Capítulo VI - O reencontro

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BERNARDO


Eu estava deitado no chão. Já não tinha mais força para continuar.

- Anda, Berna - disse-me o Roberto, segurando na minha mão. - Não podemos desistir agora.

- Não aguento mais. Estamos há horas a caminhar no meio da neve, estou com frio, com fome e cansado.

- Não desistas. Vamos encontrar o Gabi. Ele não deve estar muito longe.

- Não sei, Roberto... Não sei.

- Olha, uma casa. Pode ser que o dono nos dê alguma comida. Anda!

- Eu... Eu não sei... Se dois estranhos te batessem à porta a pedir comida, tu darias?

- Não. Mas há malucos para tudo.
- Está bem. Vamos, então.

Batemos à porta, e uma senhora veio abrir-nos a porta.

- Sr. Carlos, estão aqui dois miúdos.

- Dois miúdos? Quem são? - perguntou o senhor, dirigindo-se à porta.

- Peço desculpa - gaguejei. - Eu... Quero dizer, nós... Estamos perdidos... E com fome.

- Oh, entrem. Ignorem a desarrumação, por favor. Vocês moram onde?

- Viseu.

- Caramba, vieram de longe. Vocês sabem que estão em Faro, não sabem?

- Faro? Nós pensávamos que estávamos tipo em Leiria.

- Pois estás muito enganado. Eu tenho impressão de que já te vi.

- Quer saber, eu também.

- Como é que tu te chamas?

- Bernardo Silveira.

- Filho?

- Pai? Tu... Tu abandonaste a minha mãe. Porquê? - perguntei, entre lágrimas.

- Eram... Eram outros tempos... Nunca foi minha intenção desaparecer...

- Mas desapareceste! Sabes o que eu e ela passamos? O que nós tivemos de passar por tua causa?

- Olha, estás a ver isto?

Ele mostrou-me um molho de notas de 500€.

- Sim. O quê é que tem?

- São teus se não contares nada à tua mãe.

- Mas... Eu não posso fazer isso... Eu não escondo nada da minha mãe.

- Não escondeste o Gabriel? - perguntou-me o Roberto, sussurrando.

- Cala-te - sussurei eu, pisando-o.

- Mas, Berna, com esse dinheiro todo podemos encontrá-lo!

- Não, Roberto. Independentemente do facto de encontrarmos ou não o Pinto, eu vou contar a minha mãe. Não existem segredos entre nós.

- Como queiras - disse o meu pai. - Mas haverá consequências.

- Não quero saber. Anda Roberto, vamos embora.

Caminhámos mais um pouco, até que avistei uma casa familiar. Era a casa da minha prima Miriam. Finalmente íamos passar uma noite digna!

obs; eu sei que em Faro não neva

Eu, ele e os outrosOnde histórias criam vida. Descubra agora