𝗿𝗲𝗲𝗻𝗰𝗼𝗻𝘁𝗿𝗼.

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"ᵈᵒ́ⁱ ᵒ ᵖᵉⁱᵗᵒ
ˢᵒ́ ᵈᵉ ᵒˡʰᵃʳ ᵒ ʲᵉⁱᵗᵒ ᵠᵘᵉ ᵗᵘ ᵖᵒˢᵃ
ˢᵃᵘᵈᵃᵈᵉˢ, ᵖᵒⁿᵗᵒˢ ᵈᵉ ᵉˣᶜˡᵃᵐᵃᶜ̧ᵃ̃ᵒ
ᵛᵒᶜᵉ̂ ᵉˢᵗᵃ́ ᵐᵃʳᵃᵛⁱˡʰᵒˢᵃ."
— Pontos de Exclamação, Jovem Díonisio.




FICAMOS ALI POR uns 10 minutos. Eu nem via o tempo passar. Não via nada, na verdade, a não ser o mic e meus amigos. Não escutava nada a não ser o beat, a minha própria voz e a risada deles. Não pensava em nada a não ser a próxima palavra que eu ia falar, e era libertador o silêncio respeitoso que a minha mente fazia quando eu rimava.

Era a minha vez de novo. Soltei o primeiro verso, quando de repente ouço a porta atrás de mim destrancar.

— CHEGAMO COM AS COMPRA FAMÍLIA. Cêis não tão rimando sem a gente não né? - ouço uma voz masculina alegre falando animadamente.

— Tória? - ouço outra voz masculina. Essa é mais suave, apesar de eu reconhecer uma nota de desespero na pergunta.

Eu reconheceria essas duas vozes em qualquer dos confins da terra. É claro que eles estavam chegando juntos. Eles sempre estavam juntos.

Olho pra trás e vejo a minha dupla dinâmica favorita.

Barreto solta os sacos de compras no chão e Guri fica me olhando em choque.

Tudo fica em silêncio por um momento. O beat para, as vozes param, tudo para.

Chega a ser vergonhoso a quantidade de vezes que eu já sonhei em reencontrar esses dois malucos.

— Sua mal amada. Sua filha da puta. Sua abandonadora de lares. - eu nem respiro, e Barreto já tá em cima de mim. Demoro um tempo pra perceber que ele não tá tentando me dar um mata-leão, mas um abraço.

— Barro. Desculpa. Eu senti tanta saudade de você, irmão. - falo, e o abraço também, porque embora eu estivesse vermelha de tanto que ele tava me apertando, eu também queria descontar a dor da minha falta em algo.

Ele finalmente me solta e eu consigo analisar rapidamente o seu rosto.

O cabelo, que antes era grande, estava curto. Ele tava usando um moletom de girassol e um boné. Era o mesmo Kauan de sempre.

Desvio o olhar pro homem um pouco paralisado na porta. Levanto, levemente apreensiva. Até agora, as coisas andaram muito bem - bem demais para parecerem verdade. Nenhum deles até agora tinha ficado bravo comigo, mas eles tinham todo o direito de ficar.

Analiso o rosto agora do mais velho, que estava com o cabelo com alguns fios em azul, quase imperceptíveis no cabelo negro. O rosto estava mais maduro, mas não carregava ódio.

— Oi? - falo, quase uma dúvida.

Ele larga as sacolas dele no chão e me dá o melhor abraço que eu já recebi em toda a minha vida. Sério. Você provavelmente já deve estar cansada de ler tantos abraços, mas esse foi diferente. Enfio minha cabeça no peito dele e fecho os olhos. Deus é bom, e ele não tava bravo comigo.

— Oi. Oi Tória, sua maluca da desgraça. Você é real?

Solto uma risada.

— Acredito que sim.

— Surpresa! - Jotapê fala, balançando as mãos com um sorriso envergonhado.

— Mano, ela tá a quanto tempo aqui sem a gente saber? - escuto a voz de Barreto.

𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗮𝗺𝗼𝗿 - 𝗴𝘂𝗿𝗶 𝗺𝗰Onde histórias criam vida. Descubra agora