Capítulo XVII - Uma notícia inesperada

31 1 0
                                    

GABRIEL


Era muito cedo, muito cedo mesmo. Não me lembro que horas eram, mas deviam ser mais ou menos umas quatro ou cinco da manhã.

Eu estava a fazer o que normalmente fazia a essa hora: navegar no Tinder. Queria arranjar um namorado ou namorada, para fazer ciúmes ao Bernardo. E que ideia estúpida.

Recebi um telefonema do Roberto, ou melhor, da Gertrudes. A voz dela estava trémula, e reparei que ela estava a chorar. Ela parecia-me em estado de choque, completamente traumatizada.

- Desculpa, Gabi - disse ela, quando eu atendi o telemóvel. - Tu tens de ir ver o Bernardo. A Miriam é mesmo uma psicopata. Vem assim que puderes, por favor. Ele ainda não acordou.

- Gertrudes, estás bem? Eu não te estou a entender. O que é que se passa com o Bernardo?

- Ele está aqui. Preciso de ti, por favor. Eu não consigo aguentar isto.

- Por favor, respira fundo. O que é que se passa com o Bernardo? E o que é que tem a Miriam?

- Vem para aqui, por favor! Vem, Gabriel. O Bernardo. Ele não está bem!

- Está aí alguém contigo?

- Sim, está.

Ela passou a uma outra pessoa, e eu percebi que se tratava de um médico.

- Estou? - disse ele. - A sua amiga não está em condições para explicar o ocorrido. O seu amigo levou um tiro, e está,  atualmente,  em coma.

- O quê?! - perguntei eu, incrédulo,  com lágrimas nos olhos. - Não,  não devemos estar a falar da mesma pessoa.

- Infelizmente, é verdade. Lamento.

Eu desliguei o telemóvel e atirei-o para longe. O Bernardo, o amor da minha vida, tinha levado um tiro? Naquele momento eu era capaz de matar quem tinha feito aquilo.  Mas porquê ele? Ele nunca tinha feito mal a ninguém,  ou pelo menos nada muito grave. Ele não merecia aquilo.

A minha mãe acordou com o barulho do telemóvel a bater contra o espelho, e com este a partir-se.

- Partiste o espelho Gabriel? Não sabes que isso dá nove anos de azar?

- Eu já tenho azar, não pode piorar - disse-lhe eu a chorar.

- Vamos parar de ser infantis? O que é que se passa?

- O Berna...

- Outra vez com esse Bernardo? Não era esse o teu namoradinho? Interessante como nunca mais o trouxeste aqui a casa. Tens falado com ele.

- Ele não é meu namorado - solucei eu. - Somos apenas amigos, ou pelo menos, foi o que ele disse...

- Mas o que é que ele tem?

- Ele levou um tiro. Dás-me boleia para o hospital?

- Deves estar doido para achares que eu te vou deixar andar sozinho a estas horas. São quatro da manhã! Não dá para esperares até de manhã?

- Não, mãe.  Ele é muito especial para mim.

- Faz o que quiseres, só não venhas para aqui depois a chorar pelos cantos. Estou farta desses teus romancezinhos dramáticos.

- Posso ir a pé ou apanhar um autocarro.

- Mas tu és surdo? Eu disse FAZ O QUE TU QUISERES! Eu não quero saber.

Agarrei nas minhas coisas e fui a correr para o hospital,  que não ficava relativamente perto da minha casa. Para dizer a verdade, ficava muito longe. Mas tinha de ser. O amor da minha vida estava à espera.

Eu, ele e os outrosOnde histórias criam vida. Descubra agora