capítulo 17

1.8K 182 96
                                    

- Ela ia pular. - Minha voz está trêmula, nervosa.

- Ela estava subindo na janela e se eu não chamasse por ela, ela ia pular.

- Amiga, calma. - A mão quente de Irin se aloja em meu joelho nu, dando um aperto reconfortante.

Respiro fundo uma vez e engulo novamente o enorme bolo que se formava em minha garganta. Ele se misturava com o choque de saber que Freen obedeceria o que quer que essa voz em sua cabeça a mandasse fazer, como se isso fosse completamente normal. O carro se enche com o barulho da minha respiração, a rua escura e silenciosa do bairro de Freen é a responsável por deixar tudo tão quieto.

Martin dirige para a minha casa depois de termos deixado Freen na dela.

Eu não queria deixá-la, sentia medo só de pensar que ela estaria sozinha novamente.

Fiz com que prometesse que me ligaria se sentisse ou escutasse algo, se tivesse pesadelos, se qualquer coisa acontecesse, e ela me prometeu que ligaria. Estava mais quieta, o choro contido sendo engolido de volta assim que Martin se aproximou de nós duas no banco de concreto e disse que deveriamos ir para casa.

Irin e Noey mal falavam, apenas nos encaravam com olhares piedosos e confusos. No caminho para casa, Noey tentava amenizar o clima tenso ao comentar sobre a festa e os convidados, eventualmente engatando uma conversa entre nós quatro.

Freen ainda estava frágil em meus braços, abraçada ao meu tronco e respirando calmamente. Minhas mãos acariciavam seus cabelos longos, os dedos brincavam com a mecha solta e de vez em quando cutucavam suas bochechas, só para vê-la dar um sorrisinho curto em resposta. Irin estava ao nosso lado no banco de trás e mesmo sem entender nada ficou segurando a mão esquerda de Freen e traçando desenhos na pele com seu dedo indicador enquanto conversava normalmente com Noey e Martin. Irin era sempre assim, ela podia não entender a dor alheia, mas não significava que não te ajudaria a suportá-la.

Depois que deixamos Freen, as meninas pediram explicações que eu dolorosamente comecei a dar.

- Então ela tava alucinando? - Noey questiona.

- Eu não sei. - Fecho os olhos e passo a língua pelos lábios. Meu cérebro parece que vai dar um nó com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. - Ela ainda vê o pai que morreu e diz que tem alguém na cabeça dela a mandando fazer essas coisas.

- Ela está doente. - Irin considera. Sua expressão parece analisar os acontecimentos citados com calma.

- Deve ser porque ela não dorme direito. - Especulo, tentando me convencer de que não é nada tão sério. Estou começando a entrar em pânico e isso não é saudável. Meu coração está acelerado desde o momento em que achei Freen naquele quarto vazio e não se acalmou desde então. - Ela fica noites acordada pra vigiar a mãe.

- Rebecca, uma voz a mandou pular de uma janela. - Martin pontua com firmeza, me interrompendo. - E ela ia obedecer, você mesma disse. Ela ia pular. Ficar sem dormir não te deixa escutando vozes que te mandam fazer coisas bizarras, ela está doente. Precisam falar com os pais dela, ela tem que ir a um psicólogo.

Se eu não tivesse tão fragilizada teria ficado irritada com a intromissão dele e também com o fato de que ele interrompeu o que eu ia dizer. Mas suas palavras eram tudo aquilo que eu me negava a acreditar, achava que isso passaria em alguns dias e Freen voltaria ao normal sem termos que fazer nada, apenas ficar ali do lado dela. Mas eu não poderia fazer isso sempre, não poderia ficar vigiando Freen a todo momento e ela precisava de ajuda profissional. Não podia enrolar ou tentar me enganar, isso não é normal. É o início de algo maior e eu preciso parar isso antes que piore.

- Eu vou falar com a Taylor. - Irin aperta meu joelho mais uma vez. - O pai dela pode atender a Freen ou coisa assim.

- Ok. - Acabo deitando a cabeça no ombro dela, a vendo navegar pelo celular e abrindo a conversa com Taylor usando a apenas uma mão, seu outro braço se enrosca ao redor dos meus ombros me oferecendo um calor familiar ao alisar meu ombro com uma ternura que é relaxante, fazendo um sentimento mais pacífico correr pelo meu corpo. Fiquei atenta nas mensagens, vendo que Irin tinha enviado uma foto do look dela para a festa e Taylor respondeu com vários corações vermelhos e alguns elogios que não consegui ler direito. Essa não perde tempo, mandou coração vermelho já mostrando que não quer amizade.

O encontro de um dólar Onde histórias criam vida. Descubra agora