capítulo 20

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- Eu pago pra você. - Freen disse recusando a minha mão cheia de moedas em sua direção. Ela encheu a sua própria palma com as moedas que tirou do bolso e inseriu na máquina de doces na sua frente.

Eu apenas ergui as sobrancelhas com um semblante impressionado.

- Podíamos comprar só um pacote e dividir. - Digo dando de ombros, encostada na lateral da grande máquina que nos fornecia os pacotes de Fini todas as manhãs no refeitório da escola.

Freen estava encarando os doces lá dentro enquanto esperava pacientemente, vidrada em todos os acontecimentos dentro das engrenagens. Olhei para ela de cima abaixo, dando um risinho mudo ao observar sempre as mesmas coisas: a gravata com um nó mal feito, apenas um adesivo de anime na mesma e uma mancha de caneta em sua blusa branca, a qual eu mesma havia feito sem querer no início daquela manhã de segunda-feira, e as coxas lindas à mostra pela saia curta.

Eu também havia afrouxado o nó da gravata do meu uniforme para poder abrir os primeiros dois botões da camisa social, com o intuito de aliviar o calor que só se intensificava mais em todo ambiente conforme a manhã se seguia. Também havia me livrado do blazer escuro e das meias brancas, usando apenas a saia curta e os tênis brancos assim como quase todos os estudantes naquele verão.

- Sim, mas você sempre quer comer tudo. - Essa ridícula me acusa falsamente.

- Eu preciso de açúcar, tô em fase de crescimento. -  Cruzo os braços na tentativa de dar ênfase na minha defesa.

Freen para de olhar para os doces e me encara com um ar zombeteiro.

- Acho que não tá dando muito certo.

- Haha. - Eu sempre finjo rir com uma débil mental de suas brincadeiras sem graça. - Como tá a temperatura aí em cima pescoço de girafa?

- Ei, eu tô pagando seu doce. - Ela estica a mão para beliscar minha bochecha dolorosamente.

- Sai. - Afasto sua mão do meu rosto, minha bochecha latejando levemente com o aperto de seus dedos. - Essa coisa tá demorando muito. -  Reclamo do funcionamento lento da máquina em questão, resistindo a urgência de chutar o aparelho ou sacudi-lo para ver se tem algum efeito.

Freen fecha o punho e dá alguns socos na lateral da máquina enquanto eu observo o refeitório cheio e barulhento a minha frente. Todas as mesas devidamente ocupadas pelos alunos em seus grupinhos despojados. A mesa dos jogadores com Nop tagarelando sem parar e seus amigos dando gargalhadas escandalosas, a mesa dos nerds com Troye conversando civilizadamente sobre algum assunto de gente que gosta de falar sobre coisas sérias e importantes, a mesa de Hailee que era uma mistura de jogadores, nerds e alguns estudantes que ninguém dá mínima e a mesa das feiosas com Florence rindo e comendo um sanduíche que eu poderia ter envenenado, mas escolhi ser uma pessoa que resolve as coisas no diálogo e pretendia conversar com ela no final da aula.

Numa mesa que ficava mais ou menos no centro do refeitório, sentavam minhas duas melhores amigas. Irin parecendo alguma personagem de Gossip Girl com uma tiara preta na cabeça e Noey com aquele mesmo sorriso salafrário enquanto mostra algo para Irin no celular. Ela cochicha em seu ouvido e vejo Irin quase derreter de vergonha ao olhar a tela do aparelho, as bochechas ficando cada vez mais vermelhas quando ela sorri e dá um tapa no ombro de Noey.

Como sou bisbilhoteira já quero saber do que se trata.

- Toma. - Freen se levantou após se agachar para pegar os pacotes de Fini na abertura da máquina.

- Obrigada. - Não evito que meu sorriso largo se espalhe pelo rosto, fazendo meus olhos fecharem momentaneamente.

- Você parece um bebê quando sorri assim. - Freen diz ao abrir seu pacote rapidamente. Começamos a caminhar na direção de nossa mesa e sinto vários olhares sendo lançados em nossa direção vindos de todas as mesas ao nosso redor.

O encontro de um dólar Onde histórias criam vida. Descubra agora