Capítulo X - O segredo obscuro do Roberto

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BERNARDO


Eu e o Roberto fomos juntos jogar futebol.

O Roberto estava muito bonito com o equipamento do Benfica. Dei por mim a olhar para ele, com a cabeça nas nuvens.

- Vens ou não, Berna? - perguntou ele.

- Vou - disse eu. - Traz a bola.

Jogámos durante muito tempo, mais ou menos duas horas, e fizemos uma pausa para lanchar.

Fomos até ao café e pedimos duas sandes e duas garrafas de água. 

Sentámo-nos a comer e percebi que o Roberto parecia estranhamente desconfortável.

- Está tudo bem, Roberto? - perguntei-lhe.

- Hã? Sim está - respondeu ele, meio distraído.

- Tens a certeza? Tu pareces estranho.

- O quê? Não, está tudo bem.

- Está bem.

Estávamos a retomar ao campo, quando percebi que os calções brancos do Roberto estavam sujos, com uma mancha vermelha.

- Roberto.

- O que foi?

- Os teus calções estão sujos.

- O... O quê? - perguntou ele, a ficar corado.

- Sim, olha. Deves-te ter-te sentado em cima de alguma coisa.

- Eu vou só ali... Já volto.

- Espera, Roberto! Onde vais?

- Vou só ali à casa de banho.

- Queres ajuda para limpar isso?

- Não... Não é preciso...

- Podes limpar depois. Anda, vamos aproveitar enquanto está de dia.

- Está... Está bem. Vamos.

Jogámos durante mais uma hora, mas eu percebi que aquela mancha vermelha nos calções tinha aumentando.

Parei um pouco para raciocinar, e cheguei à conclusão que, se calhar, só mesmo se calhar, aquilo era sangue. Será que...

- Roberto, tu... Está bem?

- Sim... Porquê?

- Isso nos teus calções... É sangue?

- O quê? - perguntou ele, corado. - Co... Como assim? N... Não... Deve ser... Ketchup! Ketchup das sandes!

- Hum... Roberto... As sandes não tinham ketchup...

- Então deve ter sido o sumo...

- O sumo... Nós pedimos água, lembras-te?

- Pois... Pois foi...

- Há... Há alguma coisa que... Sei lá... Que tu me queiras contar?

- Está bem... Então... Talvez eu... Talvez eu não seja quem tu pensas que eu sou...

- Tu... Tu não és um rapaz... Ou és?

- Não... Não sou...

- És... És transexual?

Ele acabou com a cabeça para cima e para baixo.

- Podias-me ter contado antes...

- Eu... Eu não estava pronto para te perder...

- Roberto, olha para mim. Tu não me vais perder. Nós dissemos que não íamos guardar segredos.

- Desculpa. Podes, pelo menos, continuar a tratar-me como um rapaz?

- Claro, Roberto. Precisas de alguma coisa?

- Emprestas-me o teu casaco?

Eu dei-lhe o meu casaco e ele atou-o à cintura. Decidimos que era melhor ir para casa. Ele prometeu que, no dia seguinte, entregar-me-ia o casaco.
Quando cheguei a casa, deitei-me na minha cama, a olhar para o teto.

O Roberto era, na verdade, uma mulher?! E agora? Eu não o ia mais ver da mesma forma.

O meu telemóvel vibrou, e vi muitas chamadas perdidas do Gabriel. O nome dele no ecrã, "Pintinho 🐣 ❤️😍", fez a sua voz ecoar-me na cabeça.

Mas não. Não podia ser. Ele tinha-me traído, com a minha prima, e eu não o ia perdoar tão cedo, acontecesse o que quer que acontecesse.

Eu, ele e os outrosOnde histórias criam vida. Descubra agora