Era notável que o único momento a qual eu poderia caminhar sem me preocupar com olhares assustados direcionados a mim, seria na madruga. Nesse horário, apenas o silencio faria minha companhia.
Fiquei surpresa ao perceber que as únicas pessoas que não demonstravam medo eram os moradores de rua, esses tive até a honra em conversar.
Houve uma vez que tive que correr, correr muito, já que um deles havia me pedido para que eu tirasse a vida dele, mas não poderia mata-lo, era difícil para mim ceifar a alma de alguém que agonizava, imagina então ceifar a alma de alguém que ainda possuía vida.
Pude sentir a tristeza que muitos carregavam consigo, já que eram tratados como invisíveis aos olhos dos outros.
Quando parei, estava em frente a uma casa de cor laranjada, essa possuía muro alto para que o cachorro não fugisse. Pude ouvir o latido frenético do cão, provavelmente assustado com minha presença. Estava na frente da casa de Dimitri.
— Joanny... — virei assim que ouvi sua voz.
A aparência de Dimitri estava cada vez mais acabada, suas olheiras se encontravam mais profundas. Fazia quanto tempo que ele não dormia?
— Dimitri... — sussurrei.
— O que faz em frente à minha casa? — quis saber.
Era uma bela pergunta que até mesmo eu me fazia.
— Estava apenas caminhando e acabei por fim aqui — respondi. Ele suspirou, parecia decepcionado. — Como você está? — perguntei e logo em seguida respondi minha própria pergunta. — Nada bem.
— Melhorando — respondeu.
— Há quanto tempo não dorme?
— Apenas dois dias — suspirou. — Mas andei...
Completei rapidamente o que ele dizia.
— Se drogando.
— Precisei substituir um vício por outro — Dimitri me olhava intensamente, como se ele mesmo estivesse aguentando firme para não me pegar em seus braços, não tocar em meus lábios, e para não me amar.
— Mas há outros meios para isso — informei.
Dimitri se aproximou tão rapidamente de mim que todo meu corpo paralisou, será que ele mal sabia do risco que corria? Eu podia sentir a respiração dele, sentia o perfume que emanava de sua pele. Estava lutando comigo mesma em minha mente. Uma parte de mim queria abraçá-lo, voltar a sentir sua pele roçando na minha, sentir novamente o gosto de sua boca, voltar a me sentir segura. A segurança que só Dimitri poderia me proporcionar e outra parte de mim, a minha parte sã, avisava que eu precisava ficar parada ou me afastar lentamente, e a qualquer movimento não pensado e calculado de meu corpo, Dimitri, a pessoa a qual eu amava poderia morrer.
Pude também observar as lagrimas surgindo dos olhos tristes e cansados de Dimitri e pela primeira vez há tanto tempo que eu o conhecia, ele chorou em minha frente, sabendo que eu estava o vendo, e mesmo assim, infelizmente eu não poderia nem ao menos abraça-lo.
— Então me diga minha bela Joanny, qual são os outros meios?
Porque ousei dizer a ele que havia outros meios se nem ao menos sabia.
— Não sei — sussurrei.
— Então mate-me — sugeriu.
Dei um salto para trás, quando reparei no movimento de Dimitri, quando tentou me tocar.
— Não ouse fazer isso novamente — avisei, dei as costas para ele, e sai correndo.
Mesmo distante eu podia ainda sentir os olhos dele me fitando.
A correria para me distanciar de Dimitri me levou para onde essa minha nova "vida" começou, a ponte Glinp. Peguei-me olhando a escuridão daquele riu, e no reflexo pude ver minha memória daquele dia em outro ângulo. Vi o carro em alta velocidade surgindo, quebrar o parapeito e afundar na água.
— Morte! — gritei — Por que você não me ajuda a achar quem você quer?
Meus olhos foram em direção a escuridão do céu, algumas nuvens começaram a se mover, formando-se um desenho de um crânio humano, depois uma voz masculina mais distante pode ser ouvida.
"Sei que está caminhando em minha direção, mas a farei se perder nesse caminho."
Um relâmpago iluminou o céu, fazendo com que a imagem que se formara desaparecesse.
Se o dono da voz era o bruxo a qual deveria encontrar, então eu estava fazendo as escolhas certas.
— Não me perderei! — gritei em resposta.
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Filha da Morte
FantasyCertos destinos não devem ser mudados, e Joanny descobre da pior forma. Destinada a morte, Joanny se vê tentada a aceitar as novas condições para voltar a vida, sem pensar no que isso poderia influenciar para si e para as pessoas a sua volta. Joanny...