Capítulo XII - Noite a dois

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BERNARDO


Entrei no quarto e ouvi o Roberto a despedir-se de alguém.

- Com quem estavas a falar?

- Com o Gabriel. Ele ligou-te.

- Eu falo com ele depois. Já são três da manhã, apetece-me fazer outras coisas.

- Vamos dormir então?

- Dormir? Roberto, tu estás louco?

- Então... Vamos jogar FIFA mobile?

- Que FIFA mobile, Roberto?

- Também não?... Vamos então fazer uma luta de almofadas?

- Roberto, tu não me estás a entender. Eu quero fazer algo mais... Íntimo - disse eu, com uma voz sedutora.

- Vamos... Beijar-nos?

- Também... Mas tu sabes mesmo bem aquilo que eu quero...

Eu passei a minha mão nas coxas dele.

- Tu vais-me fazer uma massagem? É isso?

Pus a mão na cabeça e conti-me para não discutir com ele.

- Ah! Já sei o que tu queres. Tu queres... Fazer aquilo?

- Sim, eu quero. Tu és virgem, certo?

- Sou... Tens a certeza de que é seguro?

- Está tudo bem se não quiseres. Tu é que sabes.

- Vamos lá, então. Temos de aproveitar hoje que a tua mãe não está em casa.

Fizemos durante cerca de uma hora.

- Gostaste? - perguntei-lhe, depois de terminarmos.

- Eu? Eu adorei. Mas magoa muito.

- Tudo tem um preço. Mas... Tu queres que eu te trate como um rapaz ou como uma rapariga?

- Eu acho que... Como uma rapariga. Durante os últimos dias em que me trataste como tal, eu acho que me senti melhor.

- Então... Roberta?

- Não, o meu nome não é Roberta. Eu vou-te revelar o meu verdadeiro nome. É Gertrudes.

- Que nome lindo! Sabes, tu ajudas-me imenso a esquecer o Gabriel.

- E é mesmo isso que tu queres?

- Acho que sim.

- Espera aí...

- O que foi, Gertrudes?

- Nós não devíamos... Ter usado um preservativo?

Trocamos olhares preocupados. Nenhum de nós conseguia falar, e, de facto, não estávamos prontos para ser pais

- Tem calma, por favor, Ger. Tu... Disseste que eras virgem, não disseste? As probabilidades de engravidares são poucas...

- Nunca me aconteceu isto. Já tive relações sexuais com outros rapazes, mas é a primeira vez que faço isto sem...

- Tu não eras virgem?

- Sim, eu sou. O meu aniversário é dia 4 de setembro.

- Não... Tu estavas a falar de signos?

- Sim, pensei que tu querias saber se eras compatível comigo ou não.

- Como assim, Gertrudes? Assim, tens mais probabilidades de estar grávida...

- Então, mas... E agora?

- Agora vamos ter de esperar. Tenho medo. Só tenho dezasseis anos, não estou pronto para ser pai.

- Desculpa, Berna. Eu... Não queria... Ou melhor, queria, mas...

- Eu já entendi, Ger. Vamos mas é dormir. Já são 4:30 da manhã.

Dormimos agarrados, mas isto não me despreocupou. Se ela engravidasse? O que é que eu ia fazer? Fugir como o meu pai fugiu? Com certeza não. Eu tinha medo, mas não era cobarde.

Não dormi nada, nessa noite. Fiquei ocupado a pensar na Gertrudes.

De repente, lembrei-me do Pinto. Como é que ele reagiria, ao ver o "Roberto" grávido, sendo que era eu o pai dessa criança.

Eu já não sabia nada... Mesmo nada.

Eu, ele e os outrosOnde histórias criam vida. Descubra agora