A primeira coisa que Irin disse quando eu e Freen voltamos juntas para a mesa foi:
- Freen! Quer ouvir a música que vou cantar no Sarau?
Freen, que estava se sentando ao meu lado, olhou para ela com interesse genuino. Isso foi algo que odiei porque significa que ela vai querer ouvir a maldita música e eu juro por Deus que não posso suportar ouvir minha amiga cantar por mais nem um segundo. E sério, você ai que está lendo isso não imagina quantas vezes no dia ela canta essa música, ninguém sabe o que eu e Noey estamos passando com essa tortura diária. E ela nem canta mal, sabe? Irin é muito talentosa e tem a voz unicamente bela, mas tudo tem um limite.
- Que Sarau? - Freen pergunta animada. Percebo Noey olhando para a boca dela com uma cara de "meu Deus" e quando eu olho também, percebo que há várias manchas de batom cobrindo seus lábios e arregalo os olhos.
- Que vai ter na escola! - O olhar alegre de Irin também passa pelos lábios de Freen percebendo o meu batom lá, mas ela logo volta a tagarelar sobre o maldito Sarau - Eu vou cantar uma música com Hailee e Kehlani e depois uma outra sozinha.
- A música é Coming Home, conhece?
Agarro a nuca de Freen com uma mão e Noey segura a risada enquanto eu passo o guardanapo por sua boca ao que ela responde Irin. Foi estranho para mim o quanto toda essa ação foi natural e espontânea.
- Não. - Ela fala depois que eu me afasto.
- A Freen só ouve The Killers. - Pego meu espelho pequeno dentro da bolsa de ombro que está pendurada na minha cadeira e me olho para verificar se minha boca não está toda borrada como a de Freen.
- The Killers? As músicas deles são legais. - Noey comenta, ainda um pouco introspectiva na conversa e Irin concorda.
O brilho de alegria que enche o olhar de Freen quase me faz sorrir feito uma bobona, mas eu me seguro.
- Vocês conhecem o The Killers?! - Ela quase grita.
- Eu conheço aquela música... When You Were Young, eu acho? Eu tentei aprender no meu violão. - Irin adiciona, fazendo uma cara de quem tenta se lembrar de algo.
Eu não gosto dessa conversa porque não sei nada sobre o The Killers, então apoio meu rosto em uma das mãos e fico olhando a cena bizarra que é Freen interagindo com minhas amigas. Noey faz alguns comentários aqui e ali, e olha para mim querendo rir quando Freen diz algo aleatório e que não tem nenhum contexto com a conversa, como quando ela disse que Irin parece a Beyoncé.
Eu acho que você já percebeu, mas eu adoro assistir Freen fazendo qualquer coisa. É tão fofo o jeito como ela gesticula com as mãos sobre as músicas favoritas e o brilho dos olhos grandes e redondos quase alcançando meu coração durante o discurso dela sobre a importância da música Spaceman para todo o universo. Ela fala pelos cotovelos, fala sobre o novo emprego também e sobre as notas e eu fico impressionada com o quão bem ela e Irin se dão.
Olha só para você, menina querida Rebecca Armstrong, apresentando essa garota estranha para suas amigas oficialmente e ficando feliz que elas se deram bem (apesar de todo o rancor de Noey). Eu estou aqui, olhando para ela como se ela fosse a melhor coisa que me aconteceu nesses últimos tempos, mesmo que na época tenha sido bem ao contrário, e me sentindo feliz porque acho que ela está feliz também. Às vezes, eu erro meu julgamento, mas nesse dia acredito que acertei.
Deixando minhas reflexões exageradas de lado, Irin começou a cantar novamente.
- Então! - Noey fala mais alto do que a cantoria de Irin e chama a nossa atenção, fazendo a garota parar. A luz do sol que entra pela janela de vidro ilumina diretamente o rosto bem formado de Noey, deixando seus olhos mais evidentes -Freen, agora que você e a Rebecca... Hum... - Arqueio as sobrancelhas em sua direção num sinal de alerta, para que ela tenha cuidado com o que vai falar. - São mais próximas, você pode ser incluída na nossa tradição aqui no Mariá.