Acho que não posso te salvar, Freen.
Isso não é algum filme completamente romântico onde apenas a força do meu amor é capaz de te curar de tudo. Não consigo te fazer esquecer as coisas ruins mesmo que eu tente com todo meu coração. Cada muralha que eu construo ao seu redor é derrubada brutalmente por você mesma, pelo que você se tornou, pelo que essa doença te transformou. Sozinha sou inútil nessa batalha.
Sinto como se estivesse de frente para um espelho, me olhando e vendo você refletida nele, presa do outro lado. E não importa o quanto você grite e bata as mãos no vidro, eu não consigo te puxar através dele. Estou de frente para você e mesmo assim não sou forte o suficiente para quebrar esse bloqueio que sua própria mente criou.
E é horrível, porque eu te amo tanto, Freen, e não quero te perder.
É ridículo e absurdo para mim sentir tanto algo, sentir tanto amor por uma única pessoa, mas é inevitável quando se trata de você. Acho que ser adolescente me faz sentir as coisas com uma intensidade multiplicada, mas eu sei que é verdadeiro mesmo assim.
De alguma forma, você estava certa. Você quase me destruiu com todo esse amor, te ver daquele jeito acabou comigo e me fez mergulhar num mar miserável de sentimentos ruins, me fez ter a pior experiência da minha vida mesmo que por pelo menos trinta minutos.
Espero que você saiba que se a porta do quarto de Noey estivesse fechada, eu a teria atravessado diretamente mesmo, quebrando a madeira sem nem pensar duas vezes por conta do desespero.
É surpreendente que nenhuma de nós três tenha rolado escada abaixo enquanto desciamos os degraus com urgência, o grito horrorizado de Irene agindo como uma injeção de adrenalina imediata em mim, Noey e Irin.
A cozinha está vazia quando passamos por lá, legumes e ingredientes foram esquecidos em cima do balcão e o cheiro forte dos molhos ainda circula no ar. A porta de vidro que dá acesso ao quintal está escancarada e com o coração querendo sair pela garganta, eu sou a primeira a correr na direção dela. Minha cabeça dói instantaneamente pelo estado extremo de nervosismo e o coração bate tão forte no peito que chega a doer.
Não preciso nem me aproximar da piscina o suficiente, porque já dá para perceber o que aconteceu quando vejo Martin pular num mergulho violento, com roupa e tudo, dentro da água brilhante.
Irene está parada a uma distância média da borda da piscina, as duas mãos no rosto pálido e completamente assustado. Tento andar até ela e percebo que minhas pernas vão fraquejar a qualquer instante.
- Freen. - Digo o nome dela com um suspiro, sentindo as palavras irromperem do peito como se fossem láminas, atravessando e machucando lentamente.
Minha voz sai completamente falha, o queixo já treme e não demora até que eu sinta as lágrimas escorrendo por minhas bochechas.
- Meu Deus. - É Irin logo atrás de mim. Dá para perceber a forma como sua respiração está fora de controle e o tom da voz aumenta quando ela se dirige a Irene. - O que aconteceu?!
É bem óbvio para falar a verdade, mas com certeza nenhuma de nós quer pensar muito sobre isso no momento.
Eu fico paralisada, tentando prender o choro que quer explodir de dentro de mim ao ver Martin sair da piscina com uma Freen inconsciente nos braços. Um bilhão de coisas passam pela minha cabeça em um único segundo, porém a mais importante é com certeza a realização de que se eu tivesse ficado na janela, teria visto o momento exato em que Freen tentou tirar a própria vida ao afundar na piscina.
Porque não tinha outra explicação, Só podia ter sido isso. Freen queria morrer? Ou foi mais alguma alucinação? Porque isso continua acontecendo? Porque ela continua sofrendo, não importa o que eu faça, não importa o quanto ela mesma tente, porque isso continua machucando tanto ela?