"ᵗᵒ̂ ᶜᵒᵐ ˢᵃᵘᵈᵃᵈᵉ ᵈᵃ ⁿᵒˢˢᵃ ᵃᵐⁱᶻᵃᵈᵉ
ᵃ ᵍᵉⁿᵗᵉ ˢᵉ ᵖᵉʳᵈᵉᵘ ᵉ ⁿᵃ̃ᵒ ˢᵉ ᵉⁿᶜᵒⁿᵗʳᵒᵘ ᵐᵃⁱˢ
ᵗᵃˡᵛᵉᶻ ᵃᵍᵒʳᵃ, ˢᵉ ⁿᵃ̃ᵒ ᶠᵒˢˢᵉ ᵗᵃ̃ᵒ ᵗᵃʳᵈᵉ
ˢᵉ ⁿᵃ̃ᵒ ᶠᵒˢˢᵉ ᵗᵃ̃ᵒ ᵗᵃʳᵈᵉ."- Não Fosse Tão Tarde, Lou Garcia.
SEMPRE GOSTEI DA ideia do amor. Sempre tive esperança, mesmo que fosse ridícula. Sempre tive ciência de que amor era um risco, e sempre acreditei que fosse um pelo qual valesse a pena correr. Sempre fui intensa. Pode ser muito bom em algumas horas e muito ruim em outras.
Então, talvez você se identifique ou me ache boba. Mas é isso que o amor nos faz na maior parte das vezes: bobos. Todos nós estamos sujeitos a se apaixonar em algum momento. A história que estou prestes a contar definitivamente foi um dos meus momentos. O mais intenso, verdadeiro e memorável momento.
Começando pelas informações básicas, meu nome completo é Victória Machado de Moraes. Minha cor favorita é amarelo, e eu tenho um cachorro gigantesco chamado Alfredo. Não faço ideia do porque ele se chama assim, mas minha mãe cismou com esse nome. Se isso significa algo pra você, eu sou virginiana.
Minha mãe é a pessoa mais doce da face da Terra. Sério. Alfredo é um ótimo companheiro também, apesar de ter mais energia do que seis pessoas juntas.
Meu pai é meu pai, mas às vezes sinto que não o conheço. Ele está lá, presente, mas se você coloca nós dois sozinhos em um carro, a gente não vai ter nenhum assunto. Na verdade, acho que tenho um pouco de medo dele. Não sei se o amaria se ele não fosse meu pai, e duvido que ele me amaria se eu não fosse a filha dele. Me sinto uma péssima pessoa por me sentir assim.
A primeira vez que batalhei foi em 2019, na Batalha da Norte. Não faço ideia de como isso aconteceu direito. Eu tinha tido uma briga com o meu pai. Saí de casa pra esfriar a cabeça.
Eu sempre ia assistir as batalhas, era ótimo descontar o meu estresse e frustração em gritos do tipo "mata ele, CARALHO!" ou "OOOOUU". Mas nunca me veio a cabeça que seria ainda melhor descontar isso no palco, onde as pessoas poderiam fazer algo com a minha rima, se identificar de alguma forma.
Eu era louca, e colocava beats no meu fone e rimava sussurrando de madrugada. Eu era tão louca, ao ponto de colocar meu nome no sorteio em um momento de impulsividade. Não é como se eu realmente acreditasse que a merda do papel ia sair.
Atena. Era o que eu tinha escrito. Era como minha mãe me chamava, porque vivia com a cabeça em livros. Atena. Porque foi o primeiro nome que me veio na cabeça, e com sorte, ele me transmitiria a inteligência que ele carrega consigo.
Quando eu fui anunciada, eu tremi na base.
Fudeu. - pensei.
Graças ao Santo Deus, depois que meu nome foi sorteado, deu problema no som e os apresentadores - que mal sabia eu que viraríam meus amigos - começaram a conversar com a plateia.
Comecei a literalmente tremer, quando um garoto de cabelo cacheado e pele negra veio falar comigo. Reconheci ele de algumas batalhas. Barreto.
- Ei, tá tudo bem? É você que vai rimar agora? - ele pergunta.
Olho pra ele com um olhar de puro desespero involuntário.
- Eu... Eu sou maluca eu não sei rimar direito eu só rimo por diversão no meu quarto e em uma crise de impulsividade eu acabei de colocar meu nome lá sendo que não tenho preparo o suficiente pra isso... - comecei a falar. Assim mesmo, sem nenhuma vírgula no meio.
- Ei, ei. Você acabou de lançar um speed flow maneiro. Respira. Vai dar tudo certo. A arte que você chama de "diversão no seu quarto" pode se tornar algo muito maior. Entendo que você tá insegura agora, mas eu preciso que cê respire, certo?
Assinto com acabeça e começo a respirar fundo.
- Isso. Relaxa. A batalha é pra ser ambiente de acolhimento, e não de desespero. Você pode sair correndo agora, e ninguém vai te impedir de fazer isso. Mas você também pode ficar, e eu te prometo que no primeiro grito que a plateia dar, tudo vai valer a pena.
Olho pro menino à minha frente. O que eu tinha a perder?
- Tá. Vou lá.
Ele sorri.
- Tenho dó de quem vai ter que rimar com uma oponente tão capacitada como você. - ele diz, e eu consigo soltar uma risada nasalada.
A conclusão da noite: eventualmente, eles concertaram o som e me anunciaram de novo. O meu oponente foi sorteado. "Barreto." Eu ri de desespero na hora. Ele surgiu no palco, com um sorriso no rosto. Aconteceram dois milagres naquele dia: eu consegui puxar um terceiro round contra o Barreto. Segundo: toda a ansiedade que eu estava sentindo saiu do meu corpo e foi despejada nas minhas palavras. As rimas saíam naturalmente da minha boca, apesar do meu cérebro estar em chamas.
Obviamente, eu não ganhei aquela batalha. Mas duvido que tenha perdido algo. Aquela Norte, aquele dia, foi onde a minha vida mudou. Foi onde senti meu coração batendo novamente quando achava que ele já não conseguia. Foi onde conheci meu irmão. Foi onde eu consegui ficar em paz comigo mesma.
Quem ganhou a Norte do dia foi o Magrão. Depois de tudo, Barreto me apresentou pros outros mc's: Guri, Jotapê, Brennuz, Doprê, Levinski, Magrão e Lili.
Eu voltei várias vezes desde então, mesmo contra a vontade de meu pai. Aquilo deixou de ser algo feito só por mim, e começou a ser alguma coisa maior.
Eu tava sempre grudada nos meus amigos. Às vezes a gente colava em outras batalhas, mas eu não podia ir muito longe da minha casa. A Norte se tornou basicamente o meu lar.
Depois de um tempo, fui ficando mais reconhecida. Nunca foi meu objetivo, nunca foi uma meta. Só aconteceu. E foi uma merda de acontecimento.
É claro que eu gostava das pessoas que me admiravam, mas eu comecei a levar muito hate. Aprendi na marra, que quando você é a uma mulher fazendo a mesma coisa que um homem faria e seria aplaudido, sempre acham algum jeito mirabolante de te diminuir. Começou com eles falando que só gritavam pra mim porque eu era bonita. Aí começaram a me xingar. Depois evoluiu pra uma hipersexualização da porra. Mas até então, era só na internet. Eram só pessoas covardes, que se escondiam atrás de uma telinha. Só que começaram a gritar xingamentos e comentários nojentos no meio das minhas batalhas.
Por eu ter feito amizade com os meninos, principalmente o Barreto, o Jota, o Brennuz e o Guri, começaram a falar que eu era interesseira. Que na verdade eu ficava com eles em troca de fama. O que obviamente era um absurdo. Eu só queria rimar. O lugar que eu ia pra me esquecer da ansiedade, dos problemas, se tornou o motivo de tudo isso.
Minha mãe via o mal que isso me fazia, e me proibiu de voltar em qualquer batalha. Desafiar meu pai era uma coisa, mas se a minha mãe concordava em me deixar em casa, era porque alguma coisa realmente estava errada.
Meu pai tirou meu celular, pra que eu nunca mais falasse com meus amigos. Talvez ele acreditasse nos comentários. Mas não gosto desse pensamento, então prefiro ignorá-lo. O importante é que a minha mãe acreditava em mim, e isso bastava.
Mas dizer que não doía olhar pra uma memória tão feliz e saber que não estava mais no meu alcance seria mentira. Eu sentia falta das batalhas, do sentimento de afastar todas as coisas ruins com as meras palavras da minha boca.
Sentia, principalmente, uma falta arrebatadora de meus amigos. Da visão de vida que o Barreto tinha. De como a inteligência do Guri não afetava o seu humor quebrado. Da responsabilidade do Jota, apesar de sempre ser acompanhada com loucura. De como o Brennuz era um nerd. Das graças da Levinski e do Magrão.
Eles trouxeram cores pra minha vida tediosa, e agora tava tudo preto e branco de novo.
Nota da Autora <3
- Oi galera, como cêis tão?
Prólogozinho pra vcs.- Perdoem por qualquer erro ortográfico.
É isso, bjjjjj
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𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗮𝗺𝗼𝗿 - 𝗴𝘂𝗿𝗶 𝗺𝗰
FanfictionAMOR, AMOR, AMOR. Atena sempre gostou da ideia do amor. Ela gostava das coisas que fazia que envolviam o amor. Ela sempre foi apaixonada por arte no geral, mas se encontrou verdadeiramente nas batalhas de rima. Mesmo que seu pai desaprovasse, mesmo...