ou pelo menos, foi o que ele disse...
- Mas o que é que ele tem?
- Ele levou um tiro. Dás-me boleia para o hospital?
- Deves estar doido para achares que eu te vou deixar andar sozinho a estas horas. São quatro da manhã! Não dá para esperares até de manhã?
- Não, mãe. Ele é muito especial para mim.
- Faz o que quiseres, só não venhas para aqui depois a chorar pelos cantos. Estou farta desses teus romancezinhos dramáticos.
- Posso ir a pé ou apanhar um autocarro.
- Mas tu és surdo? Eu disse FAZ O QUE TU QUISERES! Eu não quero saber.
Agarrei nas minhas coisas e fui a correr para o hospital, que não ficava relativamente perto da minha casa. Para dizer a verdade, ficava muito longe. Mas tinha de ser. O amor da minha vida estava à espera.
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Eu, ele e os outros
FanfictionA história de romance e traição de Gabriel e Bernardo. A continuação no meu perfil.