Vou postar o último só ano que vem
- Pega pra mim, filha, tá dentro da bolsa. - Minha mãe, que está muito ocupada encarando a estrada, me pede enquanto o som de seu celular tocando preenche todo interior do carro.
Eu preciso interromper minha partida no jogo de quebra-cabeça que baixei no celular antes de esticar o braço até o banco de trás, topando o saco plástico enorme onde meu vestido está guardado no processo. Não consigo evitar a sensação desagradável que se agarra em mim toda vez que penso em ir sem Freen, e sei que não deveria ser tão difícil porque, caramba, é só a porcaria de um baile de escola, mas você sabe que sempre fui dramática.
De qualquer maneira, o mais importante é que Freen fique bem agora. Isso é mais importante do que qualquer baile ou evento, ela pode levar o tempo que for preciso e eu estarei sempre aqui esperando.
Os dias desde minha visita clandestina à clínica se passaram de maneira mais leve e rápida já que ver Freen naquele dia foi a dose de incentivo que eu nem sabia que precisava para recarregar as esperanças. Ela continuou melhorando, eu me continuei tentando viver a minha vida e Irin e Noey continuaram sendo duas idiotas. E claro, o universo permaneceu sendo um pouco injusto comigo e o meu desejo de ter Freen como meu par no baile.
Outubro chegou e as datas foram se passando, levadas pela corrente do tempo até que não restasse outra alternativa. O baile de outono é amanhã e eu acabei de voltar do shopping com mamãe depois de uma tarde inteira escolhendo vestidos e mandando fotos para Noey e Irin no aguardo de suas opiniões. Noey escolhia sempre os que eu menos gostava e Irin dizia que todos eram lindos, o que não ajudava em nada. Tenho quase certeza que Noey nem sequer baixou as fotos que eu estava enviando. Por isso acabei levando em conta somente as escolhas da minha mãe.
Abro a bolsa e tiro o celular de lá. O nome Dra. Ella brilhando na tela faz meu coração palpitar um pouco e nem sei exatamente o porquê. Ela sempre costuma ligar para minha mãe para falar sobre como Freen está.
- Alô? Tá tudo bem...? - Minha mãe atende com pressa, diminuindo a velocidade do carro à medida que navegamos pelas ruas tranquilas. Fico olhando para ela, tentando ter alguma pista do assunto observando suas expressões. Leitora de expressões aqui, tá galera? - Agora? Sim... Tudo bem, chego aí em dez minutos.
Minha mãe encerra a ligação com a mesma rapidez que a iniciou, largando o telefone em cima da coxa e manobrando o volante para fazer uma curva.
- O que foi? - Pergunto.
- Ella quer conversar comigo pessoalmente, pareceu bem importante.
- Aconteceu algo com a Freen?
- Não, mas tem a ver com a continuidade do tratamento dela.
Pensei que ela iria me deixar em casa antes de seguir para a clínica, mas esse caminho com certeza não leva até nosso bairro.
- Vai me levar também? - Tento não ficar nervosa como da última vez, mesmo sabendo que de qualquer jeito vou acabar suando e imaginando cenários onde desmaio na frente de Freen.
- Claro, por que não? - Mamãe dá um quase sorriso para mim.
Porque Freen pode me ver e achar que estou me preocupando.
Eu me afundo no banco e volto a encarar o celular, saindo do meu joguinho de quebra-cabeça e indo contar as boas novas para minhas duas amigas. Encontrei nosso grupo já com algumas mensagens.
Gostosa: boa tarde família
A mensagem de Irin vinha acompanhando uma foto de seu rosto todo molhado com sabão nas bochechas, e dava para ver a água do chuveiro caindo em sua cabeça.