- Já consigo sentir meus órgãos parando...
- Para de falar besteira, menina. - Minha mãe quase rosnou tirando o termômetro debaixo do meu braço.
- E sério, mãe. - Eu abro um pouco os olhos, a voz manhosa e rouca de sono.
- Não tá tendo febre. - Minha mãe estreita os olhos para o termômetro em suas mãos e então toca minha testa. - Vai querer ir pra escola?
- Naum. - Fecho os olhos e deixo que meus lábios formem um bico. Sinto minha mãe agarrar a ponta do edredom e subi-lo até que toque meu queixo.
- Vou fazer um chá pra você, e é pra tomar tudo. - Sua mão delicada acaricia meu rosto brevemente antes dela se levantar da beira da cama e sair do meu quarto.
Sim, eu estou doente. Ao que tudo indica foi alguma coisa que eu comi esses dias, já que estou com uma queimação chata no estômago e uma dorzinha de cabeça que vai e volta.
Passei a noite rolando pela cama sem conseguir dormir direito, indo ao banheiro para ver se vomitava algo e nada. Agora são seis da manhã e eu estou toda enrolada feito um tatu na minha cama, aumentando toda a história para minha mãe não me deixar ir para a escola hoje. Pelo visto funcionou, mas eu ainda estou doente, então não é como se eu estivesse mentindo.
Pego meu celular embaixo do travesseiro e envio uma mensagem para as duas insuportáveis no nosso grupo dizendo que vou faltar.
Noey: a primeira vitória do dia sem ter que ver a Rebecca
Rebecca: vai a merda
Gostosa: corona vairus
Eu ri um pouco disso, mas depois fiquei com medo.
Rebecca: meu deus apaga vagabunda
Gostosa: desculpa amiga, a gente vai te visitar dps da aula
Rebecca: ninguém pediu
Eu realmente pretendia ficar o dia deitada tendo uma crise existencial e pensando como minha vida era boa antes de ficar doente, era como eu sempre ficava toda vez que eu gripava, pensando como meu nariz era saudável antes de ficar entupido e eu não dava valor para ele.
Noey: a Freen vai com a gente
Rebecca: os portões da minha casa estão sempre abertos pra visita.
Noey: eu devia te dar um murro Rebecca
Dou risada, pois adoro irritar a Noey. Essa com certeza é uma das minhas atividades preferidas, mas é isso que sustenta a nossa amizade.
Mudando totalmente de assunto, como você já sabe, eu estou apaixonada pela senhorita lá, a tal da, Freen Sarocha. Portanto, eu penso nela 24 horas por dia feito uma doente (e estou realmente doente agora, então é literalmente feito uma doente), por isso não me chame de boiola por estar entrando agora na minha galeria de fotos do celular para olhar nossas fotos. Tenho ciência de que me tornei o que eu mais temia, mas por essa garota idiota que está tentando lamber o próprio cotovelo na foto que estou olhando agora, eu seria capaz de suportar muita coisa. Você vai ver.
Grande parte dessas fotos foi Noey quem tirou, onde na maioria Freen está fazendo alguma coisa bem Freen e eu estou olhando para ela como se ela fosse feita de ouro. Tem uma foto em que ela está tentando me beijar e eu estou rindo para a câmera, em outra eu estou tentando andar no skate dela na frente da escola e ela está me segurando pela mão, Irin aparece comprando uma rosquinha com um vendedor ambulante no fundo.
Tem uma que foi tirada na semana passada na saída do Mariá, onde eu estou esticando um espeto de churrasco na direção do rosto de Freen enquanto ela morde a carne do mesmo.