Juntas para o Natal 2 - Continuando...

Capítulo 1 - Os Marchione

Pequeninos flocos de gelo caiam se acumulando nos parapeitos das janelas, lá fora um frio de menos dois graus congelava as estruturas, dentro do casarão a calefação deixava tudo em uma temperatura morna e agradável.

A propriedade da família Marchione não era grande comparada a outras da região, Giuseppe Marchione havia adquirido o terreno em meados do século XVII, ali construiu um casarão para resguardar sua esposa e filhos. No terreno ao redor da construção, que detinha pouco mais de trinta mil metros quadrados, cultivou uvas Chenin Blanc para produção de vinhos, além de hortaliças, tubérculos e algumas frutas para consumo próprio.

Com os anos muitas gerações vieram, todas cuidaram da propriedade, bem como de suas produções. Atualmente a agricultura permanece, agregada a pecuária que foi somada a propriedade nos anos vinte, no entanto, em uma determinada geração alguns filhos foram estudar no grande centro do pais e voltaram dispostos a criar uma fábrica de pequenos carros, foi assim que os irmãos Giovanni e Gianni fundaram a pequena montadora de veículos ao sul de Turim. A empresa cresceu, passou a ter credibilidade perante a população da região, durante a segunda guerra recebeu incentivo do governo Italiano para produzir também trens, tratores e se aventurar na construção civil. Contudo Sergio o bisneto de Gianni, aos vinte anos beirando a conclusão da universidade decidiu com aval dos majoritários da empresa expandir o negócio para além da Itália e devido a muito esforço conseguiu com êxito realizar seu propósito tendo um apoio imenso de sua mãe Nicoletta Marchione, neta de Gianni.

Sergio se casou no auge de seus vinte e cinco anos com uma moça de família de renome da região de Torino, após o casamento se mudou com ela para o Brasil, - mais precisamente na região de Curitiba por conta do clima ser similar ao de Turim - pois tinha a intenção de abrir uma unidade da fábrica no país. Sergio teve dois filhos, a caçula intransigente Audrey e o mais velho Andrew, sem dúvidas uma versão copiosa, porém mais doce do pai. Marieta sua esposa, uma mulher belíssima, porém intragável, manipuladora e ardilosa, - detalhes que Sergio somente percebeu anos depois de casado - ficou gestante do mais velho enquanto ainda moravam no Brasil, a fábrica do pais estava a ponto de ser inaugurada quando o menino nasceu em casa na região rural metropolitana da cidade.

Andrew não teve lá uma infância muito fácil, sua mãe parecia não querer vínculos com ele, o tratava mal, manipulava o menino para que fizesse coisas que não eram certas para a sua idade, para depois culpa-lo, aliás, culpa era o que mais ela despejava no pobre menino, que não aguentando mais os tratos descabidos da mãe, passou a implorar para o pai que o deixasse morar em outro lugar.
Sergio tinha um apresso muito grande pelo Brasil, sabia que seu filho também gostava da propriedade que mantinham no sul, portanto ele achou por bem que para manter seu filho saudável, se mudariam para lá novamente, somente os dois, foi como um presente de aniversário para o menino, sua mãe até podia lhe ligar o dizendo centenas de coisas ruins, mas ele já não se sentia mais tão afetado devido à distância.

Andrew cresceu, seu pai lhe ensinou tudo sobre a empresa, como ser um administrador nato, um grande gestor e o mais importante um bom homem. Ele cursou administração com ênfase em gestão empresarial e mecânica quase ao mesmo tempo, aos vinte e três anos havia concluído ambos os cursos com méritos, passando a auxiliar mais ainda o pai na empresa montadora de porte internacional, que aos poucos foi ganhando braços aqui e ali inclusive na fórmula um, além de se tornar uma grande patrocinadora em muitas áreas.

Quando Andrew completou vinte seis anos seu pai ficou doente, o câncer o pegou de surpresa devido a uma dor aguda no estômago após um almoço de domingo, Sergio realizou muitos tratamentos, evasivos, alternativos, mas sua morte estava à espreita, ele tratou de começar a passar tudo que podia para o nome do filho, para que ele não tivesse que enfrentar um inventário ao lado da mãe, da irmã e alguns outros parentes.