𝗽𝗮𝗱𝗮𝗿𝗶𝗮 𝗱𝗼 𝘀𝗲𝘂 𝘇𝗲́.

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ᵉ ᵉᵘ ᶠⁱᶜᵒ ᵃᵠᵘⁱ ᵗᵉ ᵉˢᵖᵉʳᵃⁿᵈᵒ
ᵐᵉ ᶠᵃᶻ ᵖᵉʳᵈᵉʳ ᵒ ᶜʰᵃ̃ᵒ
ᵐᵃˢ ᵖᵉⁿˢᵒ ᵃᵗᵉ́ ᵠᵘᵃⁿᵈᵒ, ᵃᵗᵉ́ ᵠᵘᵃⁿᵈᵒ
ᵖᵉⁿˢᵉⁱ ᵈᵉᵐᵃⁱˢ, ᵐᵉ ᵃᶠᵒᵍᵘᵉⁱ
ᵉˢᵠᵘᵉᶜⁱ ᵈᵉ ᵐⁱᵐ, ᵐᵉ ˡᵉᵛᵃⁿᵗᵉⁱ
ᵐᵃˢ ᵃⁱⁿᵈᵃ ᵗᵉ ᵇᵘˢᶜᵒ ᵉᵐ ᵗᵒᵈᵃ ˡᵉᵗʳᵃ ᵠᵘᵉ ᵉᵘ ᶜᵃⁿᵗᵒ."

— ainda te busco, Lou Garcia



A ANSIEDADE TOMOU conta dos meus pensamentos mesmo que o momento fosse bom.

Ansiedade não tem lógica, por mais que eu fatore quinhentos mil motivos para não ficar nervosa, a inquietação invade meu corpo, minhas mãos suam sem permissão e meu estômago embrulha sem motivo.

Me corrói, me faz viver na ilusão da minha cabeça que é o futuro. Descobri que a ansiedade da coisa sempre é pior do que a própria coisa. Com sofrimento eu consigo lidar, mas a pré-chegada dele e tudo que ele promete para a minha mente conturbada? Com isso, é meio impossível.

No uber, balanço minhas pernas enquanto as perguntas completamente malucas e improváveis derrubam minha mente.

E se tudo isso for só um sonho e eu acordar?

E se ele me achar covarde por não ter enfrentado o meu pai? Às vezes até eu me acho.

Mesmo se ele me perdoar, não vai ser como antes.

E se nós dois tivemos mudado mais do que eu esperava?

E se na verdade esse uber for um louco tentando me sequestrar?

Meus "e se" são interrompidos pela parada do carro. No lugar certo, graças a Deus. Pago o moço e abro a porta, caminhando pela praça ensolarada até chegar na padaria.

Fazia um tempo que eu não ia lá. Não reprimo o sorriso quando entro no estabelecimento.

Era tudo como eu ainda lembrava: mesinhas e cadeiras de plástico, o balcão com o senhor mais simpático do mundo, que era o Seu Zé. Vasculho o lugar até me deparar com um menino de dreads vermelhos dando um sorriso gigantesco, tirando foto com uma menina. Do lado deles, tinha uma menina extremamente bela de pele escura e olhos esverdeados. Kakau, pelo o que eu saiba, a namorada dele.

Observo ele se despedindo da menina, que eu suponho que seja uma fã.

Tomo coragem e caminho em direção a mesa. Kakau que me vê primeiro, cutucando o Jota. O olhar dele finalmente se direciona a mim e ele arregala o olho e lança outro sorriso gigantesco.

- Atena. - ele solta uma risada quando eu chego na mesa e se levanta para me abraçar.

Fica aí uma nota: o Jota tem um dos melhores abraços do mundo. Ele quase me esmaga, mas eu não tava ligando muito porque também estava esmagando o mesmo.

- Jota. Senti tanta saudade.

- Eu também sua louca. Você sumiu do nada. - fala se desvencilhando do abraço. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele me apresenta a garota- Essa é a Kakau, minha namorada.

Kakau me dirige um sorriso simpático e também se levanta para me abraçar.

- O João ficou bem animado com a sua volta. Prazer te conhecer.

- O prazer é meu. - digo, e nos sentamos.

- Atena? - ouço uma voz mais velha me chamar. Quando olho pra trás, me deparo com seu Zé com três açaís em uma bandeja.

- Sou eu, Seu Zé. Como o senhor está?

Ele dá uma risada e coloca a mão no meu ombro.

- Estou bem, graças a Deus. Você fez falta, minha filha. Seja bem vinda de volta.

Dirijo o sorriso à ele, vendo o mesmo ir atender outras mesas.

- Espero que você ainda goste do açaí com paçoca. - ouço a voz de Jotapê e eu quase me desmancho. Açaí com paçoca era meu ponto fraco.

- É óbvio que eu ainda gosto de açaí com paçoca. - digo e reviro os olhos em tom de brincadeira.

Dou uma colherada enquanto ele me pergunta:

- O que aconteceu?

O que aconteceu? Nem eu sei direito.

- Cara... Me desculpa por ter saído sem falar nada. De verdade. Não foi a intenção, é que o hate ficou pesado em mim, ainda mais por causa do meu gênero. - eu falo, faxendo uma careta. - ao mesmo tempo, meu pai começou a brigar muito comigo. Ele tirou meu celular de mim por quase um ano e apagou o contato de vocês. Eu comecei a ter umas crises de ansiedade... É complicado. O público começou a me chamar de puta e isso transmitiu pras pessoas pessoalmente também. - dou uma colherada.

Jota sempre foi um bom ouvinte. Kakau também não parecia muito atrás.

- Não teve um dia que eu escolhi parar de ir batalhar. A minha mãe começou a ver o quanto aquilo tava me fazendo mal, e eu não tinha mais nem o apoio dela. Meus pais me bloquearam de ter acesso às batalhas. Talvez tenha sido melhor assim, mas eu realmente sinto muito por não ter conseguido dar nenhuma explicação pra vocês. Achava que você tava bravo comigo por conta disso. - termino, e dou outra colherada no açaí.

Ele me olha atentamente.

- Eu que sinto muito por tudo que você passou. Só foi burrice sua achar que a gente tava bravo. - ele responde, franzindo o cenho.

- Já vi uns vídeos seus batalhando, depois dos meninos encherem o saco pedindo. Você era boa. - Kakau elogia, e eu sorrio com a fala. "Depois dos meninos encherem o saco pedindo".

- Então... Eu sinto falta disso. De tudo isso. Das batalhas, da padaria, de vocês. Não faço ideia se ainda sei rimar, mas tenho vontade.

Jota sorri e Kakau pergunta:

- Você faz faculdade?

Faço uma careta involuntária e ouço a risada deles.

- Arquitetura. É um saco.

- VOCÊ... ARQUITETURA? - Jotapê quase morre de tanto rir, enquanto Kakau da um tapa no joelho dele.

- Ai! - ele reclama, entre risadas.

Reviro os olhos mas não consigo deixar de rir também. Ele entendia. Era esse o nível de absurdo eu estar fazendo arquitetura.

- Para de rir da minha desgraça, seu chato. - eu digo, rindo da risada dele, o que só faz ele rir mais. Daqui a pouco, Kakau também não consegue segurar a risada dela.

Estávamos os três rindo que nem hienas, e eu nem lembrava direito o porquê.

Era disso que eu precisava. Dessa dose de serotonina doida.

Ficamos conversando até o açaí acabar e Jotapê me perguntar:

- Você tem carona?

- Não, vim de uber. Mas não pre...- ele não me deixou terminar.

- A gente vai pra Mansão da Aldeia agora.

Quase engasgo com a minha própria saliva.

- Oi? Mansão da Aldeia?

- Só confia, Tória. Só confia.

Kakau revira os olhos pro namorado, mas me dá um sorriso de empatia e me abraça pelos ombros.

- O João tá maluco mesmo. Vêm, vai dar tudo certo. - ela diz caminhando comigo para a saída.

Grito uma despedida para o Seu Zé, enquanto sou sequestrada por um dos meus melhores amigos e sua namorada.






Nota da Autora:
- oooi, como cêis tão?

- Me desculpem por qualquer erro ortográfico.

- É isso, bjjjj

𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗮𝗺𝗼𝗿 - 𝗴𝘂𝗿𝗶 𝗺𝗰Onde histórias criam vida. Descubra agora